X

Se me arrependo?

Se me arrependo dos meus erros? Sim. Quanto dissabor me trouxeram!
O deslize de um único dia pode gerar anos de padecimento. E concepções distorcidas da realidade atraem sofrimentos crônicos.
Entretanto, dentro do tempo do erro há horas e horas para observar, pensar, sentir tristeza ou raiva, lamentar, questionar, investigar causas, reconsiderar, elaborar significados e estudar soluções, enfim, equacionar o ocorrido.
E, quando, nesse processo, sem cair na armadilha da autopiedade ou da acusação, a gente pondera com honestidade, a visão vai se tornando clara e revelando o instigante mosaico pessoal.
Então, a sensação de se descobrir é única. É redentor ter em mãos a chave do entendimento, compreender que a gente sempre teve uma boa razão para fazer o que fez, mesmo que tenha sido, de diversos modos e intensidades, inapropriado. Porque o erro defende, de um jeito torto, um motivo legítimo. No fundo, todos estão buscando uma forma de serem felizes.
Esse fator não se presta a justificar qualquer falha. Mas certamente ajuda a explicar e redimensionar as situações. E é a chave de uma porta fundamental e apaziguadora: a do perdão. A si. Aos outros.
Quando então nasce a liberdade para deixar o passador ir. Encerrar o ciclo. Esvaziar-se e receber o presente, sempre novo e pleno de possibilidades.
Se me arrependo dos meus erros? Não. Tê-los experimentado me demonstrou por que eram erros. Lição que me promoveu como ser humano.
Ter eventualmente ferido pessoas e sentir em meu coração a sua dor me ensinou, na medida da minha capacidade, a ser mais cuidadosa, compassiva e gentil.
Ter barganhado a minha dignidade me mostrou que é mesmo importante estabelecer conexões com os outros, mas há coisas que não se negociam.
E, ainda, aprendi que dizer “não” pode nos poupar de muito aborrecimento. Além de ser o único caminho para pronunciar “sim” de verdade.
Os meus erros, com decisão os tomei nas mãos, com lágrimas os lavei e com minhas reflexões os lapidei. São agora minhas joias de gratidão, meus trunfos, meus escudos, meu patrimônio humano.

A Gazeta do Acre: