Observando o cenário atual da nossa cidade, do nosso estado, do nosso país e, até mesmo, do nosso mundo, poderíamos dizer que fazemos parte dos mesmos como atores e atrizes.
Os cenários que nos são apresentados, nos quais todos são atores principais e atuantes de suas próprias histórias da vida real, passam de mão em mão e sempre possuem um final indefinido. E, em se tratando da nossa fraudulenta realidade brasileira, a coisa fica mais complicada.
A nossa caótica cúpula de representantes, que, incrivelmente, é responsável por conduzir as três esferas da nação (municipal, estadual e federal) e que deveria (deveria) ser guiada pela nossa Constituição, leva-nos a usar, de forma irresponsável, o vocábulo “contra”.
Observado a acepção da palavra acima citada, com seu significado retirado de um dicionário online de português, temos os seguintes sentidos: oposição, direção contrária, obstáculo, inconveniência, coisa adversa, dentre outros.
É uma significação simples, todas semelhantes, embora de classes gramaticais diversas.
A questão é que nós, brasileiros, viralizamos (usando uma linguagem bem atual e virtual), talvez de forma inconsequente, devido à nossa ignorância ou falta de informação. É comum, nos dias atuais, que sejamos apenas contra alguma coisa, alguém ou determinado assunto. Não há nada de anormal, é verdade. Porém, o problema reside no fato de que, muitas das vezes, não sabemos justificar as nossas posições, dizer os porquês.
Muitos brasileiros não sabem justificar a oposição à reforma da previdência, à reforma do ensino médio, à reforma da legislação trabalhista, por exemplo. Muitos brasileiros não sabem a razão pela qual a eleição da chapa Dilma-Temer pode ser cassada.
Sobre a política da segurança, da saúde da educação de investimentos, que sabemos que não dá certo, somos todos contra, mas por que somos?
Em diálogos com nossos familiares, somos contra. Nas escolas, alunos e professores são contra. O mesmo acontece nas universidades: a maioria é contra. Mas é certo que poucos são aqueles que possuem justificativas plausíveis para seus contras.
E digo que nosso problema é gravíssimo, mas podendo ser, facilmente, resolvido.
O exercício da leitura, o senso crítico, a necessidade de assistir a um simples noticiário, ler um jornal, uma revista informativa ou participar/acompanhar um debate de especialistas sobre determinado assunto… Maneiras de combater a nossa humilde ignorância.
Possuímos um senso perceptivo que é peculiar dos seres humanos. Temos a noção do certo e do errado, porém muitas vezes por não termos conhecimento argumentativos. Observamos a informação de vários ângulos, sendo, então, que o certo pode se tornar errado, e, mesmo assim, continuamos no contra. Até porque, afinal, a maioria das pessoas usam o contra. Aquele meu professor que admiro é contra, meus pais dizem que são contra, meu amigo – que é muito informado – é contra .
Então vos digo que, apesar do caos que estamos, com perspectivas péssimas, com a falência dos estados, do país como um todo, com nossos representantes sem credibilidade nenhuma para reerguera nação, a impressão que tenho é que as únicas coisas que a maioria de nós ainda não é contra são: na crença em papai Noel e coelhinho da páscoa (e, mesmo assim, poucos sabem a histórias de tais mitos).
No final das contas, é assim que caminha um país onde seus principais atores não querem aprender seus textos e acabam optando pela cultura do contra.
Mas fica sempre o questionamento: por que o contra?
Reginaceli dos Santos
Professora/psicopedagoga