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Você tem medo de quê?

Existe um senso comum que nos ronda desde a infância de que é o medo que nos livra de várias situações de perigo e embaraço. Caso não sentíssemos medo, as enrascadas nas quais nos meteríamos seriam imensas. E depois? E quando crescemos e já conseguimos discernir os males que devemos evitar? Continuamos tendo medo, pois as incertezas sobre onde pisar continuam.

Para Zygmunt Bauman, medo é como nomeamos nossas incertezas, e devemos convir que elas mudam conforme nossa idade, mas continuam sempre perto de nós. Sejam as incertezas de ser ou não amado, quando crianças, de qual profissão seguir ao fim da Educação Básica ou casar ou não quando se encontra um amor. Nosso medo reside na escuridão da dúvida, na opacidade das escolhas, na incerteza sobre qual caminho percorrer.

Alguns medos são tão aterrorizantes que nos paralisam, mas a sociedade na qual vivemos tenta fazer deles algo tolerável. A morte, por exemplo, vem continuamente sendo desconstruída e até banalizada, com o intuito de torná-la menos cruel do que possa parecer: desastres “naturais”, mortes por doença ou velhice tendem a ser vistas como “é assim mesmo, chegou a hora”. Que fique claro que não é de todo ruim, uma vez que esse esforço de redução do trágico nos dá mais conforto, mesmo que momentâneo.

Em meio aos nossos medos de adulto: insegurança social, ameaça à integridade física, confiança, entre outros, o que nos causa mais vulnerabilidade são os que dizem respeito a nossa condição como ser social. O medo da exclusão e degradação social aflige a cada um de nós de modo muito particular o que coloca nossa identidade em questão a todo momento. Aquilo a que chamamos de “crise de identidade” nos pesa como o medo mais aterrorizante quando nossa zona de conforto é confrontada com dúvidas sobre qual nosso lugar na sociedade e, especialmente, qual a importância de quem somos para os outros. Ou seja, nos ver refletidos na opinião alheia ainda é algo com que precisamos lidar.

Assim, o bom seria se pudéssemos usufruir da eterna síndrome de Peter Pan e continuar tendo medo apenas de bichos, de fantasmas, de dormir só e não perceber nunca que a escuridão é mais real do que pensamos. Crescer causa dor e dor causa medo, mas mesmo assim vale a pena quando estamos dispostos a encarar os desafios e mostrar para nossos medos quem manda no pedaço. Bem-vindos à vida adulta!

“Alguns medos são tão aterrorizantes que nos paralisam, mas a sociedade na qual vivemos tenta fazer deles algo tolerável”

A Gazeta do Acre: