O problema do Acre é que agora que o Green Busines entrou na pauta global (sim, há um movimento poderoso nessa direção) estamos diante de uma séria crise de credibilidade por parte dos gestores locais, que ao longo dos anos utilizaram a retórica do desenvolvimento sustentável de modo absolutamente desfocado da realidade concreta e alheia ao planejamento estratégico, apesar do mesmo ter sido tecnicamente muito bem articulado. Preferiram substituir a necessária correção dos equívocos pelo absurdo do mascaramento da realidade.
Era para realizarem o zoneamento ecológico e econômico e realizaram de modo brilhante, mas não foram raras as vezes que o ignoraram grosseiramente.
Prometeram diversificar a economia, realizaram movimentos importantes e impactantes mas não conseguiram o obvio: persistir.
Prometeram reduzir o desmatamento, e até conseguiram por alguns anos resultados majestosos, mas ultimamente não é o que se tem visto.
Prometeram o manejo madeireiro sustentável, avançaram grandemente no campo da certificação, mas o setor ainda carece de pressão estatal para retirar as laranjas podres que transitam com liberdade no meio, alimentando críticas generalizadas e retirando vantagens competitivas de quem age de acordo e merece fazer jus a elas.
Planejaram aproveitar melhor os potenciais turísticos, mas os avanços nesse campo ainda estão por sair da prancheta do planejamento. Estagnação total.
Iniciaram dialogando fortemente com os setores extrativistas tradicionais, criaram subsídios, mas hoje os ignoram.
Construíram um bom plano para a agricultura familiar para evitar o êxodo rural e ampliar os negócios no campo, mas os dados mostram que a procura pela vida precária nas cidades só aumentou e a sobrevivência no campo está cada dia mais difícil.
Na educação, imprimiram um ritmo brilhante no início, mas hoje vivem das sombras de um passado glorioso e de distorções grosseiras de dados e indicadores.
E o mais grave: não perceberam a escalada do abandono das escolas pelos jovens e sua inevitável relação com a escalada da criminalidade e do abuso das drogas.
No campo da violência, trataram segurança pública como problema só de polícia e entupiram as cadeias de jovens para serem facilmente recrutados pelo crime, ignorando centenas de alertas, que nunca faltaram.
Mesmo com todo esse cenário de tragédia, ainda temos algumas boas bases consolidadas, especialmente no campo da infraestrutura que pode e deve ser aproveitada. Aliás, é o que nos resta.
Nunca é tarde para retirarmos do papel o que não poderá de modo algum ser diferente. O plano de desenvolvimento foi razoavelmente adequado do ponto vista teórico. É fato.
A inadequação se deu no plano do respeito às premissas que foram estabelecidas e também no tocante às opções políticas protecionistas de alguns grupos e a postura equivocada diante das diversas passagens da história.
Que a crise sirva de inspiração para a reflexão. Afinal, quem assumir não terá tanto espaço assim para contestar a direção. Afinal, a crise não é de modelo. É de gestão.
O que é preciso mudar é o modo de caminhar. A estrada será a mesma.
Sigo acreditando no Acre.
Edinei Muniz é professor e advogado