Para além dos aniversários marcantes (5 anos, 10, 15), dos riscos que fazemos na parede para registrar a nova estatura das crianças, da curva do crescimento do pediatra, é nos momentos distraídos que a vida sopra no ouvido de uma mãe: “Ei, seu filho está crescendo”.
Na semana passada, minha filha adoeceu. Feitos exames, a médica indicou o uso de um antibiótico. Perguntou-lhe se preferia o remédio em líquido ou em comprimidos. Respondemos (discordando) juntas, e ela preferia os comprimidos. Em meio à agonia do pronto-socorro, fiquei tocada. “Comprimidos! Que adulta!”, pensei.
“Nossas crianças não são nosso espelho (que bom!). Definitivamente, não os conhecemos 100% (que duro e lindo ao mesmo tempo)”
Dois dias depois, menina e seus comprimidos viajaram para a casa da avó, a exatos 2.701 quilômetros de São Paulo. No primeiro dia fora, liguei para lembrá-la do horário de tomar o antibiótico. Não me atendeu; estava desligando o alarme que ela mesma programou no telefone para se recordar. “Pronto, cresceu!”
Assisti hoje (bem atrasada) a Capitão fantástico. Se você, como eu, perdeu o timing, vale apelar para o Netflix. O filme conta a história de pais que resolvem criar a família de maneira bastante peculiar. É interessante observar como, apesar de parecerem coesos na escolha do modo de viver, se depararam com suas certezas ficando pelo caminho à medida que os filhos crescem.
Por mais bem-feito, não há roteiro que dê conta do que há de vir. Nossas crianças não são nosso espelho (que bom!). Definitivamente, não os conhecemos 100% (que duro e lindo ao mesmo tempo). Não, não sabemos o que é melhor para eles como quando eram bebês. Talvez nem quando eram bebês. Eles são outros. Possuem outros desejos, outro jeito de ver o mundo, outro mundo. Sorte a nossa poder tomar esses sustinhos aqui e ali. É como poder encostar no tempo.