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Itaú Cultural comemora 30 anos com lançamento da exposição

Itaú Cultural comemora 30 anos com lançamento da exposição Modos de Ver o Brasil, na Oca do Parque Ibirapuera, São Paulo

Jornal A GAZETA foi convidada para conhecer, de antemão, a Exposição Modos de Ver o Brasil, em São Paulo

Viajar para São Paulo/SP é sinônimo de compras, passeios, baladas, uma rica gastronomia e de muita correria. Mas a maior cidade do país, aquela que nunca para, também reserva um lado efervescente de arte e cultura. E, para quem vai a São Paulo nos próximos meses atrás de desbravar esse toque artístico, aí vai uma dica imperdível! Para celebrar seus 30 anos, o Itaú Cultural lançará no próximo dia 25, no edifício da Oca situado no Parque Ibirapuera, a exposição Modos de Ver o Brasil, uma constelação de 20 núcleos artísticos a serem vivenciados.

A exposição é gratuita, e vai durar até 13 de agosto, com curadoria assinada por Paulo Herkenhoff, e co-curadoria de Thais Rivitti e Leno Veras. Dentre as 15 mil obras de arte do seu acervo, o instituto selecionou 700 e adquiriu outras 46 novidades especialmente para a mostra.
Antes do lançamento oficial, o Itaú Cultural convidou os maiores veículos de comunicação para mostrar mais detalhes sobre a mostra. E o jornal A GAZETA foi um dos convidados.

O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e o curador Paulo Herkenhoff deram coletiva sobre a iniciativa. Saron frisou o diálogo da exposição com as áreas da educação e de pesquisa, e como ela se encaixa bem nas estratégias contínuas do instituto.
Herkenhoff, por sua vez, detalhou sobre o objetivo central da mostra e o desafio de concretizá-la. “O Brasil não se vê por um olhar. Por isso, a exposição são modos de ver o país, um explicador dessa teia de direções e de olhares de artistas distintos, desde os mais consagrados até os mais modernos. A ideia é fazer as pes-soas verem como a arte de colecionar objetos pode sintetizar núcleos artísticos e culturais de todo o país, em vários momentos históricos”.

Paulo também comenta sobre o desafio de pensar os detalhes, a organização dos núcleos das obras de arte e de montar cada parede na Oca. O primeiro passo foi entender melhor o vasto acervo de 15 mil peças do Itaú Cultural, depois compreender os vários olhares dos seus autores, em múltiplos tempos. O próximo passo foi pensar em uma forma de organização para estas obras em um prédio de vislumbre mundial, como é a Oca do Parque Ibirapuera.

Além disso, uma exposição não se faz sozinho. Por isso, foi preciso engajar bem a equipe para o desafio. Também não se faz da noite para o dia. Começou a ser executada em novembro, ou seja, foram mais de seis meses até o abrir das portas para o público (e toda esta preparação da estrutura da mostra em São Paulo é o que torna sua itinerância para outras cidades brasileiras como algo pouco provável, mas recortes do seu acervo ainda podem rodar o Brasil, um dia).

“A exposição é uma projeção de sentidos que vão se dispersar depois. Não é para quem sabe tudo. É para você se expor diante dela, se descobrir, se arriscar. Venha como você é, e confie em si como um bom intérprete do mundo”, finalizou o curador.
A restauração das obras de arte não foi um problema, uma vez que o Itaú Cultural possui um setor especifico para cuidar da preservação do seu acervo, cotidianamente.

Curador Paulo Herkenhoff e diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron

A Oca dá vida à seleção do maior acervo corporativo da América Latina

A exposição inicialmente era planejada para acontecer no prédio do Itaú Cultural, na Avenida Paulista. Só que 30 anos não se faz todo dia. A proposta da mostra se tornou ousada demais, ainda mais com um acervo tão extenso como é o do instituto, considerado o maior de posse corporativa do continente, e o 8º maior do mundo. Por isso, o projeto saiu dos pouco mais de mil metros quadrados do hall expositivo do edifício do Itaú Cultural e ganhou os 10 mil m² da Oca, uma construção distinta e muito bem projetado por Oscar Niemeyer.

A Oca tem quatro andares (térreo, subsolo, 1º e 2º andar) e uma estrutura externa singular, que chama a atenção de qualquer um. Muito convidativa para olhares curiosos. Internamente, ela é projetada com arquitetura radial, sem arestas, com a mostra do Itaú Cultural tendo como ponto forte a condução do espectador por uma ‘linha não linear’, à qual ele pode entrar e seguir o caminho de visualização das obras de arte no sentido que desejar. Não tem um começo estabelecido, nem fim. O que reforça a valorização da inteligência do público-sujeito.

A localização no Parque Ibirapuera virou um elemento a mais de extensão para que a mostra consiga atingir em cheio o público paulista. Cerca de 200 mil pessoas passam todo o final de semana pelo local. Somado a isso, O Itaú Cultural criou um grupo de 30 educadores, e o plano é estimular grupos de alunos e demais membros do público estudantil a ir conhecer a exposição.

Cada andar da Oca segue layout próprio, de paredes com cores e disposições não uniformes, e que leva a nú-cleos artísticos diferentes dentre os 20 que compõem a mostra: o Histórico, o das Gambiarras, o Barroco, o Indígena, o da Amazônia, o Holandês, o da 2ª Guerra Mundial, o dos Valores, o da Cibernética, entre muitos outros. Cada um dos núcleos está disposto de forma organizada, como um roteiro para a navegação da cultura brasileira.
No piso térreo, o cartão de boas vindas é focado em São Paulo. Fotos e obras sobre Sampa, da fundação até trabalhos produzidos neste ano ganham as paredes, ressaltando a importância de o público se conectar com a cidade. Nos entornos, núcleos de Esculturas, História, Paisagens, Urbanidade, Concretismo, Neo-Concretismo, Contemporaneidade, Grafitagem e um forte elo entre passado e futuro completam essa organização. Há obras de Benedito Calixto sobre os primórdios da construção do inte-rior do Estado, de Cândido Portinari sobre a era do café e dá um salto temporal até os trabalhos de artistas mais recentes, como Caio Reisewitz.

Com um espaço de mais de 10 mil metros quadrados, a Oca no Parque Ibirapuera-SP é o palco para expor o rico acervo de obras de arte do instituto

Neste espaço, o curador Paulo Herkenhoff ressalta que o objetivo é a discussão visual sobre os espaços da cidade, assim como os momentos da arte brasileira quando adentraram a capital paulista. “São Paulo extravasa pelo andar. Isso nos dá uma dupla função: para quem é de fora, a cidade se apresenta diante de seus olhos; e, para quem é de São Paulo, pode ficar com o sentimento de que essa é a sua cidade”.
No subsolo, os núcleos de Cibernética Conceitual, Natureza, Subjetividade, Escritura moldam o caráter experimental da arte brasileira. Os núcleos dos Valores e da Gambiarra também são 2 destaques. Há obras de Cildo Meirelles (conferir a litografia sobre papel moeda Zero Cruzeiro), dos pops Antônio Dias e Antonio Henrique Amaral, de Beatriz Milhazes, Berna Reale, além dos contemporâneos Iran Espírito Santo, Paulo Bruscky, Hélio Oiticia e Lygia Clark.

No 1º andar, é a vez dos núcleos Geracional, Bidimensional (Regimes da Cor), Geometria da Luz e Tridimensional. Há, também, um enfoque nas obras de brasileiros sobre a 2ª Guerra Mun-dial. E trabalhos notórios como os de Abraham Palatnik, José Resende, Antonio Ma-nuel, Ana Maria Maiolino, Paulo Pasta, Volpi, Maria Martins, as cores de Amélia Toledo e as gravuras de Maria Bonomi. Mas, sem dúvidas, um dos destaques deste piso vai para a Spider, a ‘Aranha’ de Louise Bourgeois. Trata-se de uma aranha negra de cerca de 10 metros de altura, esculpida em metal, e que expressa para a artista franco-americana uma homenagem a sua ‘Maman’ (mãe). A aranha foi cedida pelo Museu de Arte Moderna para a mostra do Itaú Cultural.

No 2º e último andar, a formação social do Brasil é alvo dos núcleos Barroco e Neo-Barroco, com enfoque especial em um momento traumático da nossa história vivido nos tempos da escravatura, com obras marcantes de Aleijadinho. O contraste com tal temática é posto nos dias atuais, com o núcleo afro-brasileiro, de artistas como Alcides Pereira dos Santos, Ayrson Heráclito e Jaime Lauria-no. Neste andar, também há obras do recorte indígena e dos contemporâneos Albert Eckhout, Alberto da Veiga Guignard e Adriana Varejão.

Uma última observação a ser feita é que, para a exposição acontecer na Oca, o Itaú Cultural teve a preocupação de deixar melhorias permanentes para o prédio. A instituição fez reformas gerais no sistema de alarme e executou obras de impermeabilização na estrutura do edifício.

Trinta anos de um legado para a arte e à cultura brasileira

O instituto já promoveu cerca de 6,2 mil atividades

A história do Itaú Cultural nasceu três décadas atrás, em 1987, e quem conta um pouco disso é o diretor do instituto, Eduardo Saron. De acordo com ele, tudo começou quando um grupo de pessoas do banco Itaú planejou dar uma contribuição maior à arte e cultura brasileira. Tal ideia os levou a duas propostas. A primeira era de marketing, uma ação mais rápida no âmbito da temática. Mas a aceita foi à segunda proposta, a de criar um instituto privado que fosse além da cultura do momento. Essa proposta é a da perenidade, para deixar um legado para o Brasil.

De lá pra cá, o Itaú Cultural só aprimorou as estratégias para cumprir esse objetivo. Em 30 anos, o instituto promoveu cerca de 6,2 mil atividades focadas nas mais diversas áreas de expressão. Alcançou mais de 9 milhões de pessoas com os projetos promovidos. Em 1997, com o Rumos, um dos maiores e mais consagrados editais privados de financiamento de projetos culturais, já recebeu mais de 52 mil inscrições de projetos, tendo selecionado cerca de 1,4 mil que impactaram as vidas de mais de 6 milhões de brasileiros em todos os cantos do país.

Ao longo desses anos, também adquiriu o já mencionado acervo de 15 mil peças para serem expostas em variadas exposições itinerantes pelo Brasil afora. E tornou-se um importante produtor de conteúdos, com 780 títulos publicados, entre DVDs, CDs, CD-ROMs, vídeos, livros e enciclopédias, além de ter distribuído gratuitamente 973 mil itens para acervos de bibliotecas, escolas da rede pública, instituições culturais, emissoras de rádio e TV públicas e comunitárias.

Para superar as barreiras geográficas (e olha que são muitas nesse Brasil), as ações, debates e formações do instituto, também estão disponíveis na internet, pelo site www.itaucultural.org.br. O site é a porta de entrada para outras iniciativas virtuais do Itaú Cultural, como a Enciclopédia On-Line, a plataforma infantil do ‘Mundo de Bartô’ e transmissão de shows e atividades culturais.

Outro feito de destaque é o Observatório criado em 2006 focado no acompanhamento da gestão e da economia durante a execução de políticas públicas. A instituição acredita que a gestão é o grande diferencial para fazer um projeto artístico dar certo. Por isso, foi a primeira instituição privada a criar uma pós-graduação em Gestão Cultural. E promove, desde 2008, a Semana de Gestão e Políticas Culturais, com um curso de 40 horas que já foi ministrado para cerca de 3 mil profissionais ligados às áreas culturais em 25 cidades, incluindo em Rio Branco/AC.

“O Itaú Cultural não é um evento. É uma instituição perene que fomenta a produção cultural brasileira. E nesta programação de 30 anos, além da mostra Modos de Ver o Brasil, teremos várias outras ações, como o projeto de ocupações de espaços públicos, inclusive com temática de gênero. Este é um passo importante, pois é uma forma de olhar pra frente, mas constituir a memória de lugares que já foram o palco de produções artísticas do Brasil”, concluiu Saron.

Em meio à crise, o que salva o Brasil aos olhos do mundo é a arte

Mostra será aberta ao público no próximo dia 25 de maio e vai durar até o dia 13 de agosto

A todo dia o brasileiro é bombardeado por notícias ruins. Corrupção política, crise econômica, escândalos. Não só a imagem do país fica manchada a nível internacional, como também na cabeça do povo brasileiro. Isso só conduz a população à desesperança e ao refúgio de posturas radicalizadas que se escancaram em redes sociais. Discursos duros e vazios só pra mostrar que não somos um povo apático. Atento a essa realidade, Herkenhoff e Saron não deixam de frisar a importância da educação cultural e do fortalecimento das mais diversas produções artísticas nacionais para resgatar a confiança do brasileiro, sua paz e sua imagem aos olhos do mundo.

O Brasil não pode parar de investir e apostar na sua arte e na sua cultura. E quando a cultura não é a prioridade de um governo, ações como as do Itaú Cultural mostra que o setor privado quer fazer mais. Não para substituir o Estado, e sim para fortalecer a parceria público-privado.
“Qual é o lugar da Arte na nossa sociedade? E na educação do brasileiro? Há uma tendência de tirar a arte das disciplinas básicas das escolas, para apostar mais em maté-rias como a Ciência. Só que países como a Coreia e a Índia fizeram algo assim, e agora estão voltando atrás. Viveram a vanguarda do atraso. A língua, a matemática e a ciência são muito importantes. Mas não são suficientes pra dizer quem somos nós como indivíduos ou como sociedade”, pontuou Herkenhoff.

A boa formação escolar aliada com a identidade cultural é que vão fazer o brasileiro superar a prevalência nos discursos do ódio. Mostrar que o caminho da resistência não passa por textões vulgares e ofensivos medidos em caracteres, mas sim pela verdadeira crítica artística.
O núcleo da Gambiarra na mostra de 30 anos, na visão do curador, expressa muito bem essa capacidade do brasileiro em sobreviver, mesmo em meio a tantas adversidades. “Resolvemos grandes problemas com algo bem simples”, comentou ele, relembrando uma célebre frase de artistas deste segmento que é a de ‘sempre ter um chiclete em casa’.

“A arte não vai mudar o mundo, mas vai mudar a forma com a qual enxergamos o mundo. E nestes tempos de crise, é preciso estar com os artistas. Estar com aqueles que podem pensar contra a entropia social”, ponderou o curador.
Complementando-o, o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, frisou que o novo desafio para a arte no país é a democracia cultural, na qual o público vira sujeito. Essa já é uma meta das atividades da instituição, reforçada, inclusive, na mostra Modos de Ver o Brasil.

A Gazeta do Acre: