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A melhor idade

Envelhecer com saúde é resultado de uma vida inteira regrada

Hidroginástica, dança e até mountain bike, a determinação não tem idade. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Quem nunca escutou conselhos como “não fume”, “coma frutas e saladas”, “pratique exercícios físicos” ou “evite bebidas alcoólicas”? Sem dúvidas, você já escutou algum desses conselhos. E são esses hábitos saudáveis que vão proporcionar uma velhice com mais tranquilidade e sem tantas dificuldades. Segundo o médico Marcelo Grando, especialista em geriatria, outros fatores genéticos também influenciam na saúde da terceira idade.

Além de fatores genéticos como diabetes, hipertensão, e históricos de doenças, outro fator influencia diretamente no envelhecimento com saúde, a obesidade. “Esse é um fator predisponente para você envelhecer mal, porque, com o passar do tempo, a estrutura física tende a desgastar naturalmente. E se você sobrecarrega essas articulações, você tem mais dores”, exemplifica Grando.

Durante a juventude, a associação entre não se cuidar e ter problemas de saúde na terceira idade parece distante, mas se parar para analisar, o tempo voa e, consequentemente, a idade chega. Manter hábitos saudáveis como alimentação regrada e realizar atividades físicas é indispensável para um envelhecimento saudável.

“Se você consegue ter todo esse histórico preservado ou evitado em alguns casos, você terá consequentemente um envelhecimento saudável. Infelizmente, não é isso que acontece. Hoje, os nossos idosos têm uma estrutura de vida que foi ruim no passado. Talvez, nós jovens agora seremos velhinhos melhores”, disse o especialista.

Doenças comuns depois dos 60

Médico especialista em geriatria, Marcelo Grando. (Foto: Bruna Mello/ A GAZETA)

De acordo com o médico, as doenças mais comuns a se desenvolverem com a idade são as doenças cardiovasculares. “Estamos falando isso, sem pensar em hábitos tóxicos. As principais são: a hipertensão, as doenças do coração e as doenças do sistema nervoso central (AVC’S e doenças degenerativas)”, completa.

O médico explica que o Alzheimer, por exemplo, é a doença degenerativa mais comum entre os idosos. Segundo ele, cerca de 65% dos pacientes são portadores da demência por doença de Alzheimer, até os 80 anos de idade. “Ela é mais frequente após os 60 e antes dos 80. Depois dos 80 essa estatística tende a aumentar”, afirma.

Qual o papel da família?
Com o passar dos anos, os filhos crescem, se casam, saem de casa e, aos poucos, a casa vai esvaziando. Situações de abandono de idosos são frequentes, além de exploração financeira e outros casos. Contudo, é durante a velhice que a presença da família é essencial. É nesse momento da vida em que as pessoas mais se sentem sozinhas e sem utilidade.

O especialista em geriatria explica que a estrutura familiar é indispensável. “A família assume um papel de gerenciar praticamente toda a vida do paciente. Mas, esse gerenciamento depende de muita boa vontade da família, que muitas vezes não existe. Hoje, falamos na geriatria em insuficiência familiar, hoje não há um compromisso em alguns casos, da família”, esclarece.

Grando diz que quando se tem em casa um idoso doente, independente da enfermidade, o paciente, muitas vezes, fica restrito ao leito de hospital ou a sua casa. “É preciso dar banho nele, vesti-lo, trazê-lo para sala para assistir TV com a família. É preciso manter o mínimo de socialização. Se você não consegue isso, isso piora a situação do idoso”.

Embora os cuidados e atenção sejam indispensáveis, a correria do dia-a-dia dificulta a rotina com a família. “É complicado ter um idoso em casa. Muitas vezes, eles ficam nas mãos de cuidadores, que nem sempre estão aptos a cuidar deles. Realmente, às vezes, hoje, falta tempo e espaço para as pessoas de boa vontade fazerem isso”, questiona Grando.

Características do envelhecimento
Com o passar dos anos, as mudanças no seu corpo, coração, sistema nervoso, pele, ossos, cartilagem, e etc, são inevitáveis. Depois dos 60 anos de idade, os primeiros sinais de envelhecimento do corpo vão aparecendo. Grando destaca que a aparência física é a principal característica da velhice.

“Nós começamos a perder a elasticidade da pele, o movimento começa a ficar mais lento, a resistência física diminui, a pele se torna um pouco mais seca, mais áspera. O cabelo não tem a mesma vitalidade, se torna mais quebradiço, mais seco, muda a cor. Com o tempo, as famosas rugas aparecem. Tendenciosamente, o paciente terá a locomoção mais lenta, ele se tornará menos flexível. Esses são alguns sinais de envelhecimento que você consegue visualizar”, descreve o médico.

“A vida precisa de movimento o tempo todo”, diz o especialista

Ter hábitos saudáveis contribuem com a qualidade de vida. (FOTO: ODAIR LEAL/AGAZETA)

Por fim, Grando faz recomendações para as pessoas que estão entrando na terceira idade, e ainda não sabem como lidar com a nova fase. “A vida precisa de movimento o tempo todo. Quando digo movimento, não é pra você ficar dentro de uma academia o tempo todo. Mas, a partir de um momento em que você encerra um ciclo em sua vida, outro deve começar. Não é porque você se aposentou que você vai se estocar dentro da sua casa ou da sua cidade. Você precisa fazer alguma coisa, você precisa ser útil”.

O especialista encerra falando que é preciso encerrar ciclos para poder iniciar outros, até chegar ao seu limite. “Para manter esses ciclos, você precisa ter envelhecido com uma estrutura boa. Cuide da sua saúde agora. Você precisa arranjar tempo para cuidar da sua saúde agora, então, se você tem 60 anos e nunca praticou atividade física, é sedentário, tem hábitos tóxicos, mude esses hábitos. Ainda dá tempo”, recomenda.

Aos 62 anos, homem pratica mountain bike  e afirma: “Enquanto eu tiver saúde irei pedalar”

Em 2014, Paulo Maia ficou em 4º lugar na categoria Master C. (FOTO: RAPHAEL DIAS)

BRENNA AMÂNCIO

A vida de Paulo Maia começou a mudar radicalmente a partir dos 50 anos de idade. Não foi uma mudança boa. Na verdade, pessoas que ele amava começaram morrer, um após o outro. Primeiro ele perdeu o pai, depois a mãe e então a irmã. Tudo em um curto período de tempo.

O baque foi ainda maior quando a esposa dele descobriu que estava com câncer de mama. Paulo Maia não se permitia deixar mais ninguém que ele amava partir. Era proibido.
Forte, ele permaneceu ao lado da mulher durante 3 anos de quimioterapias intensas e muitas idas e vindas ao hospital. Apesar de todo o esforço, a morte bateu mais uma vez à porta. Ela não resistiu.

Os dois filhos e netos foram importantíssimos para que Paulo Maia não adoecesse. A tristeza era grande e todos temiam que ele ficasse depressivo.

Um ano após a morte da esposa, Paulo se aposentou. Em casa, morando sozinho, as coisas já não davam o ânimo de antes. Ele sentia um vazio e sabia que precisava preenchê-lo. A solução veio dois anos depois.

“Eu estava em casa e via sempre aquele grupo passar de bicicleta à noite. Era algo bonito de se ver. Fiquei interessado em participar e fui atrás”, descreve o aposentado.

Paulo descobriu que o grupo era formado por participantes da Associação de Ciclistas do Acre (Acac). Ele se identificou, porque sempre havia gostado do esporte antes, mas apenas como algo para fazer esporadicamente.

O aposentado passou a integrar a Acac e a vida passou a ganhar novo sentido. O esporte era como o principal remédio para a saúde dele. “Sempre fui saudável fisicamente, mas sofri princípio de depressão. A minha família e o ciclismo me ajudaram”, aponta.

Paulo Maia e o grupo costumavam realizar passeios mais longos sob a bicicleta. Foi em uma dessas atividades que ele conheceu os competidores da Federação Acreana de Ciclismo (FAC). “Eram muitos. Estavam voltando do rumo de Senador Guiomard. Preparavam-se para uma competição de Speed”, recorda.

Apesar do encanto com os competidores de Speed, Paulo escolheu outra categoria da FAC, o mountain bike (bicicleta na montanha). O objetivo desse esporte é transpor percursos com diversas irregularidades e obstáculos, como morros e lama, por exemplo.

Atualmente com 62 anos, Paulo Maia já participou de duas competições de mountain bike. Na primeira, em 2014, ele ficou em terceiro lugar na Categoria C, que são pessoas acima dos 50 anos. Este ano, ele ficou em 4º lugar na mesma categoria.

“Quando participo, sei que talvez eu não vá ganhar, mas continuo a competir. A ideia é vencer os meus limites”, declara.

Antes das competições, Paulo Maia prepara o corpo. Ele e alguns integrantes da FAC acordam geralmente às 4h30 da manhã em dias de treino e vão para ramais com obstáculos. O que arruinaria o passeio de muitas pessoas, devido à existência de buracos e lama, faz a alegria do grupo de mountain bike. “Antes das provas, a gente treina todos os dias. Fazemos 60, 40, 20 quilômetros. Mesmo se amanhecer chovendo, iremos”.

Paulo Maia reconhece que o mountain bike é um esporte difícil. As melhores bicicletas para esse desafio podem sair por um preço bem salgado. Mas ele garante que vale a pena. “Exige muita força de vontade. Para o futuro, enquanto eu tiver saúde, irei pedalar”.

Sobre o esporte e os desafios de praticá-lo na terceira idade, Paulo afirma que uniu o útil ao agradável. “Fiz isso para não ficar ocioso, além de gostar muito. Minha preocupação é manter a qualidade de vida. Quero incentivar outras pessoas da minha idade”.

Idoso percorre 65 km todas as terças e quartas-feiras para dançar no Senadinho

Mário Torres diz frequentar o Senadinho há 10 anos. (Foto: Brenna Amancio/ A GAZETA)


BRENNA AMÂNCIO

Todas as terças e quartas-feiras, o Senadinho se torna palco de muita dança. Dezenas de pessoas da terceira idade vão lá e mostram que sabem dançar, e muito.

Quando a banda começa a tocar, cada homem e mulher arranjam um parceiro rapidinho. Não tem como ninguém ficar sentado, só se quiser.

Nesse meio alegre, é possível encontrar o aposentado Mário Torres da Rocha, de 68 anos. É frequentador assíduo do espaço. Não perde uma. Há 5 anos, ele e a família se mudaram de Rio Branco para Bujari, município vizinho da Capital. Mário confessa que não gostou nada da mudança. “Lá não tem divertimento. Parece abandonado”, acusa.

Próximo dos 70 anos, tudo o que Mário quer é exatamente se divertir. A esposa entende isso e não se incomoda com o fato de todas as terças e quartas-feiras da semana serem investidas no Senadinho.

Nos dias de forró, ele sai do Bujari, distante 65 Km de Rio Branco, no ônibus que passa às 8h. Leva apenas 1h para chegar até o Centro de Rio Branco. Às 9h, a festa começa.

Satisfeito com o tempo dedicado à dança e ao bom bate-papo com os amigos no Senadinho, ele garante que está feliz. “Eu me sinto uma pessoa saudável”.

“Comecei a viver quando cheguei aqui”, fala emocionada Jorgina Barroso, 82 anos, sobre o Centro Dia para Idosos

Além de Jorgina, outros 69 idosos frequentam o espaço. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)


BRUNA LOPES

Após anos e anos de trabalho pesado na roça, Jorgina Barroso, no auge dos 82 anos, afirma que só começou a viver a partir do momento que começou a participar das atividades oferecidas pelo Centro Dia para Idosos. Apesar do quadro de funcionários restrito, o trabalho realizado é reconhecido pelos idosos e pelas famílias.

Junto com Jorgina, outros 69 idosos frequentam o espaço três vezes por semana, das 7h30 às 11h. Com o objetivo de promover a autonomia, participação social e melhoria da saúde geral da pessoa idosa, o Centro realiza 210 atendimentos semanais.

Aos idosos que estão cadastrados no Centro são realizadas atividades de educação física, fisioterapia, terapia ocupacional, oficinas de lazer, atividades culturais, palestras e passeios. A cada três meses são feitos encontros com as famílias para palestras e rodadas de conversa, com a finalidade de fortalecer esse vínculo entre o idoso e a família.

“Aqui tenho com quem conversar. Aprendi a bordar e criar peças de argila. Depois de trabalhar tanto, comecei a viver quando cheguei aqui. Não me sinto mais só”, afirma emocionada Jorgina, que é uma das mais antigas participantes do projeto.

Jorgina Barroso lembra com carinho de um desfile de moda organizado dentro do Centro. “Foi um dia memorável. Me diverti muito. Foi bom desfilar”, confessa ela.

Já Fantina Dantas, com 80 anos, é a caçulinha entre os idosos. Começou a participar em julho deste ano e afirma que já sente diferença. “Hoje tenho com quem conversar. O acolhimento aqui é indescritível. Me senti em casa. Todos aqui nos tratam muito bem. É bom estar aqui”, declara.

Antes de participar das atividades proporcionadas pelo Centro Dia, Fantina estava à beira de uma depressão profunda. “Graças a Deus eu tive a oportunidade de vir para cá. Não sei o que seria de mim se não fosse meus amigos aqui”, confessa.

De acordo com a coordenadora do Centro Dia para Idosos, Ana Paula Brant, todas as pessoas atendidas pela equipe tem acima de 60 anos ou mais. “Nos tornamos uma família aqui. Nós como equipe ajudamos a dar autonomia para eles e em troca recebemos muito carinho”, aponta.

É tanto amor envolvido nessa relação de troca de experiência que até casais já se formaram, revela a coordenadora. “Já presenciamos alguns casais que se formaram aqui dentro. Mas, também já nos despedimos de muita gente boa que passou por aqui”, lembra.

O objetivo das atividades oferecidas no Centro Dia é evitar o isolamento do idoso, destaca Ana Paula. “Temos alguns critérios para cadastrar um idoso e o principal deles é a pessoa querer ficar aqui. Não adianta a família querer que o idoso fique aqui se ele não quer”, ressalta.

Dia de festa
A última sexta-feira, 23, foi de festa no Centro Dia para Idosos. Conhecido como gentleman, entre a equipe e os colegas, por ser um cavalheiro, Pedro Holanda completou 98 anos de idade e 14 anos participando das atividades no Centro.

Lúcido e ativo, Pedro confirma o bom tratamento dispensado pela equipe do Centro. “Estou muito feliz hoje. Quando procurei o Centro, eu vinha acompanhado de minha esposa. Hoje, viúvo, encontro no local e na minha família a alegria para seguir em frente. Esta casa tem feito a diferença em minha vida”, destacou.

Sesc Acre realiza trabalho social com mais de 700 idosos

Coordenadora do Programa de Assistência, Marizete Melo. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

BRUNA MELLO

Pioneiro no país desde 1960, o Serviço Social do Comércio (Sesc) desenvolve o Trabalho Social com Idosos (TSI). No Brasil, cerca de 100 mil idosos são atendidos pelo programa. No Acre, o Sesc trabalha com mais de 700 idosos, com idade superior a 60 anos. O programa visa oferecer uma melhor qualidade de vida à terceira idade.

O projeto social oferece, entre outras atividades, hidroginástica, pilates, ginástica, caminhada monitorada, oficinas de trabalhos manuais, coral, teatro, dança, além de realizar bailes temáticos, passeios, entre outros. É um verdadeiro paraíso para a terceira idade.

Segundo a coordenadora do Programa Assistência, Marizete Melo, todos os dias são realizadas atividades. Ela explica que o diferencial do programa é a colaboração dos idosos com a equipe de trabalho. “Eu costumo dizer que não trabalhamos com receita pronta, nós construímos tudo com eles. São eles que fazem acontecer. Trabalhamos muito com o protagonismo do idoso, eles precisam querer para poder acontecer”, conta.

Melo relata que é visível a diferença do antes e depois do Sesc na vida dessas pessoas. “Ele chega ao Sesc triste, cabisbaixo, geralmente eles procuram porque a família é o grande estimulador. São pessoas ainda ativas que estão em casa, mas ainda estão aptos a realizar sonhos e talentos que não descobriram durante a juventude”.

Para a coordenadora, o trabalho realizado com os idosos é gratificante e renovador. Durante os bailes que acontecem mensalmente, é possível observar a interação da família e amigos. “É tão gostoso, tão gratificante, você ver o idoso com o filho, o neto. Aquele momento para ele é programado o mês inteiro. É um baile para a família mesmo. Tudo que nós fazemos tem caráter educativo, inclusão social e espiritualidade”, relata Melo.

Marizete é muito querida por todos no Sesc, mas o carinho que a terceira idade tem pela coordenadora é inspirador. “O maior retorno desse trabalho que nós temos são os depoimentos deles. O Sesc passa a ser a segunda família dessas pessoas. Eu tenho idosos que começaram há um ano, como também tenho idosos que estão aqui há mais de 20 anos”.

A grande maioria dos idosos que participam do programa de assistência são mulheres e, a coordenadora também formada em gerontologia, ciência que estuda o envelhecimento humano, explica o fato. Ela diz que o envelhecimento é feminino. “A mulher vive cerca de sete anos a mais que o homem. Vem a questão da prevenção e cuidado. A mulher se previne mais, aceita mais a velhice e procura alternativa. Já o homem, ele tem muito preconceito e tabus, geralmente só vão ao médico quando não aguentam mais”, esclarece Melo.

Os interessados em participar do Programa de Assistência devem procurar o Sesc-Bosque, localizado na Avenida Getúlio Vargas. É necessário que a pessoa tenha 60 anos ou mais. A documentação exigida é: foto 3×4, comprovante de endereço, RG e CPF. É cobrado um valor simbólico mensalmente de R$ 3. Algumas atividades como hidroginástica cobram taxa exclusiva. Para mais informações: 3302-2851.

Uma manhã de hidroginástica

A hidroginástica é uma das atividades favoritas dos idosos que participam do Sesc. (Foto: Odair leal/ A GAZETA)

A piscina está lotada de pessoas, os macarrões coloridos se misturam com as cores das toucas e maiôs. Nem mesmo o forte sol desanima a turma da terceira idade. Já é final de uma hora de aula e os sorrisos estão vibrantes. A música embala os exercícios da aula de hidroginástica e os vovôs e vovós não param.

É assim o dia-a-dia da aposentada Maria de Lourdes, de 81 anos de idade. Ela conta que cantar e dançar são seus hobbys favoritos. “Tô fazendo as coisas dentro de casa, tô cantando, dançando, derrubando uma tampa da panela, mas a garganta não para”.

Para Maria, a hidroginástica é revigorante. A aposentada conta em segredo, que apesar dos filhos marcarem presença e não descuidarem da mãe, ela planeja dar uma “fugidinha”. “Vou pra Sena Madureira. Está chegando Dia de Finados e eu vou pra lá”, revela em tom de brincadeira.

Disposição e ânimo são as marcas registradas da turma. Participando da aula há quase um ano, o recém-aposentado Valdir França, de 60 anos, afirma que percebeu mudanças no físico e no intelectual. “Eu já perdi peso. Todas essas atividades que nós fazemos é muito importante para o alongamento do corpo, para a saúde no geral. Me sinto mais disposto durante o dia. Para dormir é mais tranquilo”.

França acredita que a vida começa depois dos 60. Para ele, essa é a hora de cuidar de si, do corpo e da mente. “Você não pode se acomodar. Abandonar todas as atividades por causa do neto, por exemplo. É muito bom a coletividade, o contato diário com as pessoas. É bom demais”, afirma.

A música não para, e toda vaidosa, de maiô florido, vem chegando a aposentada Edna dos Santos, de 68 anos. Com um largo sorriso, ela relata que a equipe do Sesc é considerada uma família. “Eu participava de todas as atividades aqui: dança, coral… Só depois que tive um problema no joelho que parei. Por enquanto, estou fazendo só hidroginástica, e eu adoro. Nós aqui somos uma família. Faço muitos amigos aqui, nosso dia-a-dia aqui é maravilhoso. Eu tenho muita mais disposição que muito jovem de 18 anos”, declara.

Não é caduquice, podem ser os primeiros sintomas do Alzheimer

BRUNA LOPES

Perda de memória, orientação e atenção, sintomas característicos, principalmente, em idosos são banalizados pela família. E esse é um dos principais desafios enfrentados para o diagnóstico do Alzheimer ou de outras demências, como Parkinson e outras. Essas doenças são causadas pela morte de células cerebrais.

No Alzheimer em estágios mais avançados, o doente não consegue andar, nem se alimentar. Se a doença é diagnosticada cedo, é possível retratar esses danos. Mas, no Brasil, de cada duas pessoas com Alzheimer, uma não sabe que está doente – falta diagnóstico.

A Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) ajuda no tratamento de 297 acreanos, desde 2004. De acordo com o presidente da entidade, a gerontóloga Mariazinha Leitão, o diagnóstico e tratamento no sistema público é feito totalmente no Hospital do Idoso, nas dependências do Hospital das Clínicas, em Rio Branco.

O processo de descoberta da doença inclui diversos exames e disponibilização de medicação. “A pessoa vai ao Hospital do Idoso, faz rastreamento de memória, teste neuropsicológico, ressonância magnética para ser dado o diagnóstico. Sabemos que existem mais de 100 tipos de demências, no entanto, 70% delas caem no Alzheimer. Dado o diagnóstico, um relatório é enviado ao Centro de Referência de Medicamentos Especiais para serem disponibilizados os remédios, usados de acordo com o estágio da doença”, acrescenta.

O Alzheimer é a principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos no Brasil, sendo cerca de duas vezes mais comum que a demência vascular. Atinge 1% dos idosos entre 65 e 70 anos, mas sua prevalência aumenta exponencialmente com os anos, sendo de 6% aos 70 anos, 30% aos 80 anos, e mais de 60% depois dos 90 anos.

“O nosso foco maior é para que seja feito o diagnóstico precoce para gerar mais qualidade de vida. As pessoas passaram a viver mais e, consequentemente, existem as doenças da longevidade, como Alzheimer. Muitos não são diagnosticados, mas têm a doença e nem sabem”, confirma Mariazinha Leitão.

A unidade hospitalar possui em seu quadro de especialistas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, gerontólogos e geriatras. Para ter acesso aos atendimentos oferecidos no Hospital do Idoso, o paciente deve, primeiramente, se consultar com médicos que atendem em postos de saúde (atenção básica).

Segundo Mariazinha Leitão, a falta do diagnóstico da doença acaba dificultando o número exato de casos. Ela diz que ainda existe bastante banalização por parte de algumas famílias em relação ao Alzheimer, o que retarda o tratamento.

“Em nível nacional, estamos defendendo o diagnóstico precoce, porque quanto mais cedo, mais condições a pessoa tem de lembrar e da doença demorar a se desenvolver. Muitos ainda banalizam, acham que é doença de velhice, que a pessoa está ‘caducando’, e quando vem nos procurar, o Alzheimer está muito avançado e nada se pode fazer”, destaca.

Doença de Alzheimer
Com o envelhecimento da população, a demência passou a ser considerada prioridade de saúde pública. Atualmente, com 35 milhões de casos no mundo, a estimativa é que este número triplique até 2050.

Segundo Mariazinha, é preciso que as pessoas tenham consciência da gravidade da situação. “Vamos motivar e capacitar as pessoas a fazer esse trabalho que é voluntário. Vamos cadastrar as pessoas que tem Alzheimer, dar apoio à família e cuidar de quem cuida, pois o principal papel da ABRAZ é esse: apoiar e cuidar de quem cuida”.

A regional Acre da ABRAZ foi fundada no dia 23 de abril de 2004. Mariazinha lembra que o então senador Tião Viana foi quem incentivou a criação da regional. “Ele é associado e sempre nos tem incentivado”, disse. Em 2010, Mariazinha também ajudou a criar a sub-regional do Juruá em Cruzeiro do Sul.

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