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Stephen Hawking: Luta pela vida!

“Hawking apostou na vida, lutou para continuar vivo e se tornou protagonista de uma história fantástica”

 

Sinto-me, enquanto embulo este artiguete, sem ação e impotente, contra toda sorte de mazelas sociais que enchem o mundo atual. Mundo mais virtual do que humano. Mundo em que a vida humana perdeu o valor, pois se mata por coisas tão banais. Mundo em que, entre lutar pela vida e matar, pontificam as mortes trágicas: homicídios a cada minuto, guerras convencionais e atentados criminosos. Mundo louco e muito mau!
Mundo em que se constata que o homem deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele. Mundo que perdeu consciência moral, afinal trocamos a verdade pela mentira. Podemos dizer a verdade, contudo preferimos a mentira. É assim aqui, ali ou em qualquer outro lugar nos quadrantes da terra. Somos lobos uns dos outros, resultado duma atitude individualista e fator responsável pelas guerras, pelos conflitos e situações prejudiciais a todos.
Num mundo assim há de se louvar aqueles que querem e lutam pela vida, optam por viver, cujo exemplo, dentre tantos, é nos dado pelo astrofísico Stephen Hawking (1942-2018). Hawking, cujos movimentos do corpo foram limitados por uma doença degenerativa por mais de 50 anos, deixa um legado tenaz de luta pela vida. Desejo ou coragem de viver, mesmo!
Quando era um estudante de 21 anos, dizem algumas biografias de sua vida particular, Stephen Hawking descobriu que sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa que mata as células nervosas responsáveis pelo controle da musculatura. Na previsão dos médicos, ele teria alguns meses de vida, nos quais assistiria o corpo fugir progressivamente de seu controle. Contra fortes evidências, apostou na vida, lutou para continuar vivo, e se tornou protagonista de uma história fantástica. Se casou duas vezes, teve três filhos e três netos, experimentou a gravidade zero num vôo sub-orbital, acrescentou dados novos à teoria da relatividade de Einstein e popularizou a ciência ao escrever livros como Uma breve história do tempo (1988) e O universo numa casca de noz (2001).
Hawking, em sua luta pela vida, quebrou e subjugou um conceito hedonista, que enxerga a existência humana pelo prisma da teoria ética que identifica o BEM com a FELICIDADE, e entende que “vida boa” é a presença do prazer e a ausência da DOR. Hawking considerava que a felicidade consistia sobretudo de atividades produtivas. Em outras palavras, a pessoa que vive bem e feliz é a que prospera realizando seu potencial.
Hawking representa, sobremodo, o SÍMBOLO da persistência ou perseverança Sua vida é um feito espetacular, uma vez que traz a marca da grandeza de homens e mulheres que fizeram história em diferentes áreas da atividade humana. É fenomenal, notadamente por se afirmar diante de um mundo que só privilegia os mais fortes.
Numa de suas últimas assertivas públicas, disse: “Não posso dizer que a doença foi uma sorte, mas hoje sou mais feliz do que era antes do diagnóstico” “Não importa quanto à vida possa ser ruim, sempre existe algo que você pode fazer, e triunfar”.
Essa expressão, categórica, de Hawking, nega que o homem tenha o direito de cometer suicídio. Assemelha-se a um conceito socrático. Socrátes (470-399 a.C.) dizia que o homem é propriedade dos deuses e a vida e a morte dependem deles, ou do Deus judaíco-cristão, e não da vontade humana. Ele pensava que sempre será melhor sofrer do que cometer um mal e o suicídio é um mal, pelo menos na maioria dos casos. Hawking encarnou esse princípio, ja que, no debate sobre a morte digna, o físico defendia a intensa vontade de viver.

*Gestor de Educação Superior/Humanista. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

Fabiano Azevedo: