Todos nós sempre ouvimos falar que o Brasil é um país povoado de misturas de todos os tipos: religiosa, étnica, social, econômica, de gêneros. É verdade, somos um país multiforme e, claro, na língua falada e escrita é da mesma forma. Quando fomos colonizados, em 1500, muitas línguas chegaram ao nosso país, línguas europeias que traziam suas próprias tradições e sotaques, seus regionalismos e particularidades. Aqui, havia milhares de índios que falavam línguas diversas, dialetos típicos de suas tribos e povos.
Com o passar da colonização e a necessidade de trabalho imposta pelos europeus, vieram também os negros africanos, que também tinham suas línguas e dialetos no bojo de suas tradição. A mistura de línguas só aumentou e após anos de convivência de tantos povos surgiu, não impunemente, o português brasileiro. Nossa língua é um pouco injustiçada, pois vive sendo descrita como difícil, cheia de regras e cheia de exceções, mas após ser formada com tanta heterogeneidade só podia mesmo resultar nesse caldeirão.
Imagine uma língua que define adjetivo como “característica de algo ou alguém”, mas nomeia “beleza” como substantivo? Imagine uma língua que tem tantos significados para a palavra “ponto” que enche uma página do dicionário? Imagine uma língua que se permite modificar a partir da fala de cada brasileiro. A Língua Portuguesa falada no Brasil, assim como muitas coisas por aqui, é única, exótica, miscigenada, plural e muito digna do povo que a usa.
Não podemos esquecer nunca que falamos a língua dos índios, dos negros, dos portugueses, dos espanhois e é a todos eles que devemos, igualmente, reverência à palavra “saudade”, por exemplo, que não existe em outro idioma. Também devemos lembrar que é nessa mistura de raças que reside nosso DNA e todo nosso respeito a quem somos passa também pela língua que falamos e pelo modo como a usamos em nosso dia-a-dia.
Assim, antes de justificarmos nosso desconhecimento com a Língua Portuguesa Brasileira, que possamos lembrar de sua origem e formação e queiramos aprimorar seu uso através de práticas de leitura e escrita que dizem a respeito de nós muito mais do que podemos imaginar.
“É nessa mistura de raças que reside nosso DNA e todo nosso respeito a quem somos passa também pela língua que falamos e pelo modo como a usamos em nosso dia-a-dia”
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
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