“Quantos de nós deixamos de viver nossas “verdades” para liberá-las somente no carnaval?”
O ano vai começar, o carnaval está chegando. Época de liberdade, de agito e alegria, de pudores despidos, de amores casuais e, acima de tudo, dias em que se vive a máxima de que tudo é permitido. Com essa liberdade momentânea é importante que cada um se pergunte quais são suas prioridades e quais os significados e consequências do que fazemos nos cinco dias de alegria.
Quando inseridos no mundo de Momo usamos as fantasias mais convenientes e as máscaras mais eficazes. Nos escondemos por trás de símbolos que não são apenas do carnaval, são nossos, nos representam, nos definem. Mas, diante disso, é preciso considerar que, quem sabe, essa representatividade seja tão implícita que nem nós mesmos conseguimos compreender. Ou seja, as fantasias que usamos têm a ver com a alegria da festa ou com nosso receio em expor a todos, no restante do ano, quem realmente somos?
Sem essa pergunta talvez a ressaca seja mais difícil de ser curada, pois vem acompanhada daquela má digestão típica das escolhas erradas. Quando usamos máscaras para encobrir nossas angústias, verdades e frustrações corremos o risco de aprender a duras penas que “cachaça não é água, não”. Dessa maneira, o carnaval pode ser um ciclo de reflexões ou de dor de cabeça.
O fato é que a fluidez dessa época do ano precisa servir muito mais do que para darmos vida à Colombina, mas, também para saber se os triângulos amorosos, as traições, os desejo de liberdade vão se perpetuar durante o restante do ano ou as máscaras cairão na quarta-feira de cinzas. Quantos de nós deixamos de viver nossas “verdades” para liberá-las somente no carnaval? Quantos de nós usamos máscaras durante todo o ano e no carnaval, momento de usar as máscaras coloridas, aí sim mostramos quem somos?
Assim, as máscaras que usamos podem ser rosa, azul ou vermelha, mas também podem ser o paletó e a gravata, o vestido comportado e o colar de pérolas da segunda de manhã. Façamos nossas escolhas, mas com a certeza de que a pior marchinha que alguém pode ouvir no carnaval ou em qualquer época do ano é o inefável subjuntivo que Mário e Roberto disseram à Aurora: “Se você fosse sincera…”
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
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