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O Sentido da Vida!

Outro dia, alguém me argüiu sobre o verdadeiro sentido da vida. Respondi sem pestanejar: O verdadeiro sentido da vida é VIVER. Simples assim!
Não é à toa que, filosoficamente, sofremos quando nos é ou são tirados os prazeres, sejam os naturais e necessários (comer, beber água, dormir, etc.); sejam os naturais não necessários com suas variações supérfluas; sejam os naturais e vãos, como as riquezas e o poder. Viver torna homens e mulheres, acostumados com algum bem-estar, notadamente no item afetivo: A família e os amigos; a casa e o lugar ou qualquer outro bem de consumo; os animais de estimação; etc.

Essas perdas, reitero, nos trazem pequenos e grandes sofrimentos. Este sofrimento, especialmente das pessoas mais abastadas, é grande, porque viviam prazerosamente, e quanto maior for o deleite perdido, maior a dor ou o sofrimento. Em outras palavras, o sofrimento humano é ocasionado pela privação daquilo que nos traz felicidade, prazer ou alegria: a prisão é a negação da liberdade; a morte é a privação da vida; a fome é a ausência do alimento; a sede é a privação do saciar-se com a água; a escuridão é a privação da luz; o caos é a negação da ordem; a doença no corpo humano é a falta de saúde plena; etc.

O ápice dessa privação ocorre quando, às vezes até de forma repentina, perdemos, principalmente de forma trágica como foi o caso dos amigos e parentes dessa família, pai, mãe e três filhos menores, que num acidente brutal na BR- 364, tiveram suas vidas ceifadas, então sofremos, porque o sentido da vida, que é VIVER, já não é mais. Alias, essa é uma máxima materialista do filósofo Martin Heidegger: Quando o homem nasce é o SER, quando morrer é o NÃO-SER, dizia o existencialista.

Por outro prisma, o sentido da vida é viver e lutar pela preservação da vida, enquanto existência terrena, de olho ou vislumbrando uma vida eterna. Mas, isso não é uma, dentre tantas, falácias das religiões? Pode alguém perguntar. Talvez, mas há quem acredite num outro sopro de vida. Este escrevinhador, inclusive. Aliás, para os que não acreditam nessa outra aura de vida, faço minha as palavras de Marco Túlio Cícero (106-43 a.C) Cônsul da República Romana: “ E se erro ao pensar que as almas dos homens são imortais, erro voluntariamente, e não quero que me tirem desse erro enquanto vivo, porque nele está meu prazer; e se depois de morto (como crêem certos filósofos de pouco renome) não existir nada, não temo que os filósofos mortos ponham-se a rir de meu erro”.

Outra abordagem, essa de cunho particular, é a modalidade de vida. Na minha ótica, fazendo uso das palavras de Platão, por exemplo, a vida verdadeira é o retirar-se do constrangimento das circunstancias puramente naturais, e o viver em prol da virtude, e não somente para os prazeres. Pois, para o homem que vive diletantemente, ou vida desregrada, a própria morte é um verdadeiro terror. Afinal, diria o próprio Platão: por que eu deveria temer a morte, cuja natureza não posso compreender, ao invés de fugir dos males desta vida que conheço bem demais?

Paradoxalmente, a humanidade, com raras exceções, está na contramão do verdadeiro sentido da vida, que é viver. , dos quatro cantos do mundo, em relação ao futuro guarda estreita relação com o crescente grau de consciência de que a busca do progresso, que se anunciava como vetor da construção de uma utopia de bem-estar e felicidade (viver bem) revelou-se como ameaça.

Vivemos a tal biofobia, horror à vida. Somos homicidas. Fomos criados para a vida, mas preferimos a morte. Dos quatro cantos do mundo, ecoa um pessimismo em relação ao futuro. Permeia, em no coração da humanidade, a consciência de que a busca do progresso, que se anunciava como vetor da construção de uma utopia de bem-estar e felicidade (viver bem) revelou-se como ameaça.

Realidade que nos remete a uma urgente necessidade de se estabelecer uma moral capaz, como queria o filósofo Emmanuel Lévinas, de proteger o homem contra o próprio homem.

Ainda assim: Viva a Vida!

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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