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São Francisco e a conversão do coração

“Cuidado para que dentre vós não tenha um coração perverso, e sem fé, desertor do Deus Vivo”. (Hebreus 3,12).
São Francisco escreve em 1221 uma carta de admoestação e exortação aos fiéis, a fim de recordá-los da necessidade de cuidar e zelar pelo espírito de conversão, para não cair no erro da apostasia. Diz ele: “A todos os cristãos que vivem religiosamente clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que habitam no mundo universo, Frei Francisco, de todos, servo e vassalo, saúda com reverente de dedicação e deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor. Sendo servos de todos, a todos devo servir as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso as considerando que não posso visitar a cada um em particular, por causa da enfermidade e debilidade do meu corpo, fiz o propósito de comunicar-vos por meio dessas palavras e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, bem como as palavras do Espírito Santo, que são “espírito e vida” (Jo 6, 63)”. Dentro desse espírito, venho oferecer a vocês, leitores do Jornal A GAZETA, essa reflexão dentro da Quaresma. Como um convite ao cultivo da oração, da vigilância contra o mal da frieza e da apostasia da fé.

O Senhor Jesus afirmou que dentre nós, sua EKLESSIA = Assembleia = Igreja, cresceria o joio e o trigo. Ao olharmos, atentamente os discípulos da primeira hora, e os do Novo Testamento, podemos presenciar essa profecia, que até hoje ainda assola o interior de nossas Igrejas: a APOSTASIA (negação de quem um dia abraçou a fé cristã) DA FÉ. Quando a fé não é alimentada pelos meios de crescimento espiritual: Oração pessoal de 15 min.; Leitura diária da Palavra de Deus; Vida sacramental suficiente: Missa dominical, Confissão regular; Devoção a Nossa Senhora; orando e vigiando os sentidos; O coração, se um dia iniciou-se na afeição pelo Senhor, mergulha numa frieza mortal, levando à apostasia da fé. Às vezes uma apostasia silenciosa que produz perversidade, descrença e deserção da vida eclesial.

Quando acontece, esse fenômeno da apostasia do coração, teremos irmãos e irmãs, servindo a Santa Igreja em diversos ministérios, somente como atividade humana, lúdica, terapia ocupacional, promoção social, afago no brilho pessoal, porém sem espírito de conversão profunda. Sem envolvimento qualificativo no seguimento, sem que o sangue católico corra em suas veias. Levando uma vida na superficialidade, sem pregresso espiritual, moral e eclesial. Regido pela momentaneidade, será capaz de difamar sua igreja, as pessoas que peregrinam nela, sem nenhum constrangimento. Sem nenhuma caridade; numa critica irresponsável e destrutiva de quem não faz parte, mas usa o espaço e a circunstância.

Cuidado irmãos, que nenhum de vós tenha um coração perverso, e sem Fé, desertor do Deus vivo, nos diz o Apostolo Paulo em Hebreus 3,12. Quando a apostasia lança suas raízes no coração a Igreja perde toda a sua sacralidade, seu mistério, e converte-se numa mera instituição prestadora de serviços religiosos: batismo, eucaristia, crisma, casamento, bênçãos, missas de sétimo dia; não mais que isso. Não mais a congregação das testemunhas do Deus Vivo! Não mais o Sacramento (sinal) de Salvação. Não mais a esposa do Cordeiro. Mas uma agremiação de interesseiros, que controla a felicidade das pessoas. Por isso é combatida, perseguida, difamada. “Só será salvo que permanecer fiel até o fim”.

Concluímos observando que à fé é dom do Pai, não se transmite pelo sangue. Que a fé exige cultivo sério e fiel: ”Orar e vigiar para não cairdes em tentação”. Quando o coração se distancia da comunidade nos tornamos presas fáceis do mal! E quando deixamos de cultivar uma vida interior profunda o coração mergulha na apostasia, surgindo traidores e desertores. Diz São Francisco: Amemos, pois a Deus e adoremo-lo com o coração purgado e o espírito puro, porque Ele mesmo exigiu isto acima de tudo, dizendo: “os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; pois todo aquele que o adorar deve adorá-lo em espírito e verdade”. (Jo 4,23-24). E queremos oferecer-lhe os nossos louvores e preces de dia e de noite, dizendo: “Pai nosso que estais nos céus”, pois “é preciso orar e vigiar em todo o tempo e não desfalecer” (Lc 18,1).

Continuemos com os bons propósitos para uma boa Quaresma. Paz e Bem.

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Diretor Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara, que se reúnem todo 4º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês às 07:00 horas.

A Gazeta do Acre: