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Juízes e réus de redes sociais

As redes sociais e os aplicativos de mensagem instantânea são as ferramentas de comunicação mais utilizadas atualmente. Junto à facilidade que elas proporcionam vem a banalização do uso e, de modo incoerente e leviano, muitas pessoas escondem-se em seus smartphones e computadores para proclamar suas verdades doa a quem doer.
A sociedade informatizada passou a dispor de um poder sem precedentes ao escrever suas opiniões e pensamentos nas páginas mundiais. De fato, é de subir à cabeça a possibilidade de se escrever o que bem quiser aos quatro cantos do mundo e desabafar, nem que digitalmente, cada revolta e angústia não dita cara a cara. Tal poder, porém, é como uma cortina de fumaça, pois geralmente não tem embasamento e grandes indícios de autoria. Na grande maioria das vezes os discursos facebookianos não passam de repetições e chavões ditos em série.
Algumas coisas são alarmantes nesse sentido. Primeiro, a falta de originalidade e os inúmeros “copia e cola” denotam a ausência de conhecimento que pode ser gerado através da leitura, através da fome de saber, através da busca de argumentos sólidos. Depois, é temeroso constatar que essas repetições formam, de fato, opinião e conduzem muitas pessoas a “verdades” perigosas, ou seja, é mais cômodo perpetuarmos o que está posto, mastigado e cuspido nas telas mundo afora.
Outro ponto preocupante é a falta de compreensão do que se lê. A sociedade brasileira não lê pouco, comparando-se aos últimos anos, porém, infelizmente, lê mal. As pessoas não conseguem extrair informações elementares de textos simples e parecem sentir prazer em fazer parte das brigas resultantes dessas incompreensões. Desse modo, o ciclo de ler livros, ler pessoas e ler o mundo tem ficado cada vez mais defeituoso.
Assim, não podemos abrir mão do conhecimento e do status quo que ele nos proporciona. Conhecer é conseguir argumentar sem ferir, expor sem agredir, militar sem digladiar. Quando apenas reproduzimos o discurso do outro não somos capazes de dar voz às mazelas e temores que são nossos, que fazem parte do nosso mundo e a sociedade acaba sendo representada sempre de modo monofônico e com a audácia apenas dos poucos que foram em busca de conhecimento.

“Quando apenas reproduzimos o discurso do outro não somos capazes de dar voz às mazelas e temores que são nossos”

A Gazeta do Acre: