As convenções sociais nunca deixaram de existir, de um modo ou de outro. Estabelecer códigos de conduta sempre foi, mais que uma regra, uma necessidade de relacionamentos entre os sujeitos da imensa “aldeia global” na qual estamos inseridos. Essas convenções, regras, normas e até tabus, criados socialmente, servem para enquadrar fazeres e dizeres, instituir certo e errado, consolidar sujeitos e sujeitos. Normalmente, há uma aceitação conformada, mas, como todo maniqueísmo, há a transgressão, há aqueles que não se encaixam.
Muitas pessoas podem considerar que as regras sociais não devam ser cumpridas, simplesmente por se sentirem livres para agir de outra forma; assim como há quem considere tais atitudes como transgressão gratuita. Em ambos os casos o que se vê é algo elementar entrando em jogo: a liberdade. E o que é ser livre? Liberdade tem a ver com desprendimento, com a compreensão das coisas a partir de um ponto de vista que não julga, não aprisiona, não engessa. Ser livre é considerar que, embora dentro do que o filósofo Inglês Jeremy Bentham chamou de panóptico, temos direito à alegria de uma liberdade assistida.
Os libertos, também chamados de violadores, vivem em todo o tempo dando explicações, ou não, de seus comportamentos ‘absurdos’ e ‘abusivos’ para aqueles que sem ouvir a música, os julgam loucos por estarem dançando, como bem coloca Nietzsche. As normatizações impostas pela sociedade não cabem àqueles que não se docilizam. E liberdade, é inata, nasce com o sujeito ou se constrói diante das resistências que são levantadas durante a vida? O que se vê é cada vez mais pessoas indo de encontro àquilo que se chama de convencional, talvez pelo desejo de dizer algo já dito, mas de forma diferente.
A sociedade do poder criou pessoas tão normatizadas que não percebem que há vigilância até dentro de suas casas, que não veem em seu trabalho, em sua escola, em seu lazer, indícios de regras que não permitem que cada uma seja quem realmente é. O que vemos são pessoas normalizadas, enclausuradas, coagidas. Talvez, liberdade tenha a ver, sim, com felicidade. Aquela felicidade típica das pessoas que podem bater no peito e dizer que têm orgulho de serem elas mesmas, sem riscos, sem medos, sem grades.
Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras. E-mail: [email protected]