“Cabe a cada um escolher entre inserir-se no mundo e no de outras pessoas ou viver à espreita dele na tentativa de se defender para sempre”
Estamos em pleno século XXI e a prerrogativa de viver relacionamentos sólidos não nos pertence. É muito fácil comprovar que para cada desejo de uma vida familiar, amorosa, conjugal e sentimental estável vem o ônus de uma expectativa que pode ser frustrada. O que é mais agravante nos relacionamentos fluidos da atualidade é a falta de consciência de que, de fato, eles existem.
Com o passar do tempo homens e mulheres têm se esforçado ao máximo para não demonstrar afeto, pois vivemos em mundo em que tempo virou luxo e não tê-lo tornou-se condição sine qua non das pessoas modernas. Nesse mundo de superficialidades as relações pessoais acompanharam o ritmo do descartável e amar tornou-se tão desnecessário quanto ter telefone fixo.
Além disso, manter uma relação não é fácil e cada vez que nos frustramos preferimos descartá-la que remendá-la, simplesmente porque parece ser mais cômodo dizer que não se importa com o outro já que é muito “mais importante” cuidar de si mesmo. Para o filósofo polonês Zygmunt Bauman, as pessoas modernas preferem cortar vínculos a resolver seus problemas, ou seja, quando nos desconectamos de alguém os problemas desaparecem. Mas, será que essas relações instáveis produzem a segurança com que tanto sonhamos?
O fato é que mesmo nas relações não amorosas somos inseguros se não pudermos ter o controle. O controle ou a falta dele está vinculado muito no que se pode ter e pouco no que se pode ser e a busca desenfreada por poder e reconhecimento nos tira da sociedade global e nos coloca num mundo personalizado de depressão e isolamento. Esse ciclo é o que impulsiona a sociedade a ter sempre menos empatia e mais individualidade, de modo que toda e qualquer relação torne-se líquida e frágil.
Assim, quando nos esquivamos de prosseguir em um relacionamento por medo de frustrações futuras ou por receio de outras já vividas, estamos abrindo mão de possibilidades que só recebe quem “paga pra ver”. Cabe a cada um escolher entre inserir-se no mundo e no de outras pessoas ou viver à espreita dele na tentativa de se defender para sempre.
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
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