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Anomia perigosa!

A “anomia” é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante a normas e valores. O termo  nos remete para uma circunstância social desprovida de leis e regras. Aplica-se também a uma condição anárquica e perda de identidade. Reflete, entre outras definições, uma total falta de objetividade ou objetivos definidos, que instala a desordem, e que pode terminar num caos completo. Em algumas repúblicas, termina em golpe de Estado.

No dia 23 de setembro deste ano, o Jornal do Brasil usou este termo em repúdio aos tais “arrastões” protagonizados por moleques, sem freios, numa famosa praia do Rio de Janeiro. A propósito de protagonizar, o Brasil de hoje não protagoniza, mundo afora, absolutamente nada. Até mesmo o futebol, tão decantado, perdeu a aura, trazendo vexame em cima de vexame, caso específico da Seleção do Dunga.

Mas, onde a “anomia” se faz mais presente e por que é perigosa?

Morte por acidente ou proposital, no trânsito, por exemplo, não dá em nada por aqui. Nesta semana, uma dona completamente mamada, atropelou e levou à morte duas pessoas. Foi presa em flagrante, pagou uma fiança e foi para casa, provavelmente, encher novamente a cara, agora para esquecer o fato terrível. Fatos e exemplos como este se multiplicam entre nós, deixando um sentimento de total impunidade.

Outro exemplo de “anomia” é o sistema carcerário, ou penal, e suas constantes rebeliões, pois é um reflexo da desordem social, que só é cuidada pelos responsáveis pelo aspecto do substrato econômico, com profundas repercussões negativas no corpo social.

Outra situação insustentável, mesmo amparada por lei, são essas greves, tanto do setor público quanto do privado, que surgem dos quatro cantos da nação. Onde se escondeu o diálogo?  O que fazem os sindicatos, em longo ano, que não buscam resolver esse imbróglio? Imbróglio de confusão, não de peça teatral de enredo complicado. Que democracia é esta que para se conseguir direitos adquiridos, o servidor, especialmente o público, precisa RADICALIZAR? E a sociedade, em geral, não conta?

Somam-se a estes, e tantos outros, o problema da violência urbana, de graves e lamentáveis consequên-cias sociais. Situação que faz fenecer no nosso interior aquela ideia, oriunda do Iluminismo, em que se acreditava que a idade da superstição e da barbárie estava a ser progressivamente substituída pela ciência e pela razão, atribuindo-se à história uma linha evolutiva de caráter moral.  Hoje, literalmente hoje, é um triste engano, pois nem mesmo aquela “educação” moral de inculcar nas pessoas o medo às consequências da não observância da lei, não surte mais efeito.

O ápice dessas “anomias”, a mais perigosa para um País de regime republicano, é a desmoralização política. O momento é tão instável que jornais centenários, com linha editorial embasada no fortalecimento da democracia, têm aberto espaço para que as Forças Armadas manifestem, democraticamente, suas opiniões. A entrevista com General de Exército Antônio Hamilton  M. Mourão, Comandante Militar do Sul, feita pela TV Pampa, passou 24 horas como destaque no Jornal do Brasil.  Há muita gente querendo saber, o que pensam os Generais, do atual e crítico momento político brasileiro.

Digno de menção é constatar que a crítica internacional reage positivamente e passa a dar crédito a justiça brasileira. Os quadrantes do mundo começam a acreditar nas nossas leis. É evidente que pela condução das operações Lava-Jato, em que homens “poderosos” estão presos.  A extradição do Pizzolato, para cumprir pena no Brasil, é uma confirmação desse crédito.

Então, há uma esperança de que essa desordem, ou anomias sociais, ou o enfraquecimento das normas da nossa sociedade, diria Durkheim, sejam contidas pela postura da Justiça brasileira. Óbvio, que existe muito que debelar, pois este é um país de dimensões continentais, com mais de 200 milhões de pessoas, em que a maioria vive a revelia das leis. No entanto, essa é uma tarefa difícil, devido aos enganos e os desvios dos “modelos políticos” próprios da essência democrática. Nunca é demais lembrar, que a fragilidade  faz parte  da natureza  democrática.

O principal perigo advindos dessas anomias, reza um bom texto de filosofia, é a emergência do totalitarismo, representado nos grupos que sucumbem à sedução do absoluto e desejam restabelecer a “ordem” e a hierarquia.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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