– Alô, por favor a Roberta?
– Pois não, sou eu.
– Olá, Roberta, como vai?
– Tudo certo, e você?
– Melhor agora. Que maravilha encontrá-la bem!
Recebi esse telefonema enquanto escrevia um texto para este espaço. Fiquei tão desconcertada. Mas feliz por saber que alguém achava uma maravilha me encontrar bem. Nunca mais tinha usado esta palavra: maravilha. Passei frações de segundos cheia de mim, leve e curiosa para saber quem estava do outro lado da linha, até que minha interlocutora se apresentou:
– Meu nome é X e ligo em nome do banco Y para dar a você uma boa notícia: você foi selecionada para receber um cartão Z…
Que decepção! Recentemente, vi uma ligação perdida de um número que eu não conhecia e, quando retornei, fui atendida por uma gravação tentando me vender um plano de telefone móvel. Tenho verdadeiro horror de perder meu tempo com esse tipo de oferta; acho invasivo, sinto-me insegura.
Minhas meninas até esses dias não se interessavam pelo telefone aqui de casa, mas aos poucos começaram a receber ligações das amigas e, ao sinal do toque do aparelho, correm para atendê-lo. Ao perceber o movimento, passei a instruí-las em relação ao uso, desde como atender com educação, como chamar por uma amiga da maneira mais adequada (quando são elas a ligar) até a necessidade de se manter atenta para não responder a perguntas perigosas.
Achei que elas tinham internalizado a lição até me ver caindo no conto da vendedora simpática. Para além de nossa suscetibilidade a invasões telefônicas, esse episódio me fez pensar no conceito mais amplo da tarefa de educar uma criança: educar é tentar ensinar o que talvez ainda não se aprendeu, é tentar fazer alguém estar atento e protegido de algo que, muitas vezes, é impossível de prever. É parecer estar na posição da certeza, embora estejamos a maior parte do tempo confortavelmente colados na eterna posição da dúvida.
Em que tarefa difícil nos metemos, não? Que impressionante pensar que, ainda assim, na maior parte dos casos cumprimos a missão. Que maravilha saber que encontramos caminhos e que vamos indo bem.
“Educar é tentar ensinar o que talvez ainda não se aprendeu”