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O fantástico mundo da mentira!

Um exemplo, dentre os mais célebres paradoxos inseridos nos anais da história das vãs filosofias, é a contradição de autoreferência atribuída ao filósofo e místico grego Epimênides (600 a.C). Diz o Cretense: “Todos os cretenses são mentirosos!” Nesse caso, se Epimênides estiver mentindo, a afirmação é verdadeira, já que Epimênides é cretense, porém deveria ser falsa, uma vez que está mentindo. Se Epimênides está dizendo a verdade, a afirmação é falsa.

O mentir ou a mentira postula, em filosofia, um conflito em normas éticas. A pergunta, à luz da ética, é: Mentir não é nem certo nem errado? Mentir é geralmente errado? Mentir às vezes é certo? Mentir sempre é errado? Mentir nunca é certo? Mentir às vezes é certo? Em sendo assim, vamos admitir a hipótese de que todos, neste mundo, sem exceção, sejamos uns grandes mentirosos. Uns porque optam por mentir em prol do bem e outros em prol do mal; assim teríamos uma nova versão à lá Nietzsche: A mentira além do bem e do mal.

O conceito mais íntimo, que nós pais, temos ou fazemos de nossos filhos, em especial os adolescentes, é a de que eles estão sempre nos manipulando com mentiras “n”; mas, por outro lado, nós adultos, do alto da nossa presunçosa honestidade, estamos sempre querendo tirar vantagens em cima de alguém ou de alguma coisa. Vê-se por aí: a irresponsabilidade ao volante; o atirar lixo em qualquer lugar; o furto de pequenas coisas no local de trabalho; o “fazer hora” no serviço; as faltas desnecessárias no emprego; as mentiras gratuitas ou por interesse: “diga que eu não estou”; o costume de colar na escola; a preguiça de estudar; os relatórios e trabalhos forjados; o trabalho de conclusão de curso comprado; a falta de cumprimento do horário combinado; a crítica irresponsável e infundada sobre outras pessoas; árbitros de futebol que manipulam resultados de jogos, proprietários de carros pipas que negociam, à vista de todos, água emporcalhada; os gays camuflados, os corruptores da moral, os assédios de toda ordem, enfim. Toda essa infinidade de desonestidade do sujeito da história gera um desequilíbrio social, que pode ser visto tanto em pequenos costumes como em grandes escândalos financeiros e estabelecem o caos na sociedade.

Na política, com raras exceções, a desmoralização é total. Homens e mulheres do poder constituído caem em desgraça a toda hora, por cometerem improbidades incompatíveis com o cargo que exercem. Desabam não porque são políticos, sucumbem à luz da moral individual e da ética coletiva.

A história da política partidária, em longo de décadas, salvo os eminentes estadistas, homens e mulheres de bem, foi e continua sendo uma perpétua mentira. A cada nova eleição, as mentiras e as falácias ditas para enganar voltam cada vez mais forte! É uma promiscuidade generalizada, regada a mentiras, entre políticos, partidos políticos e empresários corruptos Essa prática espúria, nos faz distanciar, cada vez mais, daquela idéia clássica, oriunda do pensamento platônico, de que as noções políticas são permeadas por um elevado senso moral e que os padrões éticos representados na virtude da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça, que deveriam se fazer presentes na política, propriamente dita, e nas suas formas de governo; nos dias atuais, é uma verdadeira utopia, para não dizer de elevado conceito abstrato, isto é: impossível à luz da experiência humana, porquanto política e ética que deveriam andar lado a lado estão, hoje, trilhando caminhos ambíguos, não tem nada a ver uma com a outra.

Esse fantástico mundo da mentira se alarga de forma sem medida em todos os segmentos sociais. Basta ver o sucesso dos programas de televisão fabricados para imbecilizar; os pregadores do “evangelho” que oferecem o paraíso sem falar das agruras da cruz. Vale, também, mencionar as “facilidades” que nos são oferecidas pelas empresas que detém a concessão de telefone móvel. Quem está com a verdade? Qual é na realidade a tarifa mais barata? Alguém já constatou a veracidade da oferta; pois se existem três ou quatro agências de telefonia afirmando, cada uma individualmente, que possuem pulsos mais em conta, não é preciso ser professor de lógica, para dizer que alguém está mentindo. Contudo, esse fantástico mundo da mentira, tem perna curta. Entretanto, dizem às más línguas: ”tem cauda longa!”

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

A Gazeta do Acre: