No ocaso deste ano tenebroso, de fatos brutais e de realidade dura e cruel em suas múltiplas facetas, onde poucos, pouquíssimos mesmos, sobrevivem dignamente. Onde os votos sinceros de melhores dias ficam apenas no campo das utopias, dos sonhos, ou das quimeras, uma vez que os sonhos não se sobrepõem à realidade. Pois bem, no fenecer deste ano, me apego a Bendita Esperança, que faz morada no coração de todo ser humano, Seja aqui, em Rio Branco, ou em Alepo na Síria. Sejam os sobreviventes daqui, sejam os de lá! Sei, entretanto que não se vive de esperança e que, na situação atual, não cabem mais utopias do tipo que exige da gente a capacidade de perseverar face às dificuldades, ou até mesmo sofrer tudo sem perder o ânimo.
Nesse caso, não estou aqui, querendo incitar com tenacidade, própria de cidadão sofrido, o meu próximo muitíssimo provado por meios de perdas, sofrimentos e outros males existenciais. Não! Especialmente, porque a esperança é uma expectativa milagrosa, e os milagres não são determinados por nós.
Essa ESPERANÇA, que se renova com a chegada do novo ano, passa por soluções que nos tire dessa situação sinistra que nos deixa num estado de total desesperança. É, antes de qualquer de qualquer expectativa passageira, um exercício duma cultura que resista a desesperança. É um ato, modo ou efeito de cultivar de modo permanente, “como flor enigmática”, nos corações de homens e mulheres de infortúnios, que buscam reconhecimento e tem sede de transformação, diria Ernst Bloch (1885-1997) no “Princípio da Esperança”!
Que essa esperança, nos faça unidos em solidariedade. Alcance o mundo com uma paz total. Ou melhor, que nos estimulemos uns aos outros para o exercício duma cultura de paz. Como, oportunamente, pede o Editorial desta A Gazeta do 26.12.2016: “Contudo, é preciso insistir na cultura da paz e no repúdio à intolerância política, religiosa e racial, que é uma das principais causas que está desencadeando essas atrocidades que se assiste diariamente, nos mais diferentes pontos do planeta.”
Sim, cultura de paz, aos povos do mundo contemporâneo que parecem desconhecer as dimensões da ESPERANÇA. Talvez porque esperar demanda tempo. Tempo requer paciência, uma virtude rejeitada pela geração da comida rápida, do controle remoto e dos carros velozes e vorazes. Temos que ter FÉ e ESPERANÇA no CRIADOR, bem como nos poderes constituídos (por que não?) e caminhar com coragem e calma. Visto que, em 2017, temos apenas ESPERANÇA de melhores dias, pois só Deus sabe o que ainda virá, quer no campo da fome e das doenças endêmicas que sorrateiras continuam agoniar os países ditos de terceiro mundo; quer na violência urbana com suas assombrosas conseqüências.
Por conseguinte, de modo redundante, a esperança é uma forma de “perseverança” ou “paciência”, uma espera paciente pelo cumprimento daquilo que o homem interior diz que ocorrerá, por causa de sua confiança em Deus. Especialmente, porque vivemos um contexto social em que o povo está com os nervos à flor da pele, tendo a ansiedade como seu grande algoz, e só superação não assegura aos nossos corações que dias melhores irão surgir. Nem o sentimento de total expectativa pode nos fazer superar, num passe de mágica, os apertos cotidianos. Num país de 12 milhões de desempregados e que 10% da população detém 43% de toda renda nacional, é miragem pedir forças redobradas para uma gente que já paga um alto preço para viver em sociedade.
Todavia, à luz da fé cristã, uma vez que a nação brasileira se diz, em sua maioria, evangélica e católica, que a nossa esperança seja renovada em 2017 e encha o coração, a alma e o pensamento dum povo que vive de esperança em esperança, sem fim. Que paire sobre nossas vidas, um sentimento renovador para zerar os ponteiros e “começar tudo de novo”. Esperanças renovadas dum Feliz e Próspero ANO NOVO!
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br