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Chuvas: escorregamentos, inundações, enxurradas e alagamentos

O período chuvoso, que em  nossa região se inicia entre  os meses de outubro e novembro, estende-se até ameados de abril e representa um momento em que eventos hidrológicos podem acontecer de maneira mais exacerbada. Mais ainda, com o advento das mudanças climáticas, estes eventos estão cada vez mais frequentes e com maior intensidade. Este artigo visa explicar alguns conceitos ligados a estes eventos para que o leitor possa entender melhor os processos.
As chuvas fazem parte do ciclo natural que envolve as estações do ano e é um evento extremamente necessário para as atividades agrícolas, mas também, podem trazer consigo alguns problemas. No Estado do Acre, e em particular na cidade de Rio Branco, as chuvas acarretam, em geral, quatro tipos de problemas ou de vulnerabilidades que, dependendo da magnitude, podem ocasionar danos e prejuízos.
O primeiro deles é o escorre-gamento (também conhecido como desmoronamento). Aliado a processos erosivos das margens dos rios de nossa região, os escorregamentos representam eventos significativos em cidades ribeirinhas, como a cidade de Rio Branco. Caracterizam-se por áreas elevadas com solo instável e inclinação acentuada, podendo, após grandes quantidades de chuva concentradas em uma determinada área, sofrerem movimentos que ocasionam a destruição parcial ou total das residências construídas em sua superfície. Em nossa região, esse processo de movimento do solo define-se como rastejo, pois a velocidade com que ocorre é muito pequena. Alguns aspectos que denunciam essa movimentação são árvores e postes inclinados, dificuldade de abrir portas e janelas, rachaduras e fissuras no solo.
O segundo evento é a enchente ou inundação. Muito conhecida em nossa região, as inundações têm nos acompanhado, de maneira sucessiva, desde 2009, causando grandes estragos em Rio Branco. As maiores delas foram as de 1988, 1997, 2012 e 2015, sem contar os efeitos indiretos da inundação do Rio Madeira em 2014. A característica das inundações do Rio Acre é de um evento lento e gradual, ou seja, sua elevação ocorre por dias, permanecendo em níveis elevados por várias semanas, desabrigando milhares de pessoas, principalmente aquelas que habitam sua planície de inundação.
O terceiro evento são as enxurradas. Diferentemente das inundações, as enxurradas, em geral, ocorrem em cursos d’água de menor porte (igarapés, por exemplo) e caracterizam-se por ocorrerem de forma brusca. Em um curto período de tempo (horas) transbordam de seu leito e atingem as residências que se localizam próximo as suas margens. Devido ao tempo e a quantidade de água que passa, sua força pode ser mais destruidora que as inundações. Como exemplos, podemos citar as enxurradas dos igarapés São Francisco, Judia e Fundo.
Os alagamentos são eventos que ocorrem em virtude de grandes chuvas em ambientes urbanos onde a rede de drenagem não suporta a quantidade de chuva, ocasionando a invasão da água nas vias, inviabilizando a passagem de veículos e pedestres. A obstrução das entradas dos bueiros e o acúmulo de lixo nesses locais prejudicam a passagem da água e dificultam o escoamento das águas da chuva.
Portanto, no período chuvoso é preciso ficar atento e estar preparado para esses eventos. Nossa segurança e tranquilidade depende do quanto estamos prontos para enfrentar as enchentes/inundações, escorregamentos, enxurradas e alagamentos.
O monitoramento constante das chuvas e dos níveis dos rios são fatores importantíssimos nesse processo de preparação. É preciso saber onde choveu, quanto choveu e como essa chuva pode trazer problemas para nossa cidade e para a população.
Existem diversas fontes de informação sobre as chuvas e inundações.  Por exemplo, a Agencia Nacional de Águas (ANA) tem um sitio que reporta em tempo quase real as alturas de rios e alguns pluviometros no sitio http://mapas-hidro.ana.gov.br/Usuario/mapa.aspx, projetos espe-ciais.  O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) tem dados de chuvas e previsões no sitio  http://www.inmet.gov.br/portal/. Similarmente o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC do INPE – http://www.cptec.inpe.br/) tem informações semelhantes.   Localmente estes dados podem ser acessados via http://acrebioclima.net/.   Para previsões de uma e duas semanas,  o sitio da NOAA nos EUA fornece dados interessantes: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/Global_Monsoons/American_Monsoons/Hydro/Brazil/rh_amazonia.shtml.
Vale a pena ressaltar que sempre existem limitações nas previsões. Ninguém acerta 100%, portanto  é importante estar preparado para eventos hidrológicos extremos que podem se manifestar rapidamente.  A responsabilidade é de todos.

*George Luiz Pereira Santos, Coronel do Corpo de Bombeiros do Acre, Coordenador Municipal de Defesa Civil de Rio Branco, especialista em Defesa Civil.

Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).

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