Semana passada, o governador Tião Viana anunciou o pagamento do salário de dezembro e o décimo terceiro salário. Serão R$ 420 milhões em circulação na nossa economia, somente com esse desembolso. Alguns dirão que fazer isso é obrigação de todo e qualquer governante. Está no seu direito quem pensa assim.
De fato, é verdade que pagar salário é obrigação de todo e qualquer governante, mas não é isso que temos visto pelo país a fora, onde a maioria dos estados atrasou, parcelou ou simplesmente deixou o funcionalismo a ver navio na questão salarial.
Iniciei o texto falando sobre salários de servidor público por ainda ser este uma das principais bases da economia acreana. Falo sobre isso também porque quero destacar que, ao chegar ao último mês do ano, a impressão que temos é de que ainda há muito por acontecer.
Digo que há muito por acontecer porque turbulências e reviravoltas marcaram o cenário econômico e político brasileiro em 2016. Vivemos tempos de incertezas. Num quadro de crise política pintado em cores sombrias, que faz a economia mergulhar na recessão. O pior é o fato de não estar sendo possível enxergar uma luz no túnel.
As barreiras postas em 2016 se refletem nos números. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, no índice acumulado de janeiro a outubro, frente ao mesmo período de 2015, o setor da industrial nacional teve um recuou de 7,7%.
Aqui no Acre não é diferente. Sentimos todo o impacto. Mas, diferente de outras unidades da federação, estamos conseguindo fazer a travessia com força, foco e determinação da classe industrial.
Nessa luta titânica, temos visto a administração estadual fazer verdadeiros malabarismos para manter os salários dos funcionários públicos em dia. Demonstrando, assim, comprometimento para a superação deste momento difícil que o Brasil está passando e que já afetou todos os outros estados, em particular o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, que vivem o caos econômico.
As medidas adotadas pelo governo, diante de um momento de redução de investimentos no país, com cortes nas áreas de educação e saúde, a favor da austeridade da função pública são doloridas, vai afetar a toda sociedade e torcemos para que surtam os efeitos esperados para a retomada econômica. Aqui no Acre o governador Tião Viana tem feito a sua parte. Cortou 545 cargos em comissão e de função comissionada, reduziu em 20% o próprio salário e de toda a equipe de secretários, diretores, presidentes e assessores políticos e cargos em comissão, a fora outras medidas austeras.
As medidas se fizeram necessárias devido, principalmente, à redução dos repasses da União para o governo do Estado, que desde 2011 já somaram mais de R$ 1,1 bilhão, o equivalente a todos os investimentos na Cidade do Povo, caso o projeto fosse plenamente concluído.
Manter o salário dos servidores em dia é uma das coisas mais importantes da vida pública, pois imaginem o impacto positivo e a capilaridade que ocorre no comércio local, garantindo emprego e circulando a renda! Agora no final do ano, em menos de 30 dias, serão pagos os meses de novembro, dezembro e o décimo terceiro salário, movimentando mais de R$ 600 milhões na economia.
Os efeitos do pagamento em dia são imediatamente sentido. Pesquisa realizada este mês pelo IBGE aponta que houve um recuou 0,8% nas vendas no varejo em nível nacional, no mês de outubro frente a setembro, para 15 das 27 unidades da Federação. Por outro lado, somente Acre (2,3%) e Rondônia (1,7%) foram os estados com avanços no volume de vendas mais acentuados.
Os indicadores do Acre, um estado reconhecidamente pobre, são considerados acima da média nacional. Somos um dos quatro estados com maior crescimento do Produto Interno Bruto, entre 2013 e 2014, com 4,4%. Neste avanços, a indústria teve um aumento 6,6% em termo reais, influenciada pelos resultados da indústria de transformação (11,7%) e da construção (4,4%), haja vista que houve recuou no segmento da eletricidade do gás, na ordem de 10,1%.
Ao tempo que sabemos ser a indústria acreana parceira no índices favoráveis, reconhecemos que há muitos desafios a serem vencidos. Há a necessidade da retomada de investimentos para recuperar ao otimismo da classe empresarial. Para contornarmos a crise e voltarmos ao caminho do desenvolvimento, a preferência de atenção e apoio deveriam ser dados ao empreendedor que produz. Esta é a receita básica contra a recessão, ou seja: continuar investindo na produção, aproveitando o espírito empreendedor de seu próprio povo. Aliás, espírito empreendedor e otimista! O acreano, notadamente, é vocacionado para o otimismo. Qualquer relâmpago de boa notícia já nos anima a retomar planos e a fazer investimentos na linha de produção.
O Brasil da recessão precisa ser superado. Já temos mais de 12 milhões de desempregados. Vivemos, segundo palavras do próprio ministro da Fazenda, Henrique Meireles, a pior crise desde 1901, há mais de 100 anos. Mas, com bravura estamos conseguindo atravessar as tormentas. Como bem disse o poeta russo Vladimir Maiakóvski, “não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas”.
*José Adriano Ribeiro da Silva é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre