Dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2014 indicam que 10,8% dos brasileiros mantêm o hábito de fumar. Os números, divulgados pelo Ministério da Saúde, representam uma queda de 30,7% no total de fumantes no país nos últimos nove anos.
Em Rio Branco, a prevalência de tabagismo em adultos maiores de 18 anos hoje é de 9,7%. Em relação ao ano de 2006, em que a prevalência era de 21,2%, houve uma significativa redução. Porém, a Capital ainda possui o maior número de fumantes da região Norte. Logo após Rio Branco está Boa Vista/RR, com 9,3%, seguido de Manaus/AM com 8,3% e Porto Velho/RO com 7,9%.
Os números divulgados são ainda menos satisfatórios se comparados à pesquisa anterior, realizada de 2006 a 2013. Nesse período, Rio Branco apresentou uma redução de 52% à prevalência de tabagismo em adultos.
A pesquisa realizada pela Vigitel ouviu cerca de 23 mil brasileiros maiores de 18 anos e que vivem nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Para a responsável técnica da coordenação de tabagismo, Silene Nunes, o principal motivo para a redução do número de fumantes são as ações de conscientização. “Em 2005, Rio Branco aderiu ao trabalho de conscientização. Esses números são reflexos de todas essas ações realizadas pelo governo. Além disso, a Lei Antifumo também influenciou na redução”, explicou.
Segundo Nunes, o número de fumantes passivos aumentou. Os fumantes passivos são aqueles indivíduos que estão frequentemente expostos à fumaça de cigarro, seja de familiares, amigos ou colegas de trabalho. “Já estamos com novos projetos de conscientização. Vamos intensificar as campanhas também voltadas para esse público”, disse.
Venda de cigarros também enfraquece
Com o número de fumantes reduzido, a procura por cigarros nos comércios, tabacarias e pequenas tabernas também diminuiu. Além de outros fatores, o valor do imposto cobrado sobre o produto é um forte aliado para a redução do número de fumantes. Para quem fuma, o aumento dos preços pesa no bolso e no orçamento no final do mês.
O comerciante Saulo Negreiros, de 55 anos, trabalha com venda de cigarros há 25 anos. E é categórico ao afirmar que nunca os impostos foram tão abusivos. “Hoje eu não vendo 10% do que eu vendia há 20 anos atrás. Eu ‘tô’ pagando para trabalhar. Não aguento pagar tanto imposto”, disse.
Negreiros destaca que além dos impostos, as campanhas de conscientização realizadas pelo governo são responsáveis pela diminuição do número de fumantes. “A lei que proíbe fumar em locais fechados, as campanhas do governo e também a conscientização da população. Há 20 anos eu vendia R$ 50 mil por semana, hoje, vendo aproximadamente R$ 10 mil”, ressaltou.
O comerciante explicou que a procura por cigarros no seu estabelecimento é principalmente do público adulto, acima dos 40 anos. “Os jovens procuram pouco”, comentou.
Para Negreiros, a indústria do tabaco corre risco de ser extinta. “A tendência da indústria do tabaco é acabar. Acho que daqui uns 10 anos eles têm que procurar outro ramo. Se eles não têm pra quem vender, eles também não plantam. O tabaco pode ser extinto”, justificou o comerciante.
“Depois que eu deixei de fumar tudo melhorou”, diz ex-fumante
Durante 22 anos, a professora Renilde Anastácio e o cigarro faziam uma dupla quase ‘inseparável’. O vício começou pouco depois da sua saída do convento, aos 25 anos. Hoje, aos 55 anos, Renilde parou de fumar há três anos, e mostra que é possível deixar o vício apenas com força de vontade.
A professora conta que nunca chegou a fumar uma carteira de cigarros por dia, mas com o passar do tempo, o número de cigarros diários aumentou. “Uma carteira durava três dias. Por fim, eu já fumava bastante, chegava a fumar 10 cigarros por dia. Eu tinha muita vontade de para de fumar”, disse.
Renilde fala que apesar do vício, ela achava incômodo fumar próximo de outras pessoas. “Não fumava na rua, eu fumava no cantinho, bem afastada das pessoas, porque eu achava muito antissocial e fedido. Sempre achei muito feio as pessoas fumarem em público”, contou.
Por diversas vezes, a professora prometia para si mesma que aquele cigarro seria o último. Mas, no dia seguinte, o inverso acontecia, além de não ser o último, a quantidade aumentava. Certo dia, Renilde passou muito mal e foi às pressas para o hospital. “Peguei uma gripe muito forte, fui para o Pronto-Unimed, chegando lá, tive uma crise de tosse muito forte, quase fiquei sem fôlego. E lá, fiz um propósito com Deus, a partir daí parei de fumar. Às vezes vinha a vontade sim, mas eu dizia não. Graças a Deus não foi preciso eu tomar nenhuma medicação”, explicou.
O custo mensal com o vício era alto, Renilde sentiu logo no primeiro mês a diferença no orçamento final da família. Para ela, além da economia, a sua qualidade de vida melhorou muito. “Houve uma grande diferença na minha vida, principalmente em relação a minha saúde, eu consigo caminhar melhor, antes eu era muito cansada. Eu sofria de insônia e ansiedade. Antes eu achava que o cigarro tirava minha ansiedade, mas era o contrário. Minha qualidade de vida melhorou bastante”, destacou a professora.
A professora que sofre de diabetes, explicou que já estava apresentando complicações em decorrência do cigarro. Ela deixa um recado para quem nunca fumou: “Quem nunca pensou em fumar, que nunca pense. É muito ruim e prejudicial à saúde. Quando estamos fumando não sentimos, acreditamos que não faz mal, só quem passa por essa situação é que sabe”, finalizou.