A proposta de retirar a Filosofia como disciplina obrigatória do ensino médio e transformá-la ou “diluíla” junto com sociologia, geografia e história, na área de Ciências Humanas e Ciências Aplicadas, começou lá atrás em dezembro de 2016, quando o Plenário da Câmara dos Deputados votou emendas ao texto da medida provisória (MP) que flexibiliza o ensino médio, considerada a fase mais problemática do ensino brasileiro. Ressalte-se, que dos 330 deputados presentes na sessão, 324 concordaram com a emenda.
Agora, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) confirmou essa emenda, com o nome de “reforma do ensino médio”, retirando a Filosofia como disciplina obrigatória. Desta forma, em menos de uma década, a Filosofia volta a situação execrável de papel secundário no curriculo das disciplinas de ensino médio.
Ao que parece, voltou o entendimento, pelo menos pelo prisma do Congresso Nacional, de que a Filosofia é uma forma de SABER perigoso nas mãos dos cidadãos comuns. Então, cai por terra a medida reparadora do Conselho Nacional de Educação (CNE) quando em 2007 inseriu a Filosofia, como disciplina obrigatória, no Ensino Médio, dando ao jovem brasileiro a oportunidade de não ser presa fácil de sistemas perversos e dos problemas sociais experimentados pelos brasileiros.
Por outro lado, desculpem o cacoetes de linguagem, essa medida retrógrada mostra que o mundo esta vivendo uma nova ordem para tudo e para todos. E mais: Mundo que se nega a pensar as suas atitudes diárias…mundo em que a maioria das pessoas são carentes de “veia” epistemológica, especialmente nos conhecimentos humanísticos: (históricos e sociais). Formação do espírito humano alicerçada pela cultura literária ou científica. A propósito, outro dia ouvi de um especialista em economia, que fazia parte da “bancada” duma dessas comissões do Senado da República, a asseveração inflamada, que devemos esquecer o passado e pensar no futuro. Só esqueceu de dizer qual é a premissa ou a evidência para se pensar o futuro, quando todos deveriam saber que a base do futuro passa, necessariamente, pelo passado!
Provavelmente, os que “derrubaram” o privilégio de se estudar filosofia, como disciplina obrigatória, no ensino médio, se inserem neste suposto diálogo, num supermercado, entre duas mulheres amigas. Uma disse à outra: “O que é que há com você? Parece tão preocupada!”
“E estou mesmo”, respondeu sua amiga; “não paro de pensar na situação do mundo”.
“Bem”, disse a primeira senhora, “é melhor você levar as coisas mais filosoficamente… e pare de pensar!”
É realmente simplória essa idéia de que a maneira de se tornar “mais filosófico” é pensar menos. Na realidade estas duas senhoras estavam refletindo o espírito antiintelectual moderno, que produz pessoas que desistiram de pensar. Talvez em razão dessa idéia herética é que Pedro Demo, professor aposentado, tenha feito a seguinte afirmação: “O novo analfabeto não é o que não sabe ler e escrever, mas o que não pensa”.
No Brasil, a taxa de desemprego é de 12,2%, dados do período de novembro de 2017 a janeiro de 2018 (IBGE). São quase 13 milhões de desempregados, verdade inegável. Mas o que poucos sabem é que existem 70 milhões de pessoas adultas, na maioria jovens, que não querem “emprego” ou “trabalhar”, pois vivem na informalidade aplicando “golpes” os mais diversos, via redes sociais, naqueles que trabalham. Pensar para que? Estudar assuntos humanísticos por quê? Esse é o mundo de hoje!
Estou entre os que crêem, que estudar filosofia ainda é um bom caminho: Primeiro, porque livra a mente dos preconceitos abusivos, bem presentes neste mundo dos espertos virtuais e; Segundo, por que ensina princípios para a ação correta. Mas, o que é pensar corretamente? É pensar à luz de preceitos universais, que diz que ROUBAR e MATAR são crimes em qualquer mundo possível!