Na minha ótica estrábica a data alusiva ao Dia da Criança deveria servir para discutir amplamente a triste realidade para a qual caminha, salvo uma minoria, a nossa meninada. Contudo o que se vê é a expectativa e a tônica do evento aquecer o mercado. “Mercado” que nos coloca, a nós todos, moços e velhos, no mesmo saco da inutilidade; pois, nessa diversidade social globalizada, não sabemos mais o que é melhor para nós. O “mercado” ufano é que nos diz o que devemos comer beber, vestir, estudar, etc. É a globalização do vulgar e do medíocre.
Quando o assunto envolve as crianças brasileiras, é notório e público que elas estão estigmatizadas ou marcadas, na essência, por uma crueldade que não tem limites. Não estou aqui falando das crianças que vivem em lares estruturados, com pais responsáveis, comprometidos com a educação, a saúde e o crescimento equilibrado de seus filhos. Refiro-me às crianças que estão inseridas num contexto familiar miserável; sobrevivendo à margem da vida, sacrificadas pelas desigualdades sociais, fruto, também, duma sociedade míope e arrogante em todas as suas manifestações, quando se trata de proteger e defender os sem defesa. Crianças, que estão sendo vítimas da cultura do “ficar”. Essa “onda perversa” produto da tal diversidade social globalizada, tem arrastado a maioria das nossas crianças, meninos e meninas, ainda em tenra idade entre 9 a 14 anos, talvez mais ou menos, experimentar uma realidade sexual própria de adultos. Revelando, portanto, no dia-a-dia, a violência a que são submetidos seus corpos juvenis. A propósito, no campo do abuso sexual contra crianças, a estatística é alarmante e estarrecedora: a cada 8 minutos, uma criança é violentada no Brasil.
Tenho repetido, enfadonha e exaustivamente, que na hipótese de a sociedade em geral não tomar cuidados em relação às nossas crianças, criando projetos da mais ampla pesquisa sobre o assunto, o resultado será amargo em demasia. A situação exige, sem estardalhaços, que voltemos a semear bons propósitos nos corações das crianças, pois a safra de miséria, que estamos colhendo agora é o resultado da semeadura, no curso dos últimos decênios, da tão apregoada “diversidade social globalizada” de que a moralidade é relativa. Esta “diversidade social globalizada” traz em seu bojo, sem falso moralismo, todos os ingredientes pornográficos que afrontam os bons costumes ainda necessários na condução de famílias ajustadas socialmente.
Então, bom seria que, neste Dia da Criança, os homens e mulheres do “poder” se voltassem para essa realidade brutal em que vivem milhares de crianças e adolescentes. Cito como exemplo a região central de São Paulo. Na comunidade Cracolândia há atualmente cerca 1.200 crianças e adolescentes viciadas em crack. Outras dezenas vivem com seus pais “viciados” ou dependentes químicos, em quartos dos “hotéis” alugados pela Prefeitura da Capital Paulista. Li que, estes “hotéis” acumulam sujeira, há ratos em abundância e seus corredores estão sem iluminação. Uma crueldade do poder público!
Infelizmente, mesmo com essa realidade calamitosa, não se vislumbra por parte principalmente do governo, saída digna para essa situação. O que se vê, especialmente no dia da criança, é “N” instituições, governamentais inclusive, querendo reparar, num só dia, a desgraça eterna desses infantis. É muita demagogia! Aliás, como quase tudo no País dos ilícitos!
Esta reflexão chama a atenção de homens e mulheres de bem, que se indignam com as injustiças sofridas, inconscientemente, pelos milhares de crianças brasileiras. Crianças estigmatizadas pela crueldade. Vítimas das investidas criminosas, produto de um sistema iníquo que só pode ter sua origem no inferno, visto que, nestes novos tempos, as crianças são alvos principais de toda sorte de perversidades já vistas abaixo do firmamento.
O que se requer e se exige, quando o assunto é preservar a integridade moral, intelectual e física da criança, é que tenhamos programas, venham de onde vier que resgatem a essas quase inditosas, o direito de viver dignamente a fase mais bela da vida humana. Ser criança; estudar, viver e usufruir dessa condição de ser criança, é tudo o que elas precisam!
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br