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Reflexão sobre experiência de vida

O texto nasceu da reflexão sobre a vida, especialmente sobre a “experiência de vida”. Mas o que é isso? Como se ganha experiência de vida? Como se caminha na vida ganhando experiência? Como fazem os jovens e aqueles não tão jovens? Como vivem? É fato não se poder negar as vantagens da juventude, mas a experiência de vida, que inevitavelmente só vem com o passar do tempo, não se empresta nem se transfere… a pessoa aprende ou não aprende. A vida é uma boa escola, diria, a melhor escola. Não que a escola tradicional não seja boa. Ela é importante. Há pessoas que aprendem muito ali. Outras ficam perdidas. Somente a vida poderá ditar novos rumos, apontar-lhes outros caminhos.

A experiência de vida, apesar de determinar a visão da realidade, tende a ser esquecida, a permanecer inconsciente. Não se relaciona propriamente às pessoas, porém, a experiência de coisas. Essas são realidades radicadas na vida de cada um. Faz falta outra forma de experiência: a experiência de vida. Faz parte da realidade de cada vida ter uma visão do que é a própria vida. Sem essa visão – mais ou menos consciente – não seria possível viver.

Cada detalhe da vida está afetada pela perspectiva que cada um possui do mundo. Perspectiva espacial, temporal, afetiva. Vital, enfim. Cada pessoa herda uma interpretação das coisas que estão a sua volta. Interpretação não apenas teórica, mas também prática. Essa experiência herdada se junta àquela que a pessoa adquire ao viver e isso possibilita lidar com as coisas ao seu redor, com o mundo que a cerca.

Como se adquire experiência de vida? Sem dúvida, em parte, no contato com outras pessoas. Imagine o leitor uma criança criada por lobos. Será o instinto biológico suficiente para que ela possa viver aquilo que se denomina‘vida’? Isso não significa que cada pessoa não possa trazer a sua própria perspectiva, mas que, certamente, ela se desenvolverá na medida de sua interação com os outros. A vida é sempre convivência. E essa

convivência poderá ser mais ou menos rica, e a riqueza vital de cada um dependerá, em grande parte, disso. Uma criança sendo tratada como pessoa – como alguém insubstituível que é – desenvolver-se-á muito mais do que uma criança tratada como cria, como mais uma entre milhares.

Vê-se, então, que a vida não é uma realidade pronta. Vive-se em direção ao futuro – o ser humano é futurista – uma vez que projeta, imagina a figura de vida que o espera. Assim, a vida é real e irreal ao mesmo tempo e a experiência da vida também o é. E é isso que pode explicar como é possível adquiri-la através dos outros ou mesmo da ficção: histórias, livros, cinema etc. Mesmo o contato com os outros não resultaria em nada, se o ser humano não usasse a imaginação para compreender o outro. A percepção nunca é suficiente para entender a realidade humana, justamente porque a realidade humana inclui, em si, a irreal idade.

De outra parte, o futuro e o passado fazem parte da realidade da vida humana. Eles determinam, também, o que cada um é hoje. Poder-se-ia, também, avaliar uma vida pela forma como se faz presente o passado. É fundamental, às pessoas, apossarem-se dessa experiência, desse subsolo histórico, que condiciona o modo de cada ser humano entender a vida.

É preciso compreender, ao final, que a vida também é luta. Não uma luta que destrói, corrompe, aniquila, violenta, mas uma luta orientada pelo conhecimento edificante que cada ser humano deve ter. A vida deve ser um constante esforço de superação, de compreensão, de realização. Infelizmente, a educação contemporânea, assim como os meios de comunicação, tem favorecido uma interpretação coisificada e fragmentária da pessoa humana, o que acaba por determinar o comportamento de uns em relação aos outros, tratados como coisas. Porém, somente com uma volta à experiência da vida – e uma educação que a tenha em conta – será possível resgatar o sentido da realidade da vida.

De tudo que aqui se diz, indaga-se, ao final, como será guardada, transmitida essa experiência da vida? Nos rituais, livros sapienciais, provérbios, fábulas, anedotas etc. A partir da vida de cada um é possível encontrar e dar um novo posto a essa sabedoria – bastante problemática – mas que é fundamental às pessoas, principalmente na atualidade, quando tanta gente teima em reduzir tudo à realidade de coisas: o ser humano é reduzido ora à biologia, ora à economia, ora à psicologia, ora à sociologia. A educação contemporânea, assim como os meios de comunicação, tem favorecido essa interpretação coisificada e fragmentária da pessoa, o que acaba por determinar o comportamento de uns em relação aos outros, que são tratados como coisas. Porém, somente com uma volta à experiência da vida – e uma educação que a tenha em conta – será possível resgatar o sentido da realidade da vida.

DICAS DE GRAMÁTICA

RESIDENTE À/ NA RUA XV?
A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e semelhantes regem a preposição em, deveria se usar na e não a nos casos específicos. Tudo bem, tanto é que se fala assim:
¨ Residimos na rua Tupi.
¨ A casa está situada na avenida dos Guararapes.
¨ Você ainda mora na mesma travessa?
¨ A sede do Partido se localiza na rua XV.
Mas, por obra do dinamismo da língua, incorporou-se à escrita o emprego de à no lugar de na como complemento de tais verbos diante de logradouros como rua e avenida. O mesmo acontece com seus derivados morador, residente, domiciliado:
¨ Residente à rua XV.
¨ Manoel Silva, morador à rua Bosque, requer…
¨ Vende-se casa (situada/sita) à Avenida Nações Unidas.
¨ Aluga-se imóvel (localizado) à Av. Getúlio Vargas.
¨ Vamos estudar no IESACRE, à R. Ponta Porã, nº 100.
GRAFIA DAS HORAS
¨ A grafia que deve ser adotada em jornais, sentenças, acórdãos, convites, convocações, cartazes e coisas do gênero é a seguinte:
– Hora redonda: às 8 horas; 10 horas ou 10 h [abreviação sem ‘s’ e sem ponto]
– Hora quebrada: às 8h35min; 10h05min; 10h35 [sem dar espaço entre os elementos]
¨ A grafia por extenso – que é menos visual – se reserva para convites formais como o de um casamento: A cerimônia será realizada às dez horas do dia vinte de maio.
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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.

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