Por muito tempo acumulei uma lista longa de prioridades. Na primeira linha, estavam meu desejo de ver minhas filhas crescerem, de ser uma mãe boa, o suficiente (viva Winnicott!) para elas, de criar um ambiente agradável em nossa casa, de estar presente e inteira para o Henri, meus pais, sobrinhos, minha família e amigos, de estar satisfeita com o meu trabalho, de manter a leitura em dia, de isso e de aquilo…
Semana passada completei quarenta anos. Estas datas nos fazem pensar e, na carona das reflexões de aniversário, uma pergunta não saiu da minha cabeça: o que de fato quero para mim?
Meu desafio era responder com um só item. Unzinho. Decidi que quero estar saudável. Saudável para poder escolher. Saudável para trabalhar e amar. Saudável para me aproximar dos meus desejos. Inclusive da lista que acabei de compartilhar acima.
Arrumei as malas das meninas, as minhas e convidei, de supetão, todos para uma temporada em um spa. Sempre tive essa vontade. Uma semana para comer leve, descansar, fazer exercício, dormir e acordar cedo. Uma viagem sem compras, sem agenda, sem ingressos, sem pontos turísticos, sem planejamento, sem aeroporto. Um passeio para nós quatro. Toparam. Fomos. Foi lindo.
Escolhemos o SpaMed Sorocaba, pertinho de São Paulo (90 km) e com todo o suporte que precisávamos. De fato cumprimos o plano de cama, mesa e tapetinho de ioga. Mas enxerguei a cada dia que passava, que a saúde é um conceito mesmo muito amplo.
Fui testemunha da saúde estampada nos olhos da minha filha mais nova que experimentou a liberdade de pegar a chave de nosso quarto pela manhã e sair livre pelas áreas verdes do local, vivenciando a possibilidade de decidir quando e aonde ir. A delícia de sentir-se segura e livre.
Observei as intermináveis partidas de pingue-pongue entre minha filha mais velha e seu pai que, entre risos e provocações, mantiveram o equilíbrio do ir e vir da bolinha, ajustaram velocidade e força para fazer o jogo durar. Transpiravam os dois a alegria de sustentar uma parceria.
Vi de perto o bem que me faz estar também um pouco sozinha e quieta entregue ao sol, à leitura ou às braçadas. Nadei a vida inteira e ainda não tinha me dado conta que na natação o que me atrai de verdade é a minha companhia e o silêncio. Entendi que perdi o medo de gostar de mim.
Foi uma temporada de calmaria ainda que tenha sido, talvez, uma viagem das mais intensas. Noves fora, a saúde ainda reina (e me parece que reinará por muito tempo) sendo o desejo pelo qual lutarei. A saúde ampla que nos assegura a liberdade, o amor e a honestidade de ser quem somos. É também o meu desejo para vocês e para os meus.
* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessàveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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