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Fundamentos da Espiritualidade Franciscana

[dropcap]C[/dropcap]aro (a) irmão (ã) leitor do Jornal A GAZETA, PAZ e BEM! Venho neste final de mês partilhar com vocês um pouco dos “fundamentos da espiritualidade franciscana”. Podemos encontrar a base para o itinerário espiritual, de nosso Pai São Francisco, em Mateus 10, 1-42, na chamada “Missão Apostólica”. No dia 24 de fevereiro de 1209, festa do Apóstolo Matias, Francisco recebeu na Porciúncula a revelação iluminadora do Evangelho; 10 meses após que “o Senhor lhe deu irmãos”.
Na ordem cronológica, primeiro o Senhor lhe deu irmãos, em 16 de abril de 1208. Logo houve um tempo para que Francisco e seus companheiros não sabiam com clareza o que deveriam fazer. Na missa da festa do Apóstolo Matias, que aconteceu na Porciúncula em 24 de fevereiro de 1209, Francisco recebeu a “revelação” de que devia viver exatamente como os Apóstolos, segundo se lia no texto sagrado. Para que não ficasse dúvida do que havia escutado, Francisco pede ao sacerdote, após a missa, que lhe explicasse o texto evangélico. Ao ouvir do sacerdote que tudo isso se referia aos que desejavam ser discípulos de Cristo, Francisco vibrou de alegria, cheio do Espírito Santo, e exclamou: “É isso que eu quero, é isso que eu procurava, e é isso que, eu com todo coração, me proponho a cumprir” (1 Cel. 22). Assim imediatamente pôs mãos à obra, ao seu caminho de buscar e servir ao Senhor.
A missão apostólica se converteu em norma de vida, e Francisco recebe o Evangelho. A missão apostólica é porta de entrada, é porta do Evangelho. De fato, os apóstolos, antes de serem enviados foram discípulos. Durante os três anos de vida pública do Senhor, os discípulos aprenderam de seu Mestre o Evangelho-Vivo, em sua totalidade. Até que terminaram a etapa do discipulado, depois da ressurreição, foram enviados como Apóstolos.
Antes da “grande revelação” ou revelação do Evangelho, São Francisco e seus dois primeiros irmãos, Bernardo e Pedro Cattani, receberam, em 16 de abril de 1208, a revelação de três textos evangélicos: “Se queres ser perfeito, vai vende tudo o que tem, dás aos pobres, depois vem e segue-me” (Mt 19,21); “Não leveis coisa alguma para o caminho…”(Lc 9,3); “Se alguém quer vir comigo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e segue-me”(Mt 16,24).
Podemos dizer que a Missão apostólica é a primeiríssima Regra de vida para São Francisco e seus companheiros. É tão importante este texto, que nós franciscanos deveríamos sabê-lo de memória; deveríamos estudá-lo cuidadosamente versículo por versículo e novamente deixar-se tocar por essa força fundante. Dele nasce o itinerário espiritual de São Francisco. Para conhecer e seguir as pegadas de nosso Pai São Francisco faz-se necessário experimentar a força desse texto. Ele é a chave para o seguimento franciscano em todos os tempos. Reconstruindo o itinerário espiritual de São Francisco pretende-se entendê-lo dentro do seu contexto, de encontro com O Senhor Vivo do Evangelho e nascimento da família por ele iniciada. Consideramos um grande erro a pretensão de traçar o itinerário espiritual de São Francisco independentemente do itinerário espiritual dos apóstolos.
A missão dos Doze tem inicio com o chamado pessoal feito pelo Senhor, aos quais confere o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo o mal e toda enfermidade, depois passa a designar os nomes dos Doze. Deu-lhes prescrições pastorais e adverti-os sobre as perseguições que encontrariam; seriam enviados “como ovelhas no meio de lobos”. O discípulo não é mais que o mestre! O servidor não é mais que o patrão! Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu patrão. Deviam falar francamente e sem temor! Deviam dar testemunho do Senhor diante dos homens. Aquele que O negasse diante dos homens, também, a negação do Senhor diante do Pai (Mt 10,26-33). Jesus se manifesta como sinal de contradição diante de uma vida estruturada por valores contrários a logica do Reino (Mt 10, 34-36).
Jesus pede um amor incondicional do discípulo! É preciso renunciar-se para segui-lo! Não há espaço para um coração dividido e sem amor profundo que leva a mediocridade no seguimento. Este itinerário espiritual significa o caminho pelo qual o Espírito Santo foi levando São Francisco até a mais perfeita realização humana e espiritual. Tendo em conta que a perfeição cristã se compara, acertadamente, com a ascensão a uma altíssima montanha, facilmente se admite que possa haver e há muitos caminhos para chegar. Mas nem todos tem folego para percorrer até o fim. “Quem vos receber a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou”.
Assim, concluo caro (a) leitor (a) desejando, que estes textos possam ajuda-los (as) a reencontrarem-se com o Espírito Vivo das Sagradas Escrituras, levando-os (as) a um Encontro com o Senhor, vivendo o seu seguimento com mais convicção e testemunho. Despertando para uma vida de Fé, que fecunde a história humana. E hoje, de modo especial, não podemos deixar de lembrar com carinho daquele missionário e servo de Deus, o querido Bispo Dom Giocondo Maria Grotti – OSM, que há exatos 46 anos, (1971 – 2017) morreria de forma trágica, naquele avião cruzeiro DC – 3, que caiu assim que decolou da cidade de Sena Madureira. Ali se encontra a marca de um acontecimento que o povo acreano parece não esquecer nunca mais. Dom Giocondo ficou no coração do povo, porque tinha o povo no coração.

Frei Paulo Roberto Gomes é da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, que se reúnem todo 4º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês às 7h.

A Gazeta do Acre: