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Programa Quero Ler avança e deve alfabetizar 12 mil pessoas até o final deste ano

O Quero Ler é um programa do Governo do Estado em parceria com o Governo Federal e tem como meta erradicar o analfabetismo no Acre até o final do ano de 2018

Programa Quero Ler avança e deve alfabetizar 12 mil pessoas até o final deste ano

Lançado em junho de 2015, o programa Quero Ler – que visa erradicar o analfabetismo no Acre – já alfabetizou quase cinco mil alunos. Somente em Rio Branco, mais de 329 turmas estão em funcionamento. Ao todo, até o final deste ano, o programa deve levar educação a mais de 12 mil pessoas.
O Quero Ler é um programa do Governo do Estado em parceria com o Governo Federal, e tem como objetivo erradicar o analfabetismo no Acre até 2018 em pessoas maiores de 15 anos. Até 2015, 13,5% da população do Estado não sabia ler nem escrever.

A oportunidade de alfabetização será estendida para o interior do Acre. Os municípios de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó devem receber o programa nos próximos meses.
“Nós trabalhamos através da mobilização da comunidade, esse é um movimento que funciona de lá para cá. É o primeiro sinal de que está dando certo”, disse o coordenador do programa, Evaldo Viana.

Associações de moradores, igrejas, escolas e até residências localizadas nas comunidades adeptas do programa funcionam como sala de aula. A vontade de aprender a ler e escrever ultrapassa a disponibilidade de espaços físicos. Para os alunos, o mais importante é mergulhar no universo da leitura.

Viana destaca que a faixa etária predominante nas salas de aula é acima de 40 anos de idade. Para ele, os números são reflexos da falta de oportunidade que essas pessoas enfrentaram no passado.
“Nós sempre perguntamos a origem dessas pessoas e a maioria são de seringais, colônias, áreas de difícil acesso, onde eles não tinham acesso à escola. Não foi falta de vontade de estudar, tanto é que agora essas pessoas mostram interesse em se matricular e continuar estudando”, explicou o coordenador.

Uma das principais inovações na metodologia do Quero Ler é utilizar o menor tempo de curso para alfabetizar os alunos. A ideia é que a formação se conclua em cinco meses, com seis horas semanais. Depois disso, os alunos são encaminhados para outros programas consolidados de aceleração de aprendizagem como a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

O coordenador do programa conta que os depoimentos dos alunos são emocionantes. Desde pessoas que aprenderam a ler e já conseguem pegar um ônibus sem a ajuda de ninguém, até alunos que sonham em se tornar chef de cozinha, por exemplo.

Por fim, Viana destaca o apoio e incentivo do governador do Estado. “Toda semana o governador visita ao menos três pontos do projeto. Isso também é um incentivo para os alunos. Muitos aproveitam para agradecer a oportunidade de estudar”.

Uma das principais inovações do programa é utilizar menor tempo de curso para alfabetizar os alunos

 

Quero Ler leva educação e esperança a jovens e adultos

Diretor da Escola João Paulo I, Davi Pinheiro, conta que participou da elaboração do programa Quero Ler. Educador de jovens e adultos há 25 anos, ele afirma que os resultados do projeto são positivos e gratificantes. Mais que educação, o programa leva esperança e liberdade para os alunos.

“Poder atender esse público dentro da escola a qual hoje eu estou na direção está sendo um prazer. Vejo um progresso bem significativo na aprendizagem dessa turma. Muitos chegaram aqui e não conheciam uma letra sequer. Hoje, alguns já sabem ler e conseguem pegar um ônibus sozinho, escrevem pequenas frases, esse é um progresso bem significativo”.
Hoje, a escola atende cerca de 70 pessoas através do programa. Todos os dias a noite, o pátio da instituição se transforma em uma grande sala de aula, onde jovens e adultos se reúnem com o mesmo objetivo – a alfabetização.

Apesar de estar na escola o dia inteiro, o diretor se desdobra para acompanhar a evolução dos alunos que participam do programa também no período noturno. Para ele, o programa é o pontapé inicial para erradicar o analfabetismo no Acre.

“Nós temos a intenção de ser o primeiro estado do país a erradicar o analfabetismo e esse é o primeiro passo: acolher os alunos na escola, respeitá-los e oferecer educação de qualidade”, acrescentou Pinheiro.

A oportunidade do saber

Você já sentiu vontade de fazer algo, mas desistiu por achar que era tarde demais? Para os alunos do Programa Quero Ler, a idade não é obstáculo para realizar sonhos. Uma grande conquista para muitos deles pode estar nas pequenas coisas como pegar um ônibus corretamente, escrever o próprio nome e até mesmo se orgulhar da escolaridade.

O saber é algo que não pode ser tirado de quem o conquista, os mais velhos costumam dizer. E é para correr atrás dessa sabedoria e do conhecimento que os alunos adultos buscam esse programa.
Alguns nunca haviam pisado na escola antes. Outros se sentiram prejudicados a vida inteira por não poder provar no papel a escolaridade. O mercado de trabalho não perdoou e esses tiveram algumas limitações no dia a dia.

Incompletos, hoje, eles buscam sonhos antigos, porém muito fortes, de aprender a ler e escrever.

O primeiro a chegar da turma

O aposentado Raimundo da Silva, de 68 anos de idade, estuda há 2 meses pelo Programa Quero Ler. O sorriso no rosto e a pontualidade são algumas de suas características.
Todos os dias de aula, ele se arruma, coloca o caderno debaixo do braço e segue rumo à escola. Seu Raimundo é o primeiro a chegar e faltar não é com ele. “Eu não perco aula. Faltei apenas uma vez, porque estava doente”, justifica.

As mãos marcadas pelas rugas do tempo e trêmulas desenham o próprio nome no caderno. Feliz, ele faz questão de mostrar o que já escreveu.
O aposentado conta que o convite para estudar veio do professor do programa, que mora perto dele. Dedicado, afirma que agora não pensa em deixar a sala de aula e quer continuar aprendendo até quando lhe for possível.

Raimundo da Silva alega nunca ter estudado antes por falta de oportunidade. Ele morava no seringal. Lá, não tinha escola.
Ainda não consegue ler o letreiro do ônibus, mas demonstra otimismo ao dizer que isso é só questão de tempo.

“Meu maior sonho é ficar bom na leitura para poder pegar o ônibus tranquilo, sem me preocupar de entrar em um errado e ir parar em um bairro desconhecido”.
Entre tantos benefícios que o programa trouxe para o seu Raimundo, o que ele mais gosta é a chance de poder se encontrar com os amigos da turma nas aulas. Isso o motiva.
O aposentado afirma que teve o apoio da família, mas que poucos ainda estão vivos para ver a vitória dele. “Eu não tenho mais pai e nem mãe. Tenho apenas irmãos e eles estão muito felizes comigo estudando. Meus sobrinhos também acharam legal”.

Raimundo da Silva aprendeu a escrever o próprio nome aos 68 anos de idade

 

Autônoma comemora o sonho de aprender ler a Bíblia

A maioria dos alunos que participam do Programa Quero Ler nunca havia frequentado uma escola antes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A autônoma Maria Mota, de 66 anos de idade, pode-se dizer uma pessoa feliz. E ela tem um motivo muito especial para isso. Após mais de seis décadas, ela finalmente está conseguindo ler seu livro predileto: a Bíblia.

Maria frequenta a escola atualmente para realizar esse sonho. E a autônoma está conseguindo. Revela que já sabe ler o salmo 91, mas a vontade mesmo é de ler tudo. “Levava ela [Bíblia] para todo lugar. Quando ia à igreja ficava pensando nisso, que não podia ler a Bíblica. Agora vou poder”, comemora.
Maria viveu parte da vida no Seringal Barra Nova, próximo ao Rio Purus. Ela alega não ter tido oportunidade de estudar até então. “Lá a vida era muito difícil e não tinha nem escola”, lembra.
Pisar em uma sala de aula como aluna trouxe para a autônoma um novo sentido na vida. Ela conta estar muito satisfeita com os avanços que tem feito. “Já sei escrever o meu nome e algumas outras coisinhas também”.

Assim como o seu Raimundo da Silva, as aulas do Programa Quero Ler têm ajudado Maria a pegar o ônibus certo para ir para casa e isso, para ela, já é uma grande vitória.
“Antes eu não sabia de nada. Para pegar um ônibus, eu saía perguntando. Sempre alguém me auxiliava. Deus abriu a minha mente. Foi Deus. Eu não sabia de nada. Agora, estou querendo ler tudo em todo canto e as meninas lá de casa ficam só achando graça”.

Maria encontrou na família todo o apoio para frequentar a escola. “Meus filhos chegaram para mim e disseram: vá mãe, vá estudar. A senhora não tem mais filho pequeno”.
Estudar se torna ainda mais prazeroso quando quem ensina gosta do que faz. Maria destaca a boa vontade e a paciência do professor. “Ele é como um pai”, afirma.

Maria Mota contou com o apoio de toda a família para estudar

 

“Parece que a minha cabeça está expandindo”

Algumas surpresas da vida tiraram a autônoma Odicéia Moura Sampaio, de 47 anos de idade, da rota que havia planejado para si.
Ela recorda que no passado foi transferida de uma escola para outra, onde a mãe morava. Ficou nesse lugar até a quinta série.
Contudo, quando se mudou para a cidade ela engravidou. A maternidade a fez escolher largar os estudos para cuidar da filha, pois não tinha com quem deixá-la. Dessa forma, Odicéia não conseguiu concluir o primeiro grau.

“A escola que eu estudava no interior, que hoje fun-ciona como um centro de recuperação do Dr. Donald, pegou fogo na época. Com isso, não tive como pegar um histórico escolar, pois o fogo consumiu tudo. Assim eu não pude comprovar o meu grau de escolaridade”, afirma.

Apesar das circunstâncias da vida, ela nunca esqueceu a vontade de concluir os estudos. “Hoje, minhas filhas já estão crescidas, já terminaram os estudos e eu estou ficando velha sem estudar. Agora, eu estou com fé de que vou conseguiu concluir o que não consegui antes”, afirma ao declarar que faz parte do Programa Quero Ler.
Ela mora em frente à escola e confessa que não dá para rolar preguiça. É um sonho se concretizando.

“Parece que a minha cabeça está expandindo. Aqui eu aprendi coisas que já havia esquecido, além de outras coisas que eram novidade para mim. O meu professor explica até dez vezes se a gente quiser. Ele é muito paciente. Antigamente, o ensino era diferente. Considero a alfabetização de hoje bem melhor”.
Odicéia revela que não tem planos de cursar uma faculdade. Ela aponta a dificuldade de se conseguir emprego depois de certa idade. O mercado de trabalho é exigente e, às vezes, exclui algumas pessoas.

“O meu sonho é só saber que eu conclui o segundo grau, porque tudo o que a gente vai fazer é pedido o grau de escolaridade e isso eu não tenho. Quero me preparar para o mercado de trabalho. Sou consultora de produtos de beleza. Pos-suindo mais saber, creio que tudo ficará mais fácil para mim”, declara.

Quero Ler muda rotina de moradores do Bairro da Paz

É numa sala cedida junto à Comunidade Nossa Senhora de Fátima que funciona uma das quatro turmas do programa Quero Ler do bairro da Paz, em Rio Branco.
Na noite de sexta-feira, 19, cerca de 20 adultos, a maioria acima dos 30 anos, deram uma pequena parada nos ensinamentos para aprender a ler e escrever, e receberam a visita do governador Tião Viana, criador do programa que pretende eliminar o analfabetismo no Acre até 2018.

Só em Rio Branco, o Quero Ler reúne 329 turmas, responsáveis pela alfabetização de mais de sete mil alunos, a maioria entre 30 e 75 anos.
Até 2018, a meta é atingir 60 mil pessoas, erradicando de vez o analfabetismo do Acre, com um investimento de R$ 26 milhões.
“Quero agradecer imensamente por vocês estarem aqui estudando. Cada um tem sua realidade e estão alterando ela agora. Muitos de vocês fizeram pelos filhos aquilo que não puderam fazer por vocês mesmos, como dar a educação. Então, agora esta é a oportunidade de vocês, porque não saber ler é como não ter liberdade”, disse o governador Tião Viana.

Nunca é tarde

Aos 71 anos, José Brasil Dourado é um dos mais animados da turma. “Eu me sinto feliz e forte no meio desse grupo. Meu sonho é ser um grande artista no Acre, fazendo todas as minhas rimas sem errar, pois estou estudando para aprender”, explica o homem, que, mesmo sem ler e escrever, declara grandes poesias.

Dourado ainda conta que veio de uma família muito pobre e que ela não apoiava os estudos dos filhos. “Meu pai dizia que a caneta do filho do pobre era o cabo da enxada, mas agora estou estudando, e meu orgulho é ser forte”, relata, emocionado.

Outra entusiasta da turma, Sebastiana Carvalho, de 51 anos, conta com admiração que suas duas filhas são formadas em Assistência Social e Administração. Agora, a senhora, que conhecia apenas o alfabeto e cortou seringa por 33 anos, aprende a juntar as palavras.

“Amo estar aqui na sala de aula. Vim para cá e achei ótimo, maravilhoso. Não quero sair daqui enquanto não aprender tudo, porque gosto de estudar e preciso saber ler, pois quero tocar violão”, revela.

Visitas ilustres

Ex-coordenador do Quero Ler, o agora deputado federal Moisés Diniz ressalta o orgulho pela continuação do programa, agora nas mãos de Evaldo Viana.
“Este foi o programa pelo qual mais me apaixonei. O Tião Viana já foi mentor de grandes projetos, importantes obras, mas este é o mais poderoso deles, porque abre os caminhos da alma humana”, comentou Diniz.

Outra pessoa que acompanhou a visita foi o jornalista e filósofo Marcos Afonso. “É fácil encontrar no dia a dia gente desanimada, pessimista. Agora, encontrar seres humanos com vontade de adquirir conhecimento é difícil. Vocês são nossos heróis”, disse, encantado com o que viu. (Agência Acre)

 

A Gazeta do Acre: