Causa-nos estranheza que um cientista que se propõe a fazer a análise da dinâmica do desmatamento na Amazônia baseie seu estudo em uma única informação. É de estranhar também que o dito cientista desconsidere as análises positivas, as quais jamais foram temas de seus artigos, afinal, temos em nosso histórico a redução de 64% do desmatamento de 2004 a 2015, e 15% de 2014 a 2015 no Estado do Acre.
E sobre os dados de 2015 a 2016, a Amazônia teve um dos piores anos de queimadas de sua história, também segundo dados da Nasa, a agência espacial americana, e da Universidade da Califórnia em Irvine (EUA), desde 2001 . Segundo as instituições, o risco de incêndios graves foi superior a 90% em todas as dez regiões por elas analisadas, incluindo os estados da Amazônia brasileira, boliviana e peruana.
Em comparação com os dados da Amazônia (125.423 focos de calor), o Acre foi o que menos queimou entre os sete estados da região da Amazônia brasileira. Isso se deve a uma política que vai além do comando e controle e tem como principal estratégia o fomento na área rural e florestal, com investimentos robustos nas cadeias produtivas sustentáveis. Em 2016, na Amazônia foram desmatados 7.989 km2, dos quais 75% ocorreram nos estados de Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, com o Acre respondendo apenas por 4,8%.
Portanto, é agir de má fé não reconhecer os avanços da política ambiental do estado que, inclusive, só recebe incentivos devido aos seus resultados.
O Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) emite, em tempo quase real, os indicadores de queimadas/incêndios florestais, ou seja, o número de focos de calor para cada município da Amazônia, e por meio do Projeto de Monitoramento da Amazônia por Satélite (Prodes), os dados de desmatamento, facilitando o trabalho de monitoramento dos estados.
Além disso, o governo do Estado do Acre dispõe de uma Unidade de Monitoramento Hidrometeorológico, em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Unidade Central de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Ucegeo), utilizando esses dados diariamente para acompanhar a dinâmica das queimadas e desmatamento em todo o estado, a partir dos quais são emitidos alertas pela Plataforma Ambiental TerraMA2, implantada em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
As análises feitas com auxílio de satélites mostraram que a quantidade de água no solo na floresta este ano foi a mais baixa desde o início das medições, e, nesse aspecto, 2016 superou os anos de 2005 e 2010, anos em que a Amazônia viveu duas das piores secas de todos os tempos. Estudos realizados pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastre Naturais (Cemaden) , mostram que, além do déficit de chuvas na região em 2016, o estado foi submetido a um estresse térmico sem precedentes, afetando a vegetação e com fortes impactos sobre as pastagens e a produção agrícola, motivo pelo qual muitas áreas foram afetadas pelo fogo sem controle, promovendo a degradação florestal. Portanto, estamos à frente de um fenômeno climático extremo e recorde, com elevação de 1oC na temperatura média do planeta.
Mesmo que no artigo do autor, Élcio Rodrigues, fique claro que a discussão de mérito não é de seu interesse, não podemos concluir esse texto apenas contrapondo a uma análise restrita e equivocada, sem mostrar os argumentos baseados em resultados concretos que temos, tais como a elevação de 4,4% do PIB estadual em 2014, somado a um superávit primário em sua receita em 2016, num cenário nacional de desaceleração do crescimento. Vale destacar que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta o Acre como um dos estados brasileiros com os melhores resultados em educação.
Queremos deixar bem claro que a nova economia em curso no Acre é direcionada para um modelo de desenvolvimento de gestão integrada do território, com fortalecimento de sua base industrial, por meio do incentivo à agricultura e pecuária diversificada e produção florestal em áreas já convertidas, inserindo um alto padrão de tecnologia e redução de impactos ambientais.
Essa visão contemporânea exerceu uma forte influência sobre outros estados amazônicos brasileiros e de fora do Brasil, que colocam o Acre como um líder global na inovação de desenvolvimento com baixas emissões de carbono, diferentemente do que acusa o autor.
Organizações governamentais e não governamentais, como Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), WWF, Center for International Forestry Research (Cifor), Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam) e Earth Innovation Institute (EII), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Environmental Defense Fund (EDF), entre outros, ao se posicionarem e reconhecerem o alto desempenho econômico e socioambiental do Estado, fazem-no com base em altos critérios.
Diante ante de tudo o que fora exposto e explicado, pedimos somente uma coisa: não queime nem desmate a verdade, professor.
*Por João Paulo Mastrângelo, secretário adjunto de Meio Ambiente, e Paulo Roberto Viana, diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre