A produção e o consumo de banana no Acre seguem as características do Brasil e do restante do mundo onde a fruta é cultivada, ou seja, bananas promovem a segurança alimentar e renda para milhares de pequenos produtores, garantindo fonte de nutrientes na alimentação da população mais carente. No entanto, a ocorrência de doenças em combinação com sistemas de produção inadequados, como má escolha de mudas e cultivares e problemas no manejo e tratos culturais, são ameaças para a cultura da banana no Acre.
A doença mais importante é a sigatoka-negra, que infecta as plantas em todas as fases de crescimento, inicia na folha ainda enrolada e depois atinge toda a folha com grandes manchas negras. Também ocorre nos frutos e diminui sua qualidade visual. Os principais prejuízos causados são a maturação e queda antecipada das folhas, o que reduz a capacidade de produção da planta.
A partir do diagnóstico da sigatoka-negra no Acre em 1998, os impactos econômicos causados por essa doença nos municípios do estado foram crescentes. A ocorrência da doença reduziu a produção, diminuiu a qualidade dos frutos e a vida útil dos plantios, e aumentou o custo de produção, principalmente pela necessidade de se fazer replantios constantes, uma vez que nas touceiras doentes as plantas não se desenvolvem.
Segundo trabalhos publicados pela Embrapa Acre, a produção total de banana do Estado caiu 47% no período de 2000-2001 e o valor da produção caiu 51% no ano de 2001, com repercussão nos diversos setores da cadeia produtiva. Como medida de controle algumas variedades resistentes de banana do tipo Prata foram recomendadas pela Embrapa Acre para cultivo no estado. No caso da banana Comprida, até o momento não existe essa recomendação e assim outros métodos de controle dessa doença precisam ser recomendados.
Em 2012, a equipe da Embrapa Acre iniciou a execução do projeto “Transferência de alternativas para a convivência com a sigatoka-negra em bananeira no Estado do Acre”, com o objetivo de reduzir a severidade da doença nas áreas de produção de banana Comprida. O projeto testa o controle químico da doença pela aplicação do fungicida flutriafol, o qual é depositado na axila da segunda folha da bananeira, de acordo com metodologia publicada pela Embrapa Amazônia Ocidental, num total de no máximo quatro aplicações do produto por ciclo. Os experimentos foram instalados em Acrelândia, Plácido de Castro e Senador Guiomard. Os resultados do projeto já são muito significativos na redução da intensidade da doença, melhoria da qualidade da produção e aumento na viabilidade dos plantios.
Produtores tradicionais de banana no Acre já adotaram essa tecnologia e estão muito satisfeitos com os resultados. Em Acrelândia, por exemplo, já são pelo menos 40 hectares de banana Comprida tratadas com o fungicida, plantios no segundo e terceiro ciclo de produção e com grande sucesso no aumento da produtividade no campo. Em Plácido de Castro, em cerca de 20 hectares cultivados com banana Comprida, a técnica já foi adotada e a colheita é aguardada com grande expectativa pelo produtor rural. Esses são dois exemplos da utilização da tecnologia no Estado, entretanto, uma das metas do projeto é quantificar a adoção da técnica pelos produtores no Acre. Em áreas menores de diferentes produtores o fungicida também está sendo utilizado no controle da sigatoka-negra, como na área do Projeto de Assentamento Granada e em outros grupos de produtores no município de Acrelândia e Senador Guiomard.
De acordo com o relato dos produtores, o investimento feito na adoção da tecnologia é muito compensador, pois observam aumento da produtividade e do tamanho e peso dos cachos bem como a melhoria da qualidade dos frutos. O ganho na sanidade das plantas com o tratamento tem ainda como consequência aumento do vigor dos perfilhos e da viabilidade da cultura, o que reduz a necessidade do replantio e os custos com mão de obra. Os produtores estão ampliando suas áreas de plantio por perceberem a eficiência do controle químico da sigatoka-negra e também pela elevação na demanda de frutos de banana Comprida no Acre e em outros estados, como o Amazonas.
No campo o que se observa, até o presente momento com os resultados do projeto, é uma significativa redução da severidade da doença nas áreas tratadas, com o crescente interesse dos produtores acrianos na adoção da tecnologia, como uma forma de ganho na sua renda, pelo aumento da produção e da qualidade dos frutos produzidos.
Os resultados do projeto repercutiram também no comércio de produtos agropecuários, que passou a adquirir o fungicida para sua comercialização. O impacto positivo dos resultados com o desenvolvimento do projeto tende a ser ainda mais significativo no agronegócio acreano, via geração de renda em toda a cadeia produtiva da banana no Estado.
* Sônia Regina Nogueira, engenheira-agrônoma, D.Sc. em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Acre, [email protected]