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Eles comemoram

“A falta de empatia e respeito pela dor do próximo

chega a ser monstruosa”

Não costumo entrar em assuntos polêmicos, porque acredito que nessas situações, as pessoas têm suas ideologias muito bem definidas e jamais recuarão. Contudo, aprecio a troca de ideias de forma saudável e respeitosa, pois isso agrega muito no tipo de ser humano que somos.
No entanto, em certos momentos, calar-se é tão ruim quanto entrar em debates desgastantes.
A morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro/RJ, na última quarta-feira, 14, abalou o país e teve repercussão internacional. Ela voltava de um encontro de mulheres negras e seguia para casa quando o carro em que estava foi emparelhado por outro e alvo de vários disparos. O motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, e a vereadora foram atingidos e morreram. Uma assessora, que também estava no carro, sobreviveu. Os bandidos fugiram sem levar nada.
Naquela noite, mais duas vidas foram arrancadas de suas famílias. Pessoas como eu e você, com sonhos, planos e conquistas.
O crime está sendo investigado, mas há uma sombra de muitas suspeitas. Marielle era contra a intervenção militar no Rio e um dia antes havia feito uma denúncia no Twitter sobre a atuação da polícia na favela.
Trabalhar com os Direitos Humanos colocou Marielle no alvo dos “adoradores do regime militar”. Talvez por ignorância ou por preguiça mesmo, muita gente acredita que esses direitos pertencem apenas aos bandidos, aos negros e pobres.
A Constituição Federal traz um artigo inteiro sobre os direitos e garantias fundamentais, coisas básicas que todos precisamos para viver.
Mas, parte dos brasileiros (espero que seja a minoria), comemorou a morte de Marielle usando como fundamento o fato de ela defender bandido.
Os comentários são chocantes e enojam. Eram pesados, frios e desumanos.
Marielle morreu porque certamente estava incomodando alguém. Além dos assassinos, milhares de pessoas puxaram o gatilho junto quando comemoraram o crime.
Ela foi assassinada porque tinha coragem e trabalhava por algo que acreditava, um Brasil melhor.
O que, talvez, seus assassinos não esperavam é que a morte dela ecoaria pelo mundo e que seu velório comoveria tanto.
Diante da situação, não há como não lamentar pelo rumo que toma a humanidade. A falta de empatia e respeito pela dor do próximo chega a ser monstruosa.
O que esperamos é que este não seja só mais um crime arquivado sem solução. Os autores devem pagar e os que riem da desgraça de um irmão precisam aprender a amar.

* Brenna Amâncio é jornalista.
E-mail: brenna.amancio@gmail.com

Fabiano Azevedo: