É muito triste constatar que vivemos em um tempo em que acusação vira condenação, sem que haja a preocupação de não haver generalizações. Refiro-me, especificamente, à “Operação Carne Fraca”, deflagrada pela Polícia Federal na manhã da última sexta-feira, 17.
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) revelam que das 4.837 indústrias de processamento de carnes existentes no Brasil, apenas 21 estão sob suspeita. A ação inadequada desses agentes, por mais inexpressiva que seja frente à produção total nacional, impõe desequilíbrio ao mercado e penaliza todo um segmento que trabalha com seriedade pela qualificação da pecuária nacional.
Prova disto, é que alguns países importadores já anunciaram irregularidades temporárias à entrada da carne brasileira, entre eles a União Europeia, Coreia do Sul e China. Somente estes três países respondem por 27% das exportações brasileiras de carne em 2017.
Acompanhei pela mídia que, nesta segunda-feira, o governo chinês suspendeu importação de carne brasileira e pediu explicações ao governo brasileiro. A Coreia do Sul vai intensificar fiscalizações de carne de frango importada do Brasil. A Comissão Europeia afirmou que está monitorando importações de carne do nosso país e que todas as empresas envolvidas no escândalo terão acesso negado à UE.
O grande questionamento que faço é: quem vai pagar por todo este prejuízo do escândalo da carne podre no Brasil? Afinal, as empresas do setor empregam mais de um milhão de pessoas diretamente e mais alguns indiretamente, têm certificações internacionais, reputação global, compram produtos de milhares de produtores rurais que têm suas famílias dependentes destas empresas e são responsáveis, segundo informações do MAPA, por mais de R$ 12 bilhões anuais em exportações de produtos feitos no Brasil para mais de 170 países.
O Brasil é um dos principais produtores de proteína animal e responsável pela alimentação da população mundial devido aos critérios de segurança e sanidade animal adotados no país e reconhecidos internacionalmente
O setor possui uma credibilidade construída há décadas e reconhecida internacionalmente, que não pode ser comprometida pela irresponsabilidade de uma divulgação generalizada de informações à população.
Entendemos que o Brasil possui as mais avançadas cadeias produtivas de carnes, com base numa agropecuária sustentável – como é o caso do Acre – e uma indústria moderna. Torcer pelo fracasso deste setor é torcer pelo fracasso do próprio Brasil.
José Adriano Ribeiro da Silva é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre (FIEAC)