Nos tempos em que vivemos, pensar em relacionamentos duradouros é uma epopeia. Quem sabe essa dificuldade resida, exatamente, na mudança que estamos vivenciando a respeito da noção do próprio tempo. Em um passado nem tão distante, os relacionamentos eram tratados como parte importante da vida social sadia e mantê-los era condição elementar para o status co de um cidadão.
Hoje, somos atravessados por uma noção temporal que traz à memória Santo Agostinho e suas “premonições” de que não há presente, passado ou futuro. Nossas crianças, nem tão crianças assim, são privadas de viver um 1º de janeiro ou um 25 de dezembro como datas incrivelmente inéditas. Essa velocidade com que vivemos o tempo fora do tempo foi transferida, miseravelmente, para os relacionamentos, amorosos ou não. Nos achamos incapazes de reduzir o ritmo frenético da vida moderna e assim, nos adaptamos a ele, inclusive na parte mais subjetiva: o amor.
Para Zigmund Bauman, sociólogo polonês, as relações humanas atuais estão cada vez mais flexíveis, mais fluidas. E qual seria o motivo? O medo gerado por frustrações, perdas, decepções, levam-nos, talvez, a acreditar que é mais seguro manter relacionamentos em série, do tipo que pode acabar a qualquer momento, já que logo é possível encontrar um novo “amor”. A vida gerida pela internet nos mostra que o que vale não é a qualidade ou a durabilidade dos amores, mas a quantidade e a intensidade com que se vive cada um deles.
O que é sólido para você? Qual o limite da fluidez que há em cada relacionamento? Como assegurar, em tempos tão futuros e antagônicos, que mesmo as relações mais transitórias não nos fazem perder, deliciosamente, a noção de tempo? Onde residirá nosso amor futuro? O que se vê, em todos os casos, é uma busca voraz pelo desejo de ser amado, mesmo que seja de modo virtual, todavia, não é possível descartar as consequências deste ou de qualquer relacionamento: uma hora ou outra seremos felizes, ou não.
Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
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