“Tão lindo ver pais que não tiveram muita oportunidade de estudo e que por esse exato motivo buscam boas escolas para os filhos”
Lá estava eu em mais uma entrevista de rotina. O tema era os colégios militares em Rio Branco. Na sala da coordenação, no Centro, eu colhia tudo o que julgava necessário para minha matéria, até que ele entrou.
Um senhor de sorriso gentil passou pela porta. Ele usava boné, mochila nas costas e uma roupa suada, o que denunciava que devia ter andado muito até chegar ali.
Nas mãos ele trazia um papel com o nome do filho. O senhor queria saber se o menino havia conseguido alguma das vagas sorteadas. Logo lhe disseram que a lista estava disponível no térreo do prédio. Ele recuou, meio sem jeito, e disse que havia esquecido os óculos. Eu costumava ouvir isso de pessoas que não sabiam ler, mas que tinham vergonha de falar. Ou talvez o homem só não conseguisse ler sem as lentes.
Eu me ofereci para ajudá-lo. Estava confiante que veria mais um pai feliz com a conquista do filho. E aquele parecia um pai especial.
Chegamos ao local e o homem estava sorridente diante de inúmeras listas. Claro que com tantos papeis a chance do nome do filho estar em um deles era maior. Então eu também me empolguei.
O senhor disse que queria uma escola boa para o filho dele. E não é só ele que pensa assim. Ainda que os colégios militares não tenham funcionado um só dia até agora, a expectativa é a melhor por parte dos pais e dos próprios alunos. Espero de verdade que esse modelo dê certo.
E lá fui eu procurar, lista por lista, o nome do menino. Procurei uma, duas, três vezes, mas não encontrei. Poxa. Fiquei tão triste que voltei a procurar mais uma vez. Como eu daria aquela notícia para o homem de olhos gentis?
Depois de um tempo revelei que não estava encontrando o nome do jovem. Apesar disso, o senhor não desanimou e disse que iria esperar por novas vagas. Ele se encheu de esperança e foi embora.
De volta para casa acabei percebendo que não perguntei o nome dele, mas não vou me esquecer daquele sorriso bondoso. O sorriso de um pai que quer o melhor para o filho.
Tão lindo ver pais que não tiveram muita oportunidade de estudo e que por esse exato motivo buscam boas escolas para os filhos.
Quantos pais por esse mundo não acabam tirando o alimento da boca para dar ao seu pequeno? Quantos não sacrificam o salário suado para vesti-los bem? Quantos não abrem mão do que gostam para por o filho em primeiro lugar?
Isso me fez refletir e agora me pego com o peito cheio de gratidão pela criação e amor que recebi. Nossos pais não são perfeitos, mas nos amam. Isso deve ser valorizado.