* Que oportunidades uma empresa joga fora ao desencorajar a maternidade?
Uma recente pesquisa divulgada no último dia 19 pela Vox mostra que na Dinamarca, país exemplo de boas políticas de licença parental, a diferença salarial entre gêneros – que é em média 20% a mais para os homens, como era de se esperar – está diretamente ligada à maternidade.
HenrikKleven, economista da Universidade de Princeton, compara salários de homens e mulheres antes e depois dos filhos, e de mulheres com ou sem filhos. As que não os têm já estão muito próximas ao ganho masculino. O estudo conduzido por ela, também levanta dados curiosos. Na Dinamarca, mães e pais podem dividir a licença parental da maneira que for mais conveniente para o casal; no entanto, a média de tempo usada pelos homens do país é de apenas 10%.
A Dinamarca não opera essa lógica sozinha. Nos Estados Unidos, o gap de salários começa a partir dos 30 anos, idade média para a primeira gravidez do grupo de mulheres escolhido para a pesquisa de Marianne Bertrand, da Universidade de Chicago. Nesse período da vida, a diferença é de aproximadamente 15%. No mesmo grupo, a diferença passa dos 60% depois de nove anos de carreira.
Aos gestores que inacreditavelmente não enxergam o ganho subjetivo que a chegada de uma criança pode representar, listo outros ganhos (objetivos) que pais e mães recentes, certamente, acrescentam ao currículo. Estou certa de que, para além de todos os outros benefícios, a maternidade é o melhor, mais rápido e mais intenso MBA disponível no mercado. Com ela se aprende:
1. Liderança
Filhos transformam famílias em equipes. A chegada de um bebê abre o espaço para colaboradores externos (babás, professores, pediatras) e internos (avós, tios, amigos). Uma oportunidade para desenvolver a capacidade de treinar staff, fornecer feedbacks, formar sucessores (ainda que temporários).
2. Foco no desempenho da tarefa
Com uma criança pequena em casa, é preciso ter atenção seletiva, estar focada nos cuidados com ela, mesmo tendo muitos outros estímulos a sua volta. Da temperatura da água do banho até a escolha da creche, tudo adquire importância. É um exercício constante entre a big picture e o mínimo detalhe.
3. Gerenciamento do tempo
Filhos demandam uma reengenharia de tempo. Como o recurso é escasso, aprende-se a fazer uma vez só e bem feito.
4. Capacidade de antecipar problemas e prever soluções
Casas com um bebês pequenos demandam logística e planejamento de grandes empresas. Basta imaginar que uma criança se alimenta de três em três horas (em média), no intervalo entre mamadas é preciso fazer caber a troca de fraldas, os banhos e o sono, além dos banhos, sono e alimentação da prórpia mãe. Quando se opta pela livre demanda o planejamento precisa ser ainda maior. Soman-se a essa agenda o reabastecimento, limpeza e organização da casa, o preparo das refeições e caso você tenha filhos mais velhos… Cansei só de pensar
5. Networking
A chegada dos filhos expande a rede de relacionamentos da família. Entram no roteiro os pais de amigos da escola, do inglês, da natação, do parquinho… a lista é infinita. É um momento em que estamos atentos a outras trajetórias e desenvolvemos naturalmente a capacidade de criar e cultivar novos vínculos.
6. Mentoria (da clássica à reversa)
Mães estão sob um exercício constante de orientação. Tanto ouvindo as experiências de outras mulheres (seja para se inspirar positivamente, seja para resolver como não fazer) como perseguindo uma escuta mais sensível para as necessidades e os desejos do bebê. Como chora quando está com fome, com sono, como gosta disso ou daquilo.
7. Jogo de cintura e damagecontrol
Assim como o networking, expande-se também a exposição a situações potencializadoras de conflitos. Você já esteve em uma reunião da escola onde a pauta é uma criança que bate nos coleguinhas? Já se viu obrigado a intervir em uma lista de convidados para um aniversário do segundo ano, do qual somente um aluno (seu filho) não foi chamado? Já precisou consolar uma criança que acaba de ter seu balão estourado? Se não, querida, você não sabe o que significa contenção de danos de verdade.
As empresas que não reconhecerem este MBA estarão perdendo grandes oportunidades. Não é à toa o número crescente de mulheres empreendedoras no Brasil, criando novos mercados, novas lógicas de trabalho, acrescentando dígitos às suas contas bancárias. Certas!
* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessàveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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