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O tratamento que tem mudado a qualidade de vida dos praticantes

Equoterapia: o tratamento que tem mudado a qualidade de vida dos praticantes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sessões de atendimento duram 30 minutos e são realizadas uma vez por semana

Um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação tem melhorado a qualidade de vida de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais. Trata-se da equoterapia.

Em Rio Branco, o Rancho Porta do Céu se destaca por realizar essa atividade. O atendimento é realizado aos sábados, com sessões de 30 minutos, por meio de hora marcada. A equipe é formada pela equitadora Osmarina Montrezol de Oliveira, pelo fisioterapeuta e equoterapeuta Fabrício Lopes e pelo estudante de psicologia Vagno Queiroz.
“O trabalho surgiu em 2004, por indicação de uma amiga da Maria Tereza (dona do rancho). Essa equipe atendeu até 2014, aproximadamente. E a nossa equipe atual começou os atendimentos a partir de março de 2015. A maioria dos meninos que já fazia equoterapia voltou a fazer com a gente”, explica Osmarina.

A equoterapia se divide em três programas: Hipoterapia, Educação-Reeducação, e a parte Pré-Esportiva e a Esportiva. O Rancho Porta do Céu trabalha apenas com a Hipoterapia, que é quando o praticante necessita montar junto com um especialista. “Aqui, a criança nunca fica sozinha com o animal. Ela está sempre acompanhada de dois terapeutas e o guia do cavalo”.
Osmarina explica que essa atividade é uma terapia que usa o cavalo como instrumento de trabalho. O animal, na verdade, é quem faz a maior parte do serviço, destaca ela. O movimento tridimensional do cavalo garante os benefícios aos praticantes. “É um atendimento biopsicossocial, pois trabalha coordenação motora, equilíbrio, força muscular e a autoestima, por causa do contato que se tem com o animal. É preciso ter o domínio de si para ter domínio sobre o cavalo”.

Atualmente, a equoterapia do Rancho Porta do Céu atende um praticante com hidrocefalia, duas meninas com sequelas de paralisia cerebral e três meninos com Transtorno do Espectro Autista, aponta a equitadora da equipe.

A maioria dos estudos indica a prática apenas uma vez por semana, destaca Osmarina. Trinta minutos em cima do cavalo trabalha em média 2.200 contrações musculares. “Por isso, consideramos muito pesado para a criança praticar mais do que isso. Ainda mais quando elas possuem algum tipo de deficiência e não têm o costume de estar frequentando atividades. Para avançar a duas sessões por semana, a criança teria que ter se adaptado primeiro com uma vez apenas por semana”.

Feliz, Osmarina coleciona histórias de pessoas que melhoraram a qualidade de vida após a prática da equoterapia. “São mudanças rápidas. Com cinco sessões já é possível notar a diferença. Uma das nossas praticantes, a Maria Eduarda, de 8 anos de idade, não andava quando começou com a gente, pois não conseguia ter o equilíbrio necessário. Com o movimento do cavalo, que é similar ao de caminhar, ela conseguiu andar”, comemora.

 

 

 

 

 

 

 

 

Equipe é formada por equitadora, fsioterapeuta, equoterapeuta e por acadêmico de Psicologia

Os animais


 

 

 

 

Praticantes participam dos cuidados com o cavalo para adquirir mais autonomia

O Rancho Porta do Céu disponibiliza à equipe todos os cavalos do local, que são muitos. Contudo, Osmarina explica que para a equoterapia eles utilizam apenas dois que são os queridos Petisco e Pipoca.

“Lá, eles alugam, realizam prova de tambor, fazem aulas de equitação, entre outras atividades. Nós optamos por trabalhar apenas com o Petisco e o Pipoca. Dependendo da criança, se usa um cavalo específico. Nesse caso, entra a minha função de equitadora, que é avaliar a defi-ciência da criança e a necessidade dela. Em cima disso, indicamos qual o animal adequado”, explica.
Os praticantes se divertem nas sessões, porque além de se aproximarem do cavalo, eles ajudam a equipe a dar banho no animal, arrumá-lo, colocar e tirar a cela, ou seja, o atendimento vai além da montaria. Essa interação contribui para a autonomia dos praticantes.

Esses cavalos não são exclusivos da equoterapia. Eles são adaptados para realizar os trabalhos do atendimento. Petisco e Pipoca, por exemplo, passaram por uma ava-liação antes de serem destinados a essa missão.

A meta do rancho é aumentar o tempo de atendimento à medida que as pessoas comecem a procurar o tratamento.

O Rancho Porta do Céu fica localizado na estrada entre Rio Branco e Senador Guiomard. Para quem deseja fazer uma visita aos sábados e conhecer mais desse trabalho, basta localizar a primeira entrada à direita após o antigo balneário Top 15. O telefone para contato é o: (68) 98115- 5700. A página no Facebook é: Equoterapia Rancho Porta do Céu.

Contato com os cavalos ajuda no tratamento de pessoas com problemas neurológicos

A equoterapia exige a participação do corpo inteiro, contribuindo para o desenvolvimento da força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio, além do desenvolvimento na linguagem.

“Na parte cognitiva conseguimos a socialização das crianças. Os resultados também são positivos na parte pedagógica. A equoterapia não é só colocar a criança no cavalo e ficar andando, ela realmente é uma terapia e dá resultados maravilhosos”, apontou a fisioterapeuta, equoterapeuta e capacitada pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE), Fernanda Fernandes.
O trabalho de equoterapia é desenvolvido há seis anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) Rio Branco. Durante esse período foram atendidas mais de 50 crianças. As crianças são ava-liadas durante seis meses e se tiver resultados satisfatórios elas ingressam em outras atividades.
“Os atendimentos são feitos duas vezes por semana. No momento estamos realizando esse trabalho com 12 crianças. São 30 minutos de atividades no Rancho Porta do Céu”, confirmou.
Os alunos são atendidos por quatro profissionais (dois fisioterapeutas, uma fonoaudióloga e uma psicóloga). O tratamento em equoterapia dura em média dois anos podendo ser reduzido ou prolongado em função do diagnóstico, da característica de cada praticante, do desenvolvimento do trabalho terapêutico, além de outros fatores, destacou Fernanda.
Outra característica importante é que, para poder atuar no tratamento das pessoas com deficiência, os cavalos são selecionados e separados segundo uma série de características físicas e psicológicas e necessitam ser constantemente trabalhados e adaptados para o tratamento.

Estudos apontam que o praticante recebe cerca de 2 mil novos estímulos cerebrais, que são enviados pela medula espinhal até o sistema nervoso central. Nesse processo ocorrem as sinapses e a formação de novas células nervosas.

Foi com base nesses benefícios que a pedagoga e equoterapeuta, Shirlei Lessa, é membro da Família Azul, também reúne pais e mães de pessoas com autismo, trabalha a terapia em vários ranchos na zona rural de Rio Branco.

Segundo a Associação Nacional de Equoterapia, nenhum aparelho na melhor clínica do mundo produz uma resposta tão rica e rápida como o cavalo.

As crianças que nunca tiveram oportunidade de andar vão se perceber pela primeira vez em um movimento tridimensional, que é 95% semelhante ao andar do homem. E assim elas têm a sensação de estarem realmente andando.

 

 

 

 

 

 

 

O praticante recebe 2 mil novos estímulos cerebrais, que são enviados pela medula espinhal até o sistema nervoso

 

 

 

 

 

 

 

Vários laudos são solicitados para garantir acesso ao tratamento

 

 

 

 

 

 

 

 

Fernanda acompanha de perto o progresso das crianças

Como ter acesso ao tratamento?

Para ter acesso a esse tipo de terapia é necessário que a criança tenha um laudo, um encaminhamento do médico, preferencialmente de um neuropediatra para que tenha início o tratamento.
“Após esse encaminhamento, o responsável pode procurar a Apae para que possa passar por uma série de avaliações com o assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. Com as avaliações feitas na entidade iremos detectar e perceber se essa criança pode participar das atividades de equoterapia ou não”, explicou Fernanda.

Vale ressaltar que para realização desse atendimento existem muitas contraindicações, por exemplo, crises de convulsões, epilepsia (que não for controlada com medicações), alergia a poeira ou ao pêlo do cavalo. “Ou seja, mesmo com o encaminhamento do profissional, a equipe pode indicar ou contraindicar a terapia”, destacou.

Indicações para o tratamento

Segundo profissionais da área, a equoterapia é indicada para o tratamento dos mais diversos tipos de comprometimentos motores, como paralisia cerebral, problemas neurológicos, ortopédicos, posturais; comprometimentos mentais, como a Síndrome de Down, comprometimentos sociais, tais como: distúr-bios de comportamento, autismo, esquizofrenia, psicoses; comprometimentos emocionais, deficiência visual, deficiência auditiva, problemas escolares, tais como distúrbio de atenção, percepção, fala, linguagem, hiperatividade, e pessoas “saudáveis” que tenham problemas de posturas, insônia estresse.

Crianças com deficiência apresentam melhoras após equoterapia em Rio Branco

“A equoterapia foi o ponto de partida para o avanço dele”, disse a mãe de Marcos Vinícius que tem 6 anos de idade e nasceu com hidrocefalia. O pequeno é um dos praticantes de equoterapia que fazem tratamento no Rancho Porto do Céu na Capital.

Vinicius faz a terapia há quatro anos e segundo a mãe, Edivânia Fontenele, de 35 anos, ele apresentou melhoras significativas nas primeiras semanas de tratamento. “Antes ele não tinha controle da coluna cervical devido ao peso da cabeça. Ele nasceu com 57 cm de perímetro cefálico. Com uma semana de equoterapia nós já percebemos diferença”.

A promoter afirma que o tratamento proporcionou grandes avanços e contribuiu para melhorar a qualidade de vida do filho. Além da equoterapia, Vinícius faz terapia na piscina, fisioterapia em casa e em centros especializados.

“O Vinícius senta por causa da equoterapia. O cavalo foi essencial. Esse trabalho é excelente. De todas as terapias que ele faz essa é a principal”, disse.
Emocionada, a mãe recorda do primeiro dia de terapia feita com um cavalo. Edivânia lembra que sentiu medo minutos antes do filho montar no animal. “Eu chorei muito. O primeiro cavalo que ele montou, mexeu a cabeça e abaixou como se soubesse que a criança iria subir. Foi um momento inesquecível, de Deus mesmo”.

Hoje, mesmo com as limitações da doença, o pequeno consegue sentar, ter controle da coluna e cabeça. Aos poucos Vinícius apresenta evolução com o tratamento de equoterapia.
Ainda segundo a mãe, quando o filho não pode participar da terapia ele chora bastante. “Ele ama os cavalos e já sabe os dias que tem que ir. Agora que ele esta aprendendo a falar ele diz: ‘Mamãe quer cavalo’. É muita felicidade quando ele monta no cavalo”, relatou.

Vinícius e o cavalo em que faz terapia parecem ser amigos de infância. Quatro anos de atividades construiu um vínculo afetivo. A afinidade entre os dois é perceptível aos olhos atentos dos instrutores e familiares. “É incrível o comportamento do animal com as crianças”, reafirmou a mãe.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aos poucos Vinicíus apresenta evolução com o tratamento

“Ele adora cavalos, não tem nenhum medo, se diverte bastante”, diz Hermington

Pai de João Gabriel, de 7 anos, o servidor público Hermington Franco, de 42 anos, conta que conheceu a equoterapia através de indicação médica. Gabriel é portador de transtorno espectro autista sem comprometimento motor e faz terapia com cavalos desde os 5 anos.

“O João Gabriel não teve nenhuma dificuldade de adaptação, ele adora cavalos e se diverte bastante”, falou o pai.
Em comorbidade com o autismo, o garoto também possui hiperatividade e déficit de atenção – condições melhoradas durante o tratamento.
“O cavalo o força a se concentrar durante aquele tempo em que ele tem que pensar nas atividades que tem que fazer. Além dos exercícios e do próprio fato de estar equilibrado e seguro em cima do cavalo, que requer uma concentração especial”, explicou Hermington.

Desde que começou a equoterapia, Gabriel passou a ter um comportamento mais tranquilo. Mudança sentida pelo pai, durante um curto período em que ficou afastado da terapia. “Quando ele ficou afastado da equoterapia sentimos que ele estava mais agitado. A equoterapia trabalha muito a questão da paciência e do foco, no caso dele”.
Para o pai, que acompanha de perto o tratamento de Gabriel, a relação entre o garoto e o animal proporciona o desenvolvimento da segurança e auto-estima do filho. Poderoso e, ao mesmo tempo, dócil, o cavalo traz inúmeros benefícios físicos e intelectuais aos pacientes de equoterapia.

“Para estar em cima de um cavalo o corpo todo precisa estar em estado de atenção para manter o equilíbrio, o que favorece o desenvolvimento de uma postura correta para a respiração e a melhora da coordenação motora”, concluiu.


 

 

 

 

 

A terapia proporciona ao Gabriel segurança e auto-estima

“Quando não vou, eu fico com saudade”

Petisco e Pipoca. Esses são os nomes dos cavalos que há nove meses veem fazendo a diferença na vida do estudante José Júnior Pessoa, 19. Diagnosticado aos 15 anos de idade com autismo, o jovem encontrou na equoterapia um meio de controlar a ansiedade, vencer os medos e ultrapassar barreiras.

A mãe de Júnior, a manicure Irenilda Pereira, 41, conta que a melhora na qualidade de vida do filho já é perceptível graças ao trabalho da equipe Rancho Porta do Céu, local onde o rapaz pratica a equoterapia, em Rio Branco. “É apenas uma vez por semana e dura 30 minutos. Porém, a melhora é tão significativa que parece que aquele pouco tempo valeu muito mais. Quando o Júnior vai para a equoterapia no sábado, ele passa o restante da semana tranquilo, relaxado”, descreve.

José Júnior enfrentou durante a vida muitas dificuldades e uma delas foi o déficit de atenção. Isso limitou o desenvolvimento dele em ler e escrever. Atualmente, o jovem cursa o oitavo ano do ensino fundamental, mas, segundo Irenilda, ele já poderia ter concluído o ensino médio.

“O diagnóstico dele veio tardio, por falta de profissionais no Acre que pudessem dizer o que ele tinha. O Júnior chegou a repetir a primeira série cinco vezes, porque não conseguia ler. Depois disso comecei a ir para a escola junto com ele e a ficar na sala de aula. Passei dois anos estudando junto com o meu filho, porque ele não ficava lá se eu não estivesse”, relata.
O fato de ter que acompanhar o filho durante todo esse tempo na sala de aula prejudicou Irenilda no emprego. Por isso, na época, ela decidiu relutar e não ir mais, afinal, era papel da Secretaria de Educação disponibilizar um mediador. “Ele precisava ser independente. Não havia inclusão na época. Isso ficava apenas no papel. Hoje, já faz quatro anos que o Júnior conta com uma mediadora na sala de aula, porque a diretora da escola onde ele estuda lutou por isso até conseguir”.

Quando recebeu o diagnóstico do médico de Rondônia, o neuropediatra Marcos Antônio, sobre o autismo do filho, Irenilda ouviu falar pela primeira vez da equoterapia. O tratamento para o Júnior também foi indicado pelo médico psiquiatra Leandro Reveles, especialista em autismo. Porém, na época, não existia essa atividade no Acre.
Anos depois, por meio de uma tia do José Júnior, que também tem um filho com autismo, ela ficou sabendo sobre o trabalho desenvolvido no Rancho Porta do Céu. “Procurei o local e deu tudo certo”.

Para ajudar Júnior a melhorar a escrita e a leitura, na equoterapia, os profissionais do rancho lhe mostram um quadro com letras coloridas enquanto ele está em cima do cavalo. Ele é estimulado a formar palavras e a ler. “Na escrita ele melhorou, porque quando ia fazer a letra A, por exemplo, devido à ansiedade, ele cobria a letra várias vezes e acabava rasurando o caderno. Hoje, ele já escreve sem precisar ficar voltando e cobrindo as palavras”.

Além da ansiedade e da dificuldade em ler e escrever, a equoterapia também ajuda Júnior a superar o problema do transtorno obsessivo-compulsivo, mais conhecido como TOC. Irenilda conta que ele não conseguia tocar em nada melado ou suado.

“Nesses nove meses eu já consigo notar um avanço muito grande. Por conta de um procedimento cirúrgico, ele precisou se afastar por três meses e nesse tempo eu senti a falta que a equoterapia fez. O amor que ele tem pelo cavalo é inspirador. Na hora em que o Júnior chega ao rancho, ele abraça e beija o cavalo, que está todo suado”.
E se perguntar ao próprio José Júnior o que ele mais gosta no Rancho Porta do Céu, ele não vai nem titu-bear: “gosto de andar de cavalo. Gosto do Pestisto e do Pipoca. Quando não vou, eu fico com saudade”.

 

 

 

 

 

 

Mãe de José Júnior, Irenilda não abre mão de ver o filho superar os desafios

 

 

 

 

 

 

 

Paixão pela equoterapia ajuda Júnior a enfrentar barreiras e melhorar nos estudos

 

A Gazeta do Acre: