O programa Profissão Repórter da TV Globo, apresentado na última quarta-feira (09.11.2016) enfatizando o Saneamento Básico no Brasil, destacou o município do Jordão/Acre, como referência de pobreza e miséria, entre todas as cidades da Região Norte do País. Tal documentário vem confirmar o que todos nós destas plagas já sabíamos ou sabemos, por mais de uma década, sobre a sofrível condição da maioria dos municípios acreanos.
Somente para aguçar as nossas mentes, em agosto de 2011, seis anos atrás, li em www.agazeta.net uma pesquisa, alusiva aos índices de IDH no Estado do Acre, que nos deixou, no mínimo, penalizados. “A grande maioria dos municípios possui estimativas muito altas de prevalência de desnutrição infantil, destacando-se o Município de Jordão com as piores estimativas de prevalência de desnutrição segundo o indicador de déficit de estatura para idade (44,6%).
Uma pesquisa da Universidade Federal do Acre e da Universidade de São Paulo analisou a prevalência de anemia e fatores associados no Município de Jordão, um dos mais pobres e isolados do Acre.
O resultado do estudo mostrou que a prevalência geral de anemia foi de 57,3%. Considerando-se a população de crianças com ascendência indígena residente na área urbana, a prevalência de anemia foi de 37,5%, valor que aumenta consideravelmente na zona rural, onde 64,3% das crianças com ascendência indígena eram anêmicas. “
Agora, com este “documentário” da TV Globo, com base em dados do IBGE, dos 5.565 ou mais municípios do Brasil, o Jordão está inserido entre as 10 cidades mais pobres do País. Parece óbvio, que neste município, com o passar dos dias, os problemas se agravam cada vez mais.Aqui, aquela máxima: “Já foi pior!” não cola, pois a cidade de Jordão, dia após dia, infelizmente, piora!
Essa distinção na realidade social de Jordão, que pode ser intencional ou não-intencional, revela a ausência de programas de ação social que minimizem, em parte, as agruras dos filhos deste município, pois não há dúvidas que esses acreanos estão sendo vítimas de descaso por parte do poder público.
À luz destes fatos brutais, qualquer pessoa com QI um pouquinho acima de idiota pode deduzir, que estamos longe do desenvolvimento, que os filhos dessa nação necessitam e merecem. Assim, apesar de todo o avanço da ciência e da tecnologia não conseguimos minimizar (erradicar é utopia) na área de saneamento básico, entre outros males físicos que nos afetam, as agruras de municípios, em situação idênticas, ou piores, ao Jordão.
Faz 12 anos, aproximadamente, que eu tracei um quadro ou perspectiva, produto da minha mente obtusa e pessimista, que muitos municípios do Brasil, continuariam vivendo, no ano de 2010, a dura realidade da ausência de saneamento básico, isto é: utilizando privadas (daquelas!) de fundo quintal, ao mesmo tempo em que seriam detentores, como forma de entretenimento, de aparelhos celular portátil com TV e todos os seus aplicativos de comunicação instantâneos.
Esta minha “profecia” pessimista, foi além de 2010, afinal estamos em 2016. Fato constatado, pela equipe de reportagem da TV Globo. No Jordão, a maioria da população faz uso de “buracos” ou banheiros de fundo de quintal. Esses buracos, especialmente em tempo de chuvas, transbordam e seus dejetos deságuam no Rio, onde a população pesca; toma banho e utiliza a água para beber Enfim!!
Em 2050, diz o IBGE, o nosso contingente populacional poderá alcançar os 259 milhões de habitantes. Até lá teremos de pensar nossos irmãos em situação de miséria, com soluções que não se resumam em planos assistenciais. Pensar o Jordão. Um município isolado, separado de tudo e de todos. Pensar, sem esquecer, que os eleitores desta esquecida cidade contribuem para eleger uns e outros políticos, destes que vivem a gastar nababescamente em farras nas praias do Nordeste, ou tomando vinhos caríssimos em churrascarias 5 estrelas de Brasília.
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br