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“Arrotinhos de Bebê!”

Sempre lamentei o emprego de recursos públicos para o usufruto de três dias de folia, enquanto milhares de famílias de dezenas de municípios brasileiros vivem, eternamente, a agonia de conviver com todo tipo de mazelas sociais, produto da ausência de políticas públicas, especialmente, no campo da infra-estrutura. A propósito, agora se sabe os canais de desvios do dinheiro que deveria alcançar este grande percentual de famílias brasileiras que vivem sem a devida infra-estrutura.

Aqui em Rio Branco, é do conhecimento geral, existem bairros que não dispõem de água encanada, esgoto sanitário, luz elétrica e que sobrevivem mal e “porcamente.” Não é à toa, que essas famílias são o foco principal da tal de dengue. Nesse caso, pondero como sensata e acertada, apesar do fato contrariar mundos e fundos, a medida do Governo do Estado em conjunto com a PMRB em não promover, nos últimos carnavais, as folias de Momo. Pois, o dinheiro que é gasto com carnaval, anualmente, pode ser destinado para auxílio das vítimas dos estragos feitos pelas constantes enchentes, nesta época do ano. Igualmente exemplar, tem sido as medidas tomadas pela Gestão do prefeito de São Paulo, João Dória.

Tal medida, mesmo sendo considerada de “anticultural” e outros adjetivos não publicáveis, precisa do apoio irrestrito da sociedade. A Sociedade, apesar de sua “miopia utilitarista”, deve contribuir decisivamente, o que não significa tão somente pagar impostos, tornando o Estado responsável no cumprimento do seu dever, pois nenhum Estado foi suficientemente capaz de solucionar coisa alguma, no campo social, sem o decisivo apoio da sociedade.

Alguém pode insinuar que “nem só de pão vive o homem” que é preciso, uma vez ou outra, um pouco de circo. Acontece que este país é um circo só. O Brasil é um país brincalhão. Vivemos de farras e, quando muito, da cultura de entretenimento apelativa. A malandragem é grande neste país, notadamente dos “marmanjos”. A maioria não quer “nada com nada”. Tal fato remete o meu pensamento para uma assertiva de Jean Paul SARTRE. “Os homens são uns SACANAS”. No plural, respeitando o singular gênero humano. Esta máxima de Sartre, recentemente, foi secundada por Oscar Niemeyer (1907-2012) “…e o brasileiro é mais SACANA ainda”. (sic). De fato, estamos enquadrados, mas bem enquadrados mesmos, naquela definição pejorativa da propaganda dos “tubos e conexões”: “Arrotinhos de bebê!”

É pena, pois o País que circunda o homem brasileiro é, naturalmente, um Brasil rico, que não conhece mais as privações de tempos idos. Contudo, é justamente aqui que a razão caiu em grande ilusão. Em vez de nos tornar, mulheres e homens, consciente dos benefícios e das vantagens da nova sociedade, em vez de fazer-nos refletir sobre os esforços gigantescos dos quais faz nascer novas possibilidades de uma sociedade mais justa, irresponsavelmente, voltamos ou continuamos, no dizer de José Ortega y Gasset (1883-1955) “…a condição mental de homem-massa, um menino viciado, cujo diagrama psicológico caracteriza-se pela livre expansão de seus desejos vitais, isto é, de sua pessoa, e absoluta ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência.”

Em meio à massa consumista, esse homem contaminado ou mal acostumado, pode muito bem ser alcunhado, além de “arrotinho de bebê” de “mamãe eu quero mamar!”

Como tudo é carnaval, até quarta-feira de cinzas, lá vai…!
Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero mamar
Dá a chupeta, dá a chupeta
Dá a chupeta pro bebê não chorar
Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero mamar
Dá a chupeta, dá a chupeta
Dá a chupeta pro bebê não chorar.

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail:assisprof@yahoo.com.br

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