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“Já deixei de comprar água pra comprar cigarro”, diz motorista que fuma há 34 anos

 O tabagismo custa caro. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os gastos com despesas médicas e perda de produtividade beiram os R$ 57 bilhões por ano no Brasil. As doenças causadas pelo consumo de cigarro são responsáveis por 63% das mortes em todo o mundo, de acordo com a OMS.

A motorista Francisca Souza de Moraes, conhecida como “Chica”, começou a fumar com aproximadamente 11 anos de idade influenciada pela avó. Na época, ela morava em uma colônia localizada em Rio Branco e, como a maioria dos irmãos, também começou a fumar o tabaco preparado pela idosa muito cedo.

Aos 45 anos, Chica diz que tentou largar o vício diversas vezes, mas não teve sucesso. O período mais longo que passou sem fumar foi durante a primeira gravidez, quando conseguiu passar um ano e cinco meses sem colocar um cigarro na boca. “Voltei a fumar porque sentia necessidade”.

As tentativas de abandonar o cigarro foram consumidas pela ansiedade, que a deixava com compulsão alimentar. “Quando fico sem fumar como loucamente. É uma fome que e não consigo parar de comer, por isso volto pro cigarro. Já deixei de comprar água pra casa pra comprar cigarro. Quando eu era muito viciada, não tinha ressaca que me fizesse parar de fumar”.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o cigarro leva uma fatia de 1,08% do orçamento mensal das famílias. A quantia que as famílias destinam ao fumo praticamente equivale à da despesa com o tradicional arroz com feijão carioca, que é de 1,12%.

No período em que mais fumava, Chica chegou a consumir duas carteiras de cigarro por dia. Um gasto semanal de cerca de R$ 25, somando quase R$ 100 por mês. Hoje, o consumo diminuiu para uma carteira por dia, além de não ser um hábito. “Começo a fumar na quarta e no domingo eu paro. Às vezes, passo uma semana sem fumar”.

Chica tem consciência do quanto o cigarro é prejudicial e, apesar de fumar há mais de três décadas, não possui nenhum problema de saúde. Sua única queixa é a falta de sono que o cigarro causa.

“Eu sei que a fumaça e o cheiro incomodam. Quando não estou fumando me incomoda também. Mas eu pretendo parar de fumar, sim. Só falta força de vontade”, contou a motorista.

Chica diz que o período mais longo que ficou sem fumar foi durante a gravidez (Foto-Bruna Mello/ A GAZETA)

“Comecei a fumar por modinha”, falou administradora que fumou durante 43 anos

Há dois anos Branca decidiu abandonar o vício (FOTO ARQUIVO PESSOAL)

Há 50 anos, fumar era considerado bonito, era moda. A indústria do fumo produzia comerciais glamorosos direcionados a crianças e adolescentes que mostravam homens bonitos cercado de mulheres, surfistas pegando ondas, mulheres maravilhosas, pilotos de corrida, que, no final ascendiam um cigarro da marca fabricante. O hábito de fumar era associado a qualidades como charme, elegância e poder.

Foi nesse período que a administradora Branca Camargo Gurgel, de 57 anos, começou a consumir cigarros. “Quem fumava era descolado. Eu comecei a fumar por modinha porque na minha adolescência saíamos da escola pra fumar escondido”, recordou.

Há dois anos, Gurgel resolver abandonar o vício devido complicações de saúde. Ela conta que chegou a fumar uma carteira de cigarro por dia. “O médico disse que eu estava com uma osteoporose muito forte e que se eu quisesse continuar andando por mais um tempo eu teria que largar mão do cigarro. Quando ele me falou isso eu apavorei e a partir dali eu parei de fumar”.

Gurgel recorda que os gastos para manter seu vício somavam quase 150 por mês. Já no primeiro mês sem fumar, ela sentiu a diferença no bolso e também na qualidade de vida, que melhorou notadamente.

“A diferença foi muita. Agora eu já nem lembro, mas no começo o dinheiro que eu gastava com cigarro eu gastava só comigo, ou seja, salão, bijuteria, maquiagem, essas coisas que a gente gosta. Hoje, eu não sei nem quanto custa uma carteira de cigarro.”

Homens são os maiores consumidores de cigarro, aponta vendedor

José Augusto vende cigarro devido a alta procura (FOTO BRUNA MELLO/ A GAZETA)

De acordo com o IBGE, o Acre é o segundo estado com maior número de fumantes do País – 18,8% da população fuma. E, segundo o vendedor Aloisio do Rego Pereira, de 47 anos, homens jovens e idosos são os principais clientes quando o assunto é cigarro.

Pereira é proprietário de uma tradicional banca de jornal, localizada no bairro José Augusto, e há dois anos resolveu comercializar cigarros no local. Ele conta que o principal motivo para começar a vender cigarros foi a grande procura pelo produto.

“Comecei a vender por causa do acréscimo no rendimento e também por atrair clientes. A procura por cigarros sempre foi grande”.

Pereira vende aproximadamente 20 carteiras por dia de segunda a sábado. O lucro com a venda do produto chega a ser 8% do total mensal. As prateleiras de cigarro estão sempre cheias. Os valores variam de R$ 5 a R$ 11.

Além da venda legal do produto, o comércio de cigarros falsificados e ilegais, sobretudo nas proximidades do Terminal Urbano de Rio Branco, possui uma clientela fixa que opta pelo mais barato.

Uma das vendedoras, que não quis se identificar, relata que vende quase 20 maços de cigarro por dia, cada maço contém 10 carteiras. Receosa, ela fala que lucra apenas R$ 1 por cada pacote vendido. Para a mulher, os homens também são os maiores consumidores.

Consciente da ilegalidade da atividade, ela afirma que a necessidade a fez entrar no mercado ilegal. “Comecei a conversar com o pessoal que vende e decidi vender também. Pensa que eu acho bom estar aqui? Não acho, não. Só vendo porque eu preciso mesmo”.

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) estima que mais de 30% do consumo de cigarros no Brasil tem origem clandestina, sobretudo do Paraguai. Atualmente, o contrabando movimenta R$ 6 bilhões por ano, segundo avaliação do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). O prejuízo gerado, entre perdas do mercado e a não tributação, chega a R$ 6,4 milhões.

Ações de combate ao tabagismo diminuem número de fumantes em Rio Branco

As ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) têm mostrado resultados positivos com relação à redução no número de fumantes na capital acreana. Através das campanhas educativas em saúde e as terapias de grupos de tabagismo implantadas nas unidades de saúde do município, houve uma redução de 15,2% de fumantes homens em 2013, para 10,3% em 2015, e as mulheres de 10,2% em 2013, caindo para 5,6% em 2015.

A Semsa mantém grupos de ajuda em onze unidades de saúde da Capital: UBS do Altamira, Centro de Saúde Ary Rodrigues, Policlínica Barral Y Barral, Unidade de Saúde da Família Mariano Gonzaga, Centro de Saúde da Vila Ivonete, Centro de Saúde Rosângela Pimentel, Centro de Saúde das Placas, do Tucumã, Unidade de Saúde do Preventório, Centro de Saúde Mário Maia, Unidade de Referência de Atenção Primária – URAP Cláudia Vitorino.

A Semsa mantém grupos de ajuda em onze unidades de saúde na Capital
A Gazeta do Acre: