Nos dias de hoje, entre tantos desafios que enfrentamos, comuns à vida “moderna”, está o de lidar com a crítica constante a respeito da vida uns dos outros. Essa vida, nem tão moderna assim, muda, evolui, mas, definitivamente, algo que não muda é o costume da “conversa de Matilde” de apontar o dedo para o outro na tentativa esdrúxula de modificar aquela vida. Nos tornamos juízes da vida alheia. Juízes para lá de leigos do que o outro pensa, faz e deixa de fazer.
“Existe uma linha tênue e perigosa entre ter opinião e liberá-la sem pudores aos ouvidos alheios, especialmente porque ninguém é obrigado”
Os pareceres que emitimos a respeito de outras pessoas são tão corriqueiros que já se naturalizaram. Parece estranho alguém que não se interessa em julgar, seja em que esfera for, a vida, a aparência, os sentimentos, os filhos, o trabalho ou até o que o outro vê na televisão. O que o julgamento que fazemos uns sobre os outros modifica positivamente? Nada, absolutamente. Ao contrário, acrescenta ranço, discórdia e contenda aos dias tão difíceis que já vivemos.
Mas a reflexão principal é: por que julgamos? Por que achamos que podemos? Que rufem os tambores porque a resposta talvez venha cheia de julgamento também. Será que nos achamos superiores quando criticamos alguém que assiste a um determinado programa de TV ou quando dizemos que aquela determinada música é de marginais? Existe uma linha tênue e perigosa entre ter opinião e liberá-la sem pudores aos ouvidos alheios, especialmente porque ninguém é obrigado.
Com tanto juízo aonde iremos parar? Com tanta crítica, a quem, de fato, estamos atingindo? Ao outro ou à fonte de prazer do nosso próprio ego? Que diferença faz para qualquer um de nós o fato de meu vizinho gostar de sertanejo ou pintar o cabelo de azul ou assistir BBB? Que Freud nos perdoe por não darmos muita “moral” àquela sábia frase: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo” e que possamos falar, criticar, julgar, mas tendo a certeza de que cada um diz o que quer, mas com a certeza de que vai ouvir o que não quer.
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
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