Qualquer pessoa, com um mínimo de bom senso pode constatar que os nossos jovens são um portal para as mais cruéis maquinações do mundo do crime. Hoje, as casas de “recuperação” estão repletas de crianças, adolescentes e jovens, que inegavelmente cometeram delitos hediondos e que já experimentam no inicio da vida, a mais vil degradação humana.
No Brasil, infelizmente essa é a “praia” da maioria dos jovens dos nossos dias. Jovens que vivem num contexto social tão cheio de males, de lutas, e constantemente vivendo sob densas nuvens de caos total, com seus problemas de super população, vídeobobismo, crime organizado e desorganizado, racismo, drogas em abundância, crises econômicas, guerras institucionais, pobreza e fome generalizadas e atos de terrorismo covardes. Jovens escravos de sistemas e ideias heterogêneas em que se confunde quase tudo, inclusive, “alhos com bugalhos”.
Num mundo assim, nada mais confortador do que enaltecer a vida de uma brasileirinha de 15 anos de idade, com compleição física tão pequena (1.35m de altura e pesando apenas 32 kg). Estou falando de Flávia Saraiva, ou “Flavinha” como carinhosamente é chamada, que conquistou nesta semana medalha de bronze na modalidade individual da ginástica artística dos Jogos Pan-Americanos de Toronto.
Flavinha competiu com 20 outras ginastas, Daniele Hipólito, inclusive. Lá estavam, a canadense Ellie Black (medalha de ouro) e a americana Madison Desch, medalha de prata.
Foi emocionante ver a destreza da Flavinha nas barras assimétricas e na trave, onde o grau de dificuldade foi desafiador, notadamente nas assimétricas, em que cometeu um erro que quase a derrubou. Aqui, foi notória a força mental desta jovenzinha, pois se concentrou e retomou o equilíbrio, completando a prova de forma brilhante. Raro exemplo, nesta competição, de disciplina e persistência.
A convicção mental da Flavinha, de concluir a prova, me faz lembrar uma assertiva atribuída ao filósofo ateniense Aristóteles: “Aquele que quiser ser um vencedor terá de ordenar os pensamentos, pois aquele que ordena os pensamentos é sábio”.
Flavinha, agora um ícone da ginástica artística, passar a ser, para muitos jovens de sua geração, uma inspiração de vida, pois está bem à frente, anos luz mesmo, do jovem indisciplinado brasileiro que se atira afoitamente às primeiras atividades que lhe vêm às mãos ou lhe atraem as preferências. Geração voadora e superficial que quer tudo e nada quer, uma vez\ que é, repito, desregrada.
Uma boa lição que aprendemos com Flavinha, é a valorização da sua conquista. Ganhar uma medalha de BRONZE à luz da ótica dos meios de comunicação midiática que só pensa na idiotice de ser “melhor do mundo” não tem significado algum. Entretanto, para Flavinha essa medalha representa o símbolo da sua persistência; O feito é a marca da grandeza de homens e mulheres que fizeram história em diferentes áreas da atividade humana. O terceiro lugar, entre campeãs de olhos verdes e azulados, é o ápice de uma jovem, ainda criança, que se afirma diante de um mundo que só privilegia os mais fortes. A conquista traz ainda em seu bojo, uma lição de humildade. No pódio, a alegria de Flavinha é contagiante; bem diferente dos badalados jogadores de futebol, p.ex., da Argentina, na Copa América, que menosprezaram a medalha de prata, num acinte aos demais competidores, especialmente à seleção e ao público chileno.
Digno de menção, ainda é o carisma desta atleta. Fascinou e emocionou não somente este velho e entediado escrevinhador, mas empolgou a torcida em Toronto e, por extensão mundo dos jogos olímpicos. Grande Flavinha. Uma vida inspiradora.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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