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São Francisco, a Porciúncula, os 800 anos da Indulgência do Perdão de Assis

Neste ano de 2016, nós franciscanos estaremos celebrando os 800 anos da Indulgência da Porciúncula, também conhecido como Perdão de Assis. Para esta igrejinha, chamada Porciúncula = pequena porção, São Francisco conseguiu do Papa Honório III, na segunda quinzena de julho de 1216, a Indulgência ou Perdão da Porciúncula.

Nenhum outro lugar franciscano esteve tão ligado à vida de São Francisco e à experiência da primitiva Fraternidade como a Porciúncula. As fontes do século XIII são ricas em lembranças e alusões. Mas é preciso fechar os olhos à majestosa basílica que hoje se encontra, para imaginar o estado primitivo de uma pequena igreja, cercada de choupanas e escondida atrás do bosque. Quase todos os acontecimentos mais importantes de sua vida tiveram este lugar como cenário. Seguiremos, na medida do possível, a ordem cronológica dos episódios que se relacionam claramente com este lugar.

1º – Depois da reedificação das igrejas de São Damião e das igrejinhas de São Pedro, Francisco reconstrói a da Porciúncula. Agradou-lhe muito este lugar, por causa da proximidade do bosque e dos leprosários, que construiu ali uma pequena cela para morar.

2º – O primeiro encontro de Francisco com o Evangelho é dado na igrejinha da Porciúncula durante o “terceiro ano de sua conversão”. Ali, encontra a direção definitiva de sua vida.

3º – Depois da distribuição dos bens aos pobres, Bernardo e Pedro, seus primeiros seguidores, vêm morar com Francisco na Porciúncula. Pouco depois, junta-se Egídio, e daqui partem os quatro para a primeira incursão missionária. A este lugar chegam outros quatros irmãos. A Porciúncula é a morada da primitiva fraternidade.

4º – Uma vez aprovada a proto-Regra pelo Papa Inocêncio III, depois de uma breve permanência em Rivotorto, os primeiros irmãos (doze) regressam à Porciúncula. A fim de não serem expulsos dali, obtém do abade do Mosteiro Beneditino do Subásio a permissão de morar permanentemente junto à capelinha. Os irmãos pagam cada ano (ainda hoje) o aluguel simbólico, que consiste numa cesta de peixes.

5º – A Porciúncula é o Berço da Ordem Franciscana. E este lugar vem a nobre Clara de Favarone (Santa Clara) aos 19 de março de 1211, para consagrar-se ao Senhor, segundo o modo de vida de Francisco. Nascimento da Segunda Ordem Franciscana.

6º – Para esta Igrejinha, São Francisco conseguiu do Papa Honório III, em julho de 1216 a Indulgência da Porciúncula ou Perdão de Assis. Depois estendido a todas as Igrejas Franciscanas pelo mundo, no dia 01 de agosto a 02 de agosto, dia de Nossa Senhora dos Anjos.

7º – Desde o começo, nas imediações da Porciúncula, celebravam-se os Capítulos ou “encontros dos irmãos, onde avaliavam a vida e aperfeiçoavam as normas”. Foi ali que se celebrou a famoso Capítulo das Esteiras no ano de 1219.

8º – No Capítulo Geral de 1220, Francisco renunciou ao oficio de Ministro Geral (Superior Geral da Ordem). O irmão Pedro Catanni é nomeado Vigário-geral. O cardeal Hugolino fica comovido pela pobreza de Francisco e da Porciúncula.

9º – Clara acompanhada por outra irmã, vai à Porciúncula para visitar Francisco doente. É convidada a comer, mas a comunidade se transforma num luminoso banquete espiritual.

10º – Poucos dias depois de ser transladado numa liteira desde o bispado até sua querida Porciúncula, cego e com o seu corpo esgotado pelos muitos jejuns e penitências, aos 3 de outubro de 1226, sábado à tarde, Francisco passa a vida definitiva.

O encontro de Francisco com o Evangelho na Igrejinha da Porciúncula marca um momento culminante de sua conversão inicial. Depois que escutou a explicação do sacerdote, já não teve mais dúvidas e se decidiu a viver segundo as exigências que lhe fazia o Senhor. Uma vez mais, Francisco nos ensina sobre a forma de acolher o Evangelho, sobre a humildade para saber escutar a outros, que certamente, possuem mais do que nós o Espírito do Senhor, sobre o âmbito dentro do qual devemos fazer “a leitura do Evangelho”. Muitas vezes, nós estamos prontos para explicar o Evangelho aos outros, teremos, porém, a coragem de percorrer os caminhos que indicamos aos outros?

A Porciúncula como berço da Ordem Franciscana, aparece nas fontes biográficas com uma série de características que tipificam a Fraternidade primitiva: vida em penitência, oração, fraternidade, pobreza, trabalho, serviço aos outros. Hoje ainda pode ser “berço da Ordem” na medida em que saibamos reviver estes valores primordiais em todos os lugares do mundo. Precisamos ser criativos para que “renasça” a simplicidade primeira. O estudo das fontes e dos lugares primitivos, como a Porciúncula, deve fecundar nossa criatividade.

A Porciúncula é também o “Santuário do Perdão”. O interesse de Francisco por obter a “Indulgência” para todos os que chegarem à capelinha é um sintoma claro de seu amor pelos pecadores e de sua capacidade de perdoar. Muitas vezes, nossos projetos pessoais levam-nos a desentender-nos com os demais; muitas vezes, nossos afazeres são cumpridos com dureza e automatismo tais que, mais do que fruto de uma ação responsável, parecem uma ação compulsiva, carente de todo sentido de misericórdia e “indulgência” para com os que não seguem o mesmo ritmo de trabalho. O perdão da Porciúncula, que celebramos 800 anos em 2016, nos ensina o sentido da misericórdia em nossa vida e atitude.

Quis a Providência Divina, inspirar os irmãos a dedicar nossa fraternidade franciscana em Plácido de Castro, como também a Capela de nossa casa, a Nossa Senhora dos Anjos. Com isso recebemos a missão de fazer desse lugar um espaço de misericórdia e perdão. Às quartas-feiras, às 19:00 horas, temos sempre uma celebração penitencial, onde trabalhamos a espiritualidade do PERDÃO DE ASSIS. Procuramos estar sempre prontos para a confissão e o aconselhamento espiritual. Celebramos a novena de Nossa Senhora dos Anjos de 24 de julho a 01 de agosto. Abrimos a “Indulgência da Porciúncula” no dia 01 de agosto às 12:00 horas e realizamos a procissão da Virgem no dia 02 de agosto. Tudo isso é uma provocação a todos nós frades capuchinhos, em lutarmos a fim de sermos homens do perdão e da fraternidade no Acre.
Paz e Bem!

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – AC
Diretor Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara

A Gazeta do Acre: