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Livros e livreiros

Morar sem os pais é igual a muitas vezes terminar a semana com menos de R$10 na conta bancária. Eu ainda tinha pouco mais que isso, contudo nada iria abalar minha determinação em comprar um livro. Tenho certeza que em algum lugar está escrito que quando se tem 20% de desconto na compra de livros, o bom leitor deve levar um para casa. Não importa a pilha de livros não lidos que esteja o esperando em casa, não se deve desperdiçar promoções de livrarias.

A experiência de comprar livros para mim se resume sempre em eu, sozinha, encarar suas capas e ler suas orelhas, procurando por algo interessante o bastante para levar para casa. Todas as vezes que pedi indicações de vendedores, me decepcionei ao perceber que ele ou ela não se interessava por livros e não poderia me indicar nada. Às vezes os vendedores parecem estar mais perdidos que cego em tiroteio. Mas daquela vez foi diferente.

Quando a vendedora perguntou se poderia ajudar, a resposta automática “não, obrigada” estava na ponta da língua. Mas eu já havia encarado as estantes por vários minutos e não sabia o que comprar, então dessa vez disse que sim. “Quero comprar um livro por causa desse desconto, mas ainda não sei o que levar”. “O que você gosta de ler?”, ela disse. Boa pergunta. Eu não sei a resposta.

Hesitei por alguns segundos e acabei apontado pros livros que eu já tinha lido e gostado. Também comentei o último livro que eu havia lido, uma obra de fantasia recém-lançada da editora Darkside Books – famosa pelas capas duras e diagramação impecável, além dos temas obscuros de suas obras. Apesar de o livro nem ter chegado àquela loja ainda, ela já sabia de qual eu estava falando. Nunca senti tanto orgulho de uma completa estranha. Aquilo acendeu uma lâmpada em sua cabeça e ela sabia exatamente o que me indicar.

Saí da loja extremamente feliz por estar levando um livro que eu nunca teria escolhido sozinha e provavelmente nem daria atenção à capa se não fosse pela ajuda da funcionária. Livreiros são pessoas privilegiadas por terem acesso a todos os livros e trabalharem em um ambiente mágico que é uma livraria. Eles sabem que livros estão vendendo mais e tem contato direto com seus leitores. No entanto, foi a primeira vez que conversei com alguém que realmente usufruía desses privilégios literários e o usava a favor de clientes em dúvida do que comprar.

O livro em questão se chama A Rebelde do Deserto, da autora Alwyn Hamilton.

Isabela Gadelha é acadêmica de Jornalismo.

A Gazeta do Acre: