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Há divergências do uso de celulares em sala de aula

* Existem muitas divergências a respeito dos pontos positivos e negativos acerca do uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula

Utilização de equipamentos pelos jovens da escola podem estar com os dias contados. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

MARCELA JANSEN

Um dos principais problemas enfrentados atualmente pelos educadores, diz respeito ao uso de celulares em sala de aula. Levando em consideração que mais de 270 milhões de celulares circulam em todo o país, segundo dados da Anatel, esse é um problema que está no fim.

Com tecnologias e recursos cada vez mais avançados, que surge a cada modelo lançado no mercado, como internet móvel, acesso as redes sociais, aplicativos atrativos e uma infinidades de outros recursos, os celulares atraem cada vez mais a atenção dos alunos em sala de aula tirando o foco do aprendizado.

Há quem defenda que a atitude mais correta de um aluno que vai à sala de aula para aprender é desligar o celular ou colocar no modo silencioso e evitar ficar saindo da sala de aula para atender ou fazer ligações.

Claro que existem situações que são justificáveis, como no caso de um aluno que esteja com um parente hospitalizado e aguardando informações sobre o estado de saúde do parente.

Mas, esse problema do uso de celulares em sala de aula já vem sendo resolvido. No Brasil, alguns estados proíbem o uso de aparelhos em sala de aula, através de lei estadual e municipal. As punições para o descumprimento das referidas leis são administrativas e geralmente ficam a cargo de cada estabelecimento de ensino.

Os tipos de punições administrativas também variam muito, de acordo com cada norma e reincidência, mas geralmente são: Advertência para o aluno e seu responsável, suspensão do aluno, apreensão do aparelho e tem legislação que prever até multa.

Mas o problema é tão sério assim para chegar ao ponto de ser preciso criar leis proibindo o uso dos celulares em sala de aula? Ou somente uma campanha educativa resolveria esse problema?

Com a finalidade de dar uma solução a esse impasse é que o deputado Jesus Sérgio (PDT) apresentou à mesa diretora da Assembleia Legislativa (Aleac) um projeto de lei que regulamenta a utilização de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos nas salas de aulas, bibliotecas e outros espaços de estudos das instituições de ensino públicas e particulares no Estado.

Segundo o deputado o intuito do projeto é preservar a essência do ambiente pedagógico que, segundo ele, está comprometida devido ao uso desordenado dos aparelhos nas salas de aula.

“Os aparelhos eletrônicos estão cada vez mais modernos e acessíveis à população e os jovens são os que mais utilizam, mas quando o assunto é sala de aula, é preciso impor limites. Hoje, tem sido comum nas escolas os professores interromperem suas aulas para pedir ao aluno guardar o celular ou outro aparelho, e às vezes para que ele se retire da sala. E neste caso, o professor não tem que ceder, exceto se for algo urgente”, alegou o parlamentar.

Para o autor do projeto, o uso desses aparelhos tem se tornado barreira no processo de aprendizado. “O uso de equipamentos eletrônicos portáteis no âmbito escolar têm se tornado um obstáculo para o processo de aprendizagem, pois, prejudica a concentração do educando refletindo de forma negativa no rendimento escolar, já que o mesmo tira a atenção do conteúdo ministrado na sala de aula”, frisou Jesus Sérgio.

Ele destaca ser a favor ao uso da tecnologia como ferramenta de apoio às atividades didáticas pedagógicas, porém, defende que seja utilizado mediante prévia autorização do professor ou responsável pela sala de aula.

“O acesso à internet, através desses aparelhos, possibilita a navegação nas redes sociais durante os períodos de aula, o que acaba por prejudicar o desempenho do aluno uma vez que ele está mais preocupado com isso do que em prestar atenção no conteúdo dado pelo professor”, ressaltou o deputado.

Para Jesus Sérgio, o ideal é que os celulares e aparelhos digitais permaneçam desligados enquanto o aluno estiver nas dependências da escola. “Sou a favor de que o aparelho fique desligado enquanto o aluno ainda estiver na escola. Ali é um local de aprendizado, portanto, tudo o que tem o condão de tirar a atenção do aluno, para mim, deve ser retirado”, disse.

Jenilson Leite propõe amplo debate antes de projeto ser apreciado na Aleac

MARCELA JANSEN

Proibir o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula é um assunto que diverge opinião de professores, diretores de escolas, especialistas em educação e, principalmente, alunos.

Se por um lado o aparelho pode ser um instrumento importante dentro do conteúdo lecionado, o que seria um reforço no aprendizado, por outro, ele pode gerar incômodo durante as aulas devido o seu uso, quase sempre utilizado pelos alunos para enviar mensagens, fotos e até ouvir música durante as aulas.

A fim de encontrar um meio termo em torno do assunto, o deputado Jenilson Lopes (PCdoB), sugeriu a criação de uma comissão para debater a proposta apresentada pelo colega de parlamento, Jesus Sérgio.

“Acredito ser importante, antes de o projeto ser votado no plenário da Aleac, que sejam realizadas visitas às escolas para dialogar com diretores, professores e até mesmo com os alunos quanto a esta possibilidade. Precisamos ter noção qual impacto essa decisão irá causar na nossa sociedade”, afirmou.

Ele destaca que embora a maioria dos educadores defenda a proibição do uso desses equipamentos, acredita que o debate seja essencial.

Professores declaram guerra contra a utilização de celular em sala de aula

TEXTO: BRUNA LOPES

FOTOS: ODAIR LEAL

Imagine a cena. Professor se esforça para dar uma aula interessante, os alunos tentam prestar atenção até que o celular de um deles toca pela chegada de uma mensagem do Whatsapp. A concentração já era e a paciência do professor também. Agora imagine essa interrupção acontecendo ao mesmo tempo entre os alunos. Que qualidade terá esse aprendizado?

Com o boom da internet e das redes sociais, cada vez mais cedo as crianças possuem aparelhos eletrônicos que em sua maioria são utilizados para bater papo com os amigos virtuais e acessar o Facebook ou Instagram. Quando poderia ser utilizado como ferramenta na aprendizagem.

Ao perceber que a utilização do celular mais atrapalhava que ajudava, algumas escolas precisaram proibir o aparelho durante as aulas. Em caso de desobediência, o celular é recolhido junto a direção e só entregue após conversa com os pais.

Os alunos não gostaram, alguns pais se mostram resistentes a determinação e os professores voltaram a ter o mínimo de paz durante seu ofício.

“Essa foi a única saída encontrada para que as aulas pudessem fluir normalmente. Mas, ainda assim, percebemos que os alunos ficam ansiosos pelo fim da aula para voltar a ficar conectados. Muitas vezes, o que eles menos fazem são ligações. Para eles, o que importa é a internet”, falou a diretora da escola Neutel Maia, Rosely Quintela.

A escola atende alunos do 6º ao 9º ano. E não é difícil encontrar uma criança atenta a tela do aparelho ou com fones de ouvidos. “São pouquíssimos os alunos que não possuem celular. É uma raridade!”, confirmou a diretora.

A coordenadora de ensino do Neutel Maia, Alcilene Viana, acredita que os alunos por serem muito novos ainda não possuem maturidade suficiente para entender que o celular pode sim ser usado como ferramenta de aprendizado.

“Houve até tentativas de incluir a internet e suas facilidades através do telefone em algumas disciplinas como ferramenta metodológica, mas, os alunos acabavam aproveitando a oportunidade para trocar mensagens instantâneas. Depois de um tempo, o professor suspendeu de vez a utilização do aparelho”, confirmou a coordenadora.

Escola João Calvino proíbe qualquer dispositivo que perturbe o ambiente escolar

Após o cumprimento da proibição na escola, direção percebeu melhora nas notas dos alunos

O diretor da escola João Calvino, Romário Ney, ressalta que a utilização de aparelhos eletrônicos como tablet´s, celulares, tocadores de músicas e outros dispositivos eletrônicos que perturbam o ambiente escolar e o aprendizado são proibidos na sala de aula.

A determinação está sendo executada com mais rigor este ano e segundo o diretor os resultados são extremamente positivos. “Em comparação com as notas médias do ano passado, este ano os alunos já estão apresentando uma melhora significativa”, apontou Romário.

Em linhas gerais, o diretor confirma que os alunos tem entendido e aceitado a proibição. “Para os que tentam burla a determinação, em sala de aula, o professor adverte verbalmente, se ocorrer reincidência, o caso é levado para a direção que comunica os pais”, explicou Romário.

O diretor da escola que atende alunos no ensino médio ressalta a importância e a necessidade da aprovação de uma lei que faça a restrição dos celulares em sala de aula. Atualmente a escola atende 780 alunos.

A coordenadora de ensino, Rosana Fernandes, destacou uma experiência bastante interessante feita na disciplina de inglês, através de um aplicativo. “Nele os alunos tinham todas as aulas e uma espécie de dicionário que tornavam a aula mais atrativa para eles”, confirmou.

Romário Ney ressalta que é necessário um trabalho de conscientização com os alunos, para que num futuro muito próximo, eles tenham maturidade para utilizar essas ferramentas tecnológicas no aprendizado.

Rosana Fernandes lembrou que a proibição trouxe outros benefícios além do aumento das notas. “Acabamos também com um problema sério, de alunos que tentavam expor os colegas nas redes sociais”, confirmou.

Alunos concordam com a proibição do celular em aula
“Meus pais pegam no meu pé, por causa do celular, quando deixo de fazer alguma refeição ou quando tiro notas baixas. E concordo que dentro da sala de aula o uso do celular seja proibido, mas acredito que o desempenho escolar dependa apenas do aluno”, explicou o jovem Eduardo Souza, 17 anos. Na sala de aula, talvez seja o único lugar que o adolescente deixe o celular na bolsa.

Matheus Ricardo, 16 anos, confirma que a internet através do celular pode auxiliar muito durante a realização de alguma atividade em sala de aula, por meio de pesquisas. “O desempenho do aluno com ou sem celular vai depender do foco que ele tenha. Por isso, acredito que existem formas de conciliar a utilização do celular e o aprendizado, como por exemplo, dá para usar como calculadora, dicionário e pesquisas em geral”, explicou.

Já o jovem Elias de Souza, 17 anos, explica que além das funções que podem ser usadas em sala de aula, o celular serve para tirar fotos, acessar as redes sociais e interagir com os amigos por meio das mensagens eletrônicas.

“Acredito também que a proibição tenha que servir para os professores. Em um determinado dia, o celular do professor durante a aula. Ficou um clima estranho. Perdemos a concentração da aula”, lembrou o jovem.

É inegável que o comportamento do ser humano está mudando com o advento das novas formas de comunicação. Hoje em dia, é fácil encontrar um grupo de jovens totalmente conectados ao celular. Interação pessoal é quase zero.

“Orientação sobre uso do celular deve vir de casa”, alerta diretor de escola
Seguindo o pensamento do filósofo, educador e professor Mário Sergio Cortella de que a escola escolariza e a família educa, o diretor da escola Romário Ney, acredita que a orientação sobre o uso do celular na escola deve vir de casa.

“Nós temos um regimento em que onde se trata com clareza sobre o assunto. As determinações são passadas para os pais no início do ano. A escola não deveria estar lembrando o aluno do que é ensinado em casa”, destacou.

Para Cortella, as famílias estão confundindo escolarização com educação. O professor alerta que os pais devem retomar o seu papel.

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