No passado, não muito remoto, os políticos davam as boas novas para o povo, enquanto os médicos as más notícias. Hoje, a situação é inversa: Os médicos dão esperança, e os políticos protagonizam e anunciam as crises existenciais. Além da demagogia, há ainda o recorrente apelo aos “novos” modelos utópicos de convívio e sobrevivência social.
O paradoxo e irônico é que a política e seus mais dignos representantes apresentam a política como à “arte de tornar os sonhos reais.” É a arte das quimeras! Mas, na prática, os que têm e estão no poder desaprenderam a sonhar. Eles entendem, e muito, de miragem e fantasias. Então quem sonha? Os sem poder, é a resposta. O povo, que vive de esperança em esperança, sem fim, porque destituídos de poder, só pode mesmo sonhar com melhores dias.
Ocorre, que há uma distância entre o sonho de uma sociedade perfeita e sua ilusória concretização. A desilusão geral conspira com as esperanças, até aqui hipotéticas, duma saída que atenda os anseios da sociedade. Exigindo, da parte dos que dirigem este país, muito mais do que quimeras ou promessa descabidas. Atitudes sérias na condução da coisa pública, pois estamos todos, sem exceção, no limite da nossa paciência.
Chega de “propostas” na maioria das vezes recheadas de utopias, advindas, inicialmente, das promessas de campanhas e posteriormente das casas legislativas, notadamente porque política é sinônimo de poder; e o poder, alguém já disse, acaba com os nossos sonhos. Contudo, apesar da realidade se sobrepor aos sonhos de todos os brasileiros. O povo vive, entre outras crenças, o sonho em que o homem público, em qualquer lugar do futuro, encontre soluções singulares e definitivas para os problemas morais e políticos que afligem o nosso país.
Creio nas utopias, enquanto aspirações possíveis. Significa dizer que é preciso pôr ações nos nossos sonhos, uma vez que os sonhos não se sobrepõem à realidade. Esta realidade, é cruel, nua e crua e possui múltipla faceta, quer no campo da fome que sorrateira continua agoniar os países ditos de terceiro mundo, quer na violência urbana com assombrosas conseqüências. Cito aqui, como exemplo, o caso de um cidadão, simples comerciante, que movimentava nesta cidade (Rio Branco) um pequeno restaurante, que conseguiu botar para funcionar depois de uma grande luta com a Prefeitura e outros órgãos competentes neste tipo de comércio. Pois bem, o coitado teve que, forçosamente, acabar o negócio. Ser assaltado por duas vezes, em apenas uma semana, foi demais. O curioso é que há bem próximo ao seu comércio, um posto policial. O sonho desabou! Ele, agora, passa a viver à realidade. Vai tentar sobreviver noutro ramo de negócio, se que é existe algum outro, em que os meliantes não estejam de olho grande. Mas, isso, entre aspas, é fichinha diante da realidade corrupta nos altos escalões da sociedade brasileira e, por extensão, em todos os segmentos sociais.
No Iluminismo, acreditava-se que a idade da superstição e da barbárie estava a ser progressivamente substituída pela ciência e pela razão, atribuindo-se à história uma linha evolutiva de caráter moral. Triste engano, pois nem mesmo aquela “educação” moral de inculcar nas pessoas o medo às conseqüências da não observância da lei, não surte mais efeito. Corremos o risco de destruir a moral.
Para os que vivem a fomentar “arte das quimeras”, uma vez que são pagos para esse fim; a estes, uso as minhas vãs repetições como resposta. Lá vai: não tenho o otimismo dos políticos e muito menos dos apóstolos religiosos do presente século, pródigos em fazer uso da pedagogia da promessa. Não tenho capacidade ilusionista de transformar aquilo que é voraz, que subverte ou consome que corrói e destrói em poupança, violência e destruição em argumento, matança braba em litígio e cataclismo moral em filosofia.
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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