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Flores em vida

Em 1994 eu era repórter de política do jornal A Gazeta. Fui escalado pelo Roberto Vaz para entrevistar o governador à época, Romildo Magalhães.

_ Me pergunte o que você quiser, sobre qualquer assunto pessoal ou do governo. Fique bem a vontade.

Com essas palavras iniciamos a entrevista em uma sala anexa à sua casa, no Ipê. Um escritório político.

Antes, porém, lhe fiz um pedido. Que mandasse reformar uma escolinha estadual na minha cidade, Brasiléia, no bairro Ferreira da Silva. Era de madeira. Chovia mais dentro do que fora. As crianças sofriam muito.

Atendeu meu pedido através do secretário de Educação (acho que foi o Alércio Dias). Fiquei muito agradecido porque fez uma escola totalmente nova. De alvenaria.

O tempo passou, vieram outros governos: Orleir, Jorge, o Jorge de novo, o Arnóbio Marques e o Tião Viana. Um dia em sua casa ele me contou uma história.
_ Asterio, rapaz, quando eu era governador no dia do meu aniversário não cabia de tanta gente na minha casa e tanto carro nesse condomínio. Hoje, são os filhos e poucos os amigos que me visitam. Eram os amigos do poder. Faz parte da vida. Não tenho que lamentar nada. Ajudei muita gente quando era deputado, vice e governador. As pessoas se esquecem…

Um dia, eu já deputado, surgiu uma discussão para acabar com aposentadoria de ex-governadores. Fui contra retirar o benefício das viúvas Maria Lúcia de Araújo, Fatima Almeida, Iolanda Fleming e de Romildo Magalhães. Que se retirasse de quem tinha patrimônios ou outra fonte de renda. Criei a proposta da “real necessidade” – Foi engavetada e eu execrado.

Nunca esqueci a entrevista, a escola, e o conselho do Romildo: quando você está no poder os amigos são muitos, mas só os verdadeiros vão permanecer. Sempre haverá uma desculpa para não irem a tua festa, te socorrer na necessidade ou mesmo te visitar em um hospital.
Quem sabe apareçam no velório.

Como dizia o poeta:

Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora.
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais…

Saude e paz governador Romildo!!
Obrigado!

* Astério Moreira é jornalista

A Gazeta do Acre: