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Selfie deformado

O pessoal da imprensa, não raras vezes, costuma reclamar da obigação de escrever diariamente. Nesse caso, se é difícil para os jornalista, muito mais é para simples mortais da escrita, como este garatujador semanal. Assim, hoje, faço uso de um texto que já foi publicado, debaixo de outro título, aqui mesmo.

O filósofo e sociólogo Edgar Morin (94 anos) em entrevista ao programa Milênio da Globo News, em fevereiro último, afirmou, entre tantas declarações lúcidas, que o homem do mundo de hoje passa por uma “angústia de viver o futuro”.  Para Morin, vivemos  uma crise profunda  de representação. As forças positivas são muito dispersas. Tudo é volátil, a única certeza é a morte.
Sabemos, em longo dos anos, que  a física descobriu um universo no átomo, e a biologia encontrou um microcosmo na célula; a fisiologia descobriu um mistério  inesgotável em cada órgão, e a psicologia, em cada  sonho; a antropologia  reconstruiu  a insuspeitada antiguidade do homem, a arqueologia desenterrou cidades e estados esquecidos, a história provou que toda história é falsa. Entretanto, hoje todas as ciências nada mais são que medidas paliativas, pois que a economia é um desastre, as doutrinas econômicas derrubaram e continuam a derrubando governos, vivem a inflamar os ânimos dos cidadãos comuns; a ciência política com suas teorias “rachadas” não tem solução “políticas” para o Brasil ou para qualquer outra nação do planeta; a sociologia com todas as suas ramificações so-ciais falhou, os meios urbanos estão aí para provar o que digo, pois as cidades são um verdadeiro caos; a teologia desmoronou, o que restou dos dogmas, especialmente cristão, são grupelhos religiosos e seus pseudos líderes, vendilhões da fé, que vivem saqueando os poucos recursos de pessoas de “boa fé” com a conivência do Estado, é bom que se diga.

A ciência propriamente dita, está na contramão da vida humana, já que  as nações  dos quadrantes da terra, são detentoras de aparatos bélicos de alta destruição. Desta forma, a vida tem uma imagem deformada, não é nada atraente, é duríssima, seja aqui ou alí. Milhares de mulheres e homens, estão morrendo como ratos de porão, outros milhares, de fome; outros, de pestes perniciosas que vai da dengue ao vírus do Ebola; outros milhares, caso recente da Síria, estão sendo exterminados em razão dessas guerras imbecís. Há, para completar, a miséria e a  fome que em muitos países afetam milhões de pes-soas. Aliás, ninguém sabe, realmente, quantas pessoas morrem de fome a cada ano. Muitos países subdesenvolvidos apresentam estatísticas irregulares e muitas vezes não confiáveis, de modo particular quando concernentes a mortes de crianças. Estatísticas não muito recentes estimam que 12 milhões de recém nascidos morrem todos os anos, por causa dos efeitos da subnutrição nos países em desenvolvimento. Li em algum lugar que  “A metade das pessoas que vivem em pobreza absoluta estão no sul da Ásia, principalmente na Índia e Bangladesh. Um sexto delas vive no leste e sudeste da Ásia. Outra sexta parte está no sub Saara africano. O resto divide-se entre a América Latina, norte da África e Oriente Médio. Nestas regiões tropicais ou situadas no hemisfério sul, a que comumente damos a denominação de Terceiro Mundo, calcula as Nações Unidas que pelo menos 100 milhões de crianças vão para a cama faminta, todas as noites”. Além disso, há regiões onde a fome é total, imperativa mesmo, e outras causas indiretas, como doenças e más condições físicas agudas, que prostram milhares de vítimas, visto terem perdido a resistência devido à subnutrição. As mortes ocasionadas por essas condições nem sempre são relatadas pelos membros da família; as vítimas de doenças poderão ser relacionadas entre as que morreram de causas naturais, ou desconhecidas.

A maldade cresce de maneira fenomenal. O retrado do bem é um selfie deformado. As forças positivas, repetindo Morin, são muito dispersas, fragmentadas, perdidas no vácuo da maldade que permeia toda a atmosfera terrena. Todos, quase sem nenhuma exceção, vivem um clima de incerteza e grande ansiedade íntima. Anelam por dias melhores que nunca chegam. Temem o futuro e desconfiam que a situação caótica tende a piorar.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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