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Desastres naturais Acre: convivendo com os riscos

Redução de Riscos de Desastres (RRD), Resiliência e Preparação são as palavras do momento quando se trata de eventos extremos, desastres naturais, proteção e defesa civil. Este artigo discute alguns conceitos que poderiam ajudar o leitor a lidar com esses aspectos.

Eventos extremos de chuva e seca sempre têm acontecido. Hoje em dia, eles estão sendo amplificados por mudanças na composição do ar e no uso da terra, principalmente o desmatamento. Sempre ligados a processos hidrometeorológicos intensos e severos, nos quais quando chove, chove demais e quando chove pouco, chove pouco demais, os desastres naturais assumem um papel frequente nos dias de hoje.

No Acre, os desastres naturais eclodem em inundações e incêndios florestais. Em especial, Rio Branco encontra-se em evidência no cenário nacional e por que não dizer mundial dos desastres.

Desde 2009, as enchentes na Capital do Estado têm ocorrido de forma rotineira, de ano em ano. Sem descanso e, muitas vezes, ainda em processo de recuperação e reconstrução dos danos ocasionados por eventos anteriores, no ano seguinte, as enchentes ocorrem novamente. Sem contar com grandes desastres que não podemos esquecer: as inundações históricas de 1988, 1997 e 2012.

É preciso esclarecer três aspectos importantes neste contexto: A ameaça, a vulnerabilidade e o risco.

A ameaça é a ocorrência de um evento adverso (chuva muito forte, tremor de terra, a existência de uma usina nuclear em um determinado local).

A vulnerabilidade é o grau de fragilidade de um determinado ambiente de receber essa ameaça e como ele vai se comportar diante dos seus efeitos.

Os riscos são representados pela medida dos impactos negativos que podem ser causados pelo evento adverso. Assim, a soma de ameaça com a vulnerabilidade ocasiona o risco de um desastre acontecer.

Acre é sortudo por ter somente poucas ameaças. Japão, por outro lado, tem ameaças no atacado: inundações por tempestades e maremotos, terremotos e acidentes nucleares.

Uma análise breve do Japão serve para ilustrar bem os três aspectos acima. Localizado em um ambiente geográfico denominado “Círculo de Fogo do Pacífico”, o país é geograficamente suscetível a ocorrência de maremotos, terremotos, tsunamis, sem contar os desastres de origem tecnológica, como é o caso dos eventos nucleares ocorridos.

No caso do Japão, a ameaça é constante. O que precisa ser manejado e bem manejado, são as vulnerabilidades, ou seja, a capacidade das pessoas de receberem os impactos do desastre, enfrentá-lo e recuperar-se. Em síntese, é preciso aprender a conviver com os riscos, tornando-se cada vez menos vulneráveis e, ao mesmo tempo, mais resilientes.

Esse comportamento não é somente válido para os japoneses. Vale para toda e qualquer sociedade que queira desenvolver a cultura de redução de riscos, aprendendo com os desastres ocorridos e ampliando sua capacidade de resiliência para os desastres que estão por vir.

No caso do risco de inundação do Rio Madeira afetando os processos logísticos transporte e suprimento de bens do sul do Brasil até o Acre, além de um plano de contingência para dar resposta a um evento dessa natureza, existem várias ações para reduzir as vulnerabilidades, tais como abastecimento alternativo de combustíveis via balsas de Manaus ou via caminhões vindo do Peru. Idem para alimentos.  Empresários, já ciente dos riscos, podem aumentar os seus estoques ficando assim mais resilientes a uma interrupção de transporte.

No nível individual, podemos reduzir a nossa vulnerabilidade, fazendo:  a) Ampliar nossa capacidade de percepção de riscos (conhecer o lugar onde vivemos e quais ameaças existem a nossa volta) b) Aprender com os desastres que nos atingiram (a cada desastre que sofremos, os impactos devem ser menores) c) Desenvolver a cultura de prevenção (reduzir vulnerabilidades) d) implementação de sistemas de monitoramento, alerta e alarme (saber quanto choveu, qual o nível do rio e qual a hora de sair de casa).

O indivíduo que amplia sua percepção de riscos, colabora coletivamente para a redução de desastres. Afinal, precisamos desenvolver melhor uma cultura de resiliência. A responsabilidade em reduzir os riscos de desastres não cabe somente ao poder público. Cabe ao indivíduo, enquanto cidadão pertencente ao ambiente social e cabe às comunidades. Cabe a todos nós.

Todos os dias, em maior ou em menor grau, convivemos com o risco, mas conviver com os riscos não significa aceitar o desastre. Significa saber que eles podem acontecer, que devemos nos preparar para eles. Quanto mais preparados estivermos, menores serão seus impactos.

* Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (Ufac). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Risco de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre.

**George Luiz Pereira Santos, Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre e Coordenador de Defesa Civil Municipal de Rio Branco, Acre.

A Gazeta do Acre: