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‘Bala doce’ chega aos jovens da classe média alta do Acre

Entenda os perigosos encantos das drogas que viraram mania entre os jovens

“Me senti mais feliz, desinibida, não queria parar de dançar nunca mais”. Foi assim que uma jovem de 26 anos definiu a sua primeira experiência com LSD e ecstasy, conhecidos popularmente por ‘doce’ e ‘bala’ respectivamente.

Em alta no Brasil, as drogas sintéticas são produzidas a partir de uma ou várias substâncias químicas psicoativas, como anfetaminas, metanfetamina e ácido lisérgico. Ao serem ingeridas, essas substâncias afetam o sistema nervoso central e provocam alucinações.

Segundo o Escritório de Drogas e Crime das Nações Unidas (Unodc), pelo menos 106 países e territórios de todo o mundo registraram o aparecimento de pelo menos uma nova substância psicoativa (NSP). Entre 2009 e 2016, foram identificadas 739 novas substâncias.

Mas, por que o combate a drogas ilícitas sintéticas é considerado difícil pelas autoridades?

O chefe de Departamento de Inteligência da Polícia Civil do Acre, delegado Alcino Júnior, explica que os criminosos fazem pequenas alterações estruturais nas moléculas das substâncias para que não estejam incluídas na lista de proibições da Anvisa. Dessa forma, a polícia fica impedida de apreender esses produtos.

“Até que se atualize o que está proibido na portaria do Ministério da Saúde, no caso da Vigilância Sanitária, não dá tempo. É como burlar a portaria, logo não é considerado droga, logo não é crime. Há sempre esse problema.”

Apesar da febre das drogas sintéticas entre os jovens, no Acre a realidade é diferente. Nos últimos dois anos foram registrados apenas duas apreensões de LSD, segundo a PC. O delegado conta que os dois casos ocorreram em datas que antecederam festas eletrônicas.

“O uso aqui ainda é muito pequeno e, por conseguinte, as apreensões, e o tráfico, são muito pequenos. Nos grandes centros o uso é maior, o que não é nossa realidade. Normalmente, as drogas que entram no Estado vêm da região Sudeste”.

Delegado Alcino Júnior afirma que uso de droga
sintética é maior entre jovens de classe média alta

Alcino ressalta que o índice de consumo de drogas sintéticas é maior entre jovens de classe média alta, já que o valor do produto é superior ao de entorpecentes como, por exemplo, a cocaína.

“Se partirmos do pressuposto da droga e quem usa nós temos uma escada. A maconha, em termos de Brasil é um pouco mais democrática. A cocaína já beira uma classe média a uma classe média alta. Quando falamos de droga sintética já é uma classe média alta, que vai participar de um festival de música ou uma rave”.

Ecstasy e LCD são muito usados em boates, afirma jovem
“Bala doce” é uma droga sintética usada pelos jovens

Conheça os principais sintomas

O consumo de drogas sintéticas pode causar sintomas imediatos. São eles: taquicardia, taquipneia (aceleração do ritmo respiratório), agitação extrema, perda de reflexo, aumento da pressão arterial, convulsão, diminuição da temperatura corporal, redução da sensibilidade do corpo.
A longo prazo, os riscos para a saúde provocados por essas substâncias são ainda mais perigosos: infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal, acidente vascular cerebral (AVC), danos ao fígado e aos vasos sanguíneos.

Classe social e o uso de drogas

De modo geral, o consumo de drogas está ligado à classe social e econômica dos usuários. A reportagem de A GAZETA conversou com socioeducandos que cumprem medida no Centro Socioeducativo Acre e observou que os jovens de classe social baixa que já consumiram entorpecentes, não tiveram acesso a drogas sintéticas.

É o caso de Júnior (nome fictício), de 18 anos, que experimentou maconha e cocaína pela primeira vez aos 15 anos. Ele cumpre medida socioeducativa por homicídio, mas conta que já vendeu drogas e conhece bem o perfil dos usuários.

“Eu vendia mela, maconha e cocaína, para todo tipo de gente. Estudantes, usuários, pessoas de classe média, e até policiais.”

Apesar de nunca ter usado drogas sintéticas, Júnior diz conhecer pessoas que consomem esse tipo de substâncias. “Me falaram que a sensação é de tá ouvindo e vendo coisas que não era pra ver”.

Já Rafael (nome fictício), de 19 anos, cumpre medida socioeducativa por assalto. A sua primeira experiência com droga foi aos 15 anos, quando fumou maconha por curiosidade. Ele relata que nunca utilizou drogas sintéticas, porém, tem amigos que fazem uso da substância.

“Já ouvi falar muito sobre. Já me ofereceram, mas eu não aceitei. Em boates o que mais a gente vê é esse tipo de coisa.”

Em contrapartida, jovens de classe média e classe média alta utilizam dessas substâncias com frequência. A estudante de Direito, Clara (nome fictício), de 27 anos, consumiu ‘doce’ pela primeira vez aos 21 anos durante uma festa eletrônica. Ela descreve o efeito causado pela droga.

“Cada pessoa sente algo diferente, depende da festa, do seu estado de humor, da quantidade, se misturou com álcool. É meio inexplicável, é uma sensação de euforia, alegria, vontade de dançar, pular, e não dormir nunca mais. Pra mim é como um energético que me fez aproveitar as festas e festivais de música eletrônica.”

A jovem Vanessa (nome fictício), 25 anos, já experimentou LSD e ecstasy. Ela fala que é difícil explicar a sensação que a droga causa. “Eu sentia tudo mais vibrante, dá um calor também. Eu sou tímida, só me solto depois de uns goles, então eu gostei da sensação. O mais estranho foi quando eu provei a bala, eu via as estrelas se mexerem”.

 

Jovem relata contato com droga sintética em Rio Branco
A Gazeta do Acre: