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Tião Viana faz balanço de missão aos EUA e detalha planos de intercâmbio de estudantes do Acre/ Colorado

 Após uma expedição de quase duas semanas para o estado do Colorado, EUA, o governador Tião Viana fez um balanço para o Jornal A GAZETA das agendas realizadas e dos encaminhamentos que elas podem gerar para o Acre. A missão rendeu mais negociações para a compra de carnes de boi, peixes e suínos produzidos no Acre para abastecer a bilionária rede de alimentos saudáveis norte-americana, além de projetos para corrigir falhas no setor elétrico local [especialmente em comunidades rurais] e viabilizar propostas de intercâmbios para estudantes acreanos.

O maior exemplo é o anúncio de que estão avançadas as conversas para a instalação de uma sede da Universidade do Colorado/Boulder (UCB) no Acre, que deve oferecer 30 vagas de Mestrado e PhD.

Criticada por oposicionistas como ‘a viagem para aperfeiçoar o inglês’, o governador mostrou indiscutível afinidade com o idioma e citou ser formado há mais de 7 anos na universidade Jefferson de Brasília, uma das melhores do ensino da Língua Inglesa no Brasil. E tratou de ressaltar que a viagem não custou nada aos cofres públicos do Acre. Surgiu de um convite de longa data feito por organismos internacionais, devido ao destaque do Acre na prática de políticas socioambientais e do papel de liderança no GCF (Governadores pelo Clima e Florestas).

 

A GAZETA: Governador, como o senhor avalia estas agendas recentes nos Estados Unidos e qual foi à impressão que ficou da Universidade do Colorado?

Tião Viana: Cumprimos com êxito uma missão de 13 dias de grandes oportunidades para o Acre. Objetivamente já temos resultados. Dois profissionais da Saúde, um patologista e uma cirurgiã pediátrica já estão na Universidade do Colorado, fazendo pós-graduação nas áreas de concentração deles. Já viabilizamos 99% para mais três profissionais da área do Direito, da Engenharia e de Desenvolvimento Sustentável irem para lá até maio, para ficar 17 meses fazendo ou mestrado ou PhD. A Universidade do Colorado é atípica, porque não fica em um dos estados mais ricos dos EUA, embora seja bem desenvolvido. Ela já teve cinco ganhadores do prêmio Nobel. O Brasil ainda nem sonhou em ter um ganhador. Ou seja, eles são muito avançados no Direito e na Engenharia. Dos cinco ganhadores, quatro são de Física e um de Biologia. Nestas áreas e em desenvolvimento sustentável, a universidade é uma das mais avançadas dos EUA. Em Direito Indígena, são considerados um dos melhores do mundo. Tivemos uma reunião com o reitor da escola de Direito e com o reitor geral da Universidade do Colorado. E eles ficaram muito interessados em fazer uma cooperação com o Acre.

 

A GAZETA: Como vai ser essa cooperação?

Tião Viana: Para o ano que vem, queremos trazer a Universidade do Colorado para o Acre. Está bem avançado esse entendimento. Seria firmado um convênio entre o Governo do Estado, Ufac e a universidade de lá para ofertar 30 vagas de Mestrado e PhD. O requisito para o acadêmico será ter a fluência no Inglês. Essas vagas serão para desenvolvimento sustentável com vínculo para as áreas de Engenharia e de Direito. Você imagina que um jovem profissional do Acre fazer um mestrado, tudo custeado pelo governo, e aqui, mas com selo de qualidade internacional, será algo muito bom! Além disso, esse espaço se tornará um campo avançado de prática para as pesquisas da Universidade do Colorado aqui.

 

A GAZETA: E para os estudantes que planejam só fazer intercâmbio para aprender Inglês?

Tião Viana: Abrimos outra frente para tratar do intercâmbio de curta duração para jovens. Uma empresa que presta serviço para a CNI, sistema S, na qual eles já têm vários estados que participam, ainda não tinha acesso ao Acre. Resolvemos isso e abrimos para jovens estudantes de Inglês daqui ficarem concentrados em casas de famílias americanas. Temos mais de 30 mil jovens que passaram pelo nosso Centro de Línguas que podem fazer parte dessa cooperação. E aí eles mandariam jovens americanos para serem hospedados em nossas casas.

 

A GAZETA: Também houve uma troca de experiências importante na parte de produção e alimentos.

Tião Viana: Sim. Abrimos uma frente inovadora na área de alimentos. O Acre é um produtor de alimentos saudáveis. Exemplo, a carne com produção de proteína de baixo carbono, carne de gado livre, e gado sem hormônio, que não é confinado e com baixíssima presença de antibiótico, e o gado abatido mais precocemente, para reduzir a emissão de metano. E temos também os suínos e os peixes, a castanha, o açaí e outras frutas tropicais. Tivemos um encontro, através da universidade de lá, com distribuidores e empresários de duas redes grandes que vendem alimentos orgânicos e saudáveis. E eles disseram que comprarão o que nós tivermos. Da carne do boi, no Colorado eles têm 2,5 milhões de rés. Nós, aqui, temos um rebanho de cerca de 3 milhões de rés. O peixe e a carne do suíno também chama a atenção deles. E nos informaram, durante as agendas, que nos EUA o mercado de alimentos saudáveis movimenta U$ 75 bilhões por ano e que tem um valor a mais nos custos que pode ser muito vantajoso para os produtores acreanos e criadores de animais. Essa é uma vantagem enorme que nós poderemos ter.

 

A GAZETA: Quais seriam as expectativas do Acre neste mercado gastronômico bilionário?

Tião Viana: Tivemos uma reunião com o Kimbal Musk. Ele é irmão do Elon Musk, fundador da Tesla, empresa global de carros elétricos, e da SpaceX, que é a maior empresa de foguetes do mundo [vende até para a Nasa]. Esta empresa está na vanguarda da produção de energia solar e engenharia de propulsão. E o Kimbal, curiosamente, largou tudo dos negócios do irmão para cuidar só de gastronomia. Ele disse que a gastronomia é a internet de hoje. Tem dez redes de restaurante lá. Ele conversou muito com a nossa equipe para comprar nosso peixe e nossos produtos. E tentar fazer uma cooperação para que o Acre possa aderir à tese da gastronomia atual, com alimentos saudáveis e incorporando a produção de hortaliças nas escolas, levando alimentos saudáveis para os estudantes. Abrimos também esta frente cooperativa.

 

A GAZETA: E de tecnologia agrícola?

Tião Viana: Tivemos encontro com o secretário de Agricultura do Estado do Colorado, que trabalha com um sistema muito avançado de tecnologia. Eles têm um sistema de autocontrole sobre a produção e criação de animais, por meio de drones e resposta imediata e precisa de chips. E nos reunimos com dirigentes do governo. O diálogo foi muito bom.

 

A GAZETA: Também houve agendas no sentido de resolver problemas que o Acre tem para a implantação de fontes de energia alternativas. Como foi essa troca de experiências?

Tião Viana: Fomos a um laboratório de Física, que é um dos melhores do mundo. Tem um orçamento de U$ 400 milhões por ano, só da parte de orçamento público, além de mais de 100 empresas que o financiam, como a General Eletric, Walmart e outras que se beneficiam da produção das experiências de energia deles. Esse laboratório trabalha com energia limpa. Eu levei a eles que atendemos cerca de 90% da população rural com o programa Luz Para Todos, mais 10% da comunidade rural que mora em áreas isoladas, onde não tem como o sistema interligado chegar. E até hoje no Brasil o sistema fotovoltaico só dá uma energia precária. Ou dá luz e não dá refrigeração, ou dá alguma refrigeração, mas não luz. Isso não funciona bem. O que precisamos é de uma energia de qualidade. Eles se comprometeram em estudar essa situação e nos dar uma resposta de qual modelo seria o ideal para nós adotarmos junto a empresas para a implantação final de energia solar. E se tiver algum projeto que envolva eólica, vamos analisar. O problema daqui é que o nosso vento é mais alto. Exige torres muito altas, e a um custo caríssimo. Fica impraticável. Por isso, eles avaliarão outros modelos de energia limpa, como a biomassa, por exemplo. Mas a solar seria a prioridade.

 

A GAZETA: Muitos críticos apontaram que essa viagem, mesmo com tantos bons frutos, só seria possível por um alto custo. Como o senhor rebate a estas críticas?

Tião Viana: A missão só trouxe benefícios. E não custou um centavo para o Acre. Foi toda realizada através de organismos internacionais, do Banco Mundial e pelo Programa Global REDD Early Movers (REM), do banco alemão KfW. Somos líderes no GCF, que é uma rede de estados e países que participam, em vários continentes, de uma ação de esforço para a redução do aquecimento global e proteção de florestas tropicais. Por isso, ainda na COP 21, em Paris/FRA [realizada em dezembro de 2015], mostramos a necessidade de o mundo conhecer essas experiências daqui. Por isso, nos convidaram a fazer essa missão na Califórnia e no Colorado. Já cumprimos a da Califórnia, e agora fizemos a do Colorado. O Acre é o Estado que mais avançou nas políticas de redução de emissão de carbono. No ano passado, enquanto a Amazônia aumentou 24%, o Acre reduziu 15%, como se provou após correção de dados do Inpe. Somos, também, o primeiro Estado a conseguir o direito a negociar diretamente com nações ou com estados internacionais políticas na redução das emissões, como o fizemos com o KfW.

“Para o ano que vem, queremos trazer a Universidade do Colorado para o Acre. Seria firmado um convênio entre o Governo do Estado, Ufac e a universidade de lá para ofertar 30 vagas de Mestrado e PhD”

Tião Viana se reuniu com o secretário de Agricultura Don Brown (Foto Andréa Zílio)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acre e Universidade de Colorado-Boulder firmam parceria (Foto Assessoria)
A Gazeta do Acre: